CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

Teoria

A Tática de Luta de Classe do Proletariado

1620847_504953509622027_1331717649_nCamaradas,

Publicamos abaixo, do artigo de Lênin “Karl Marx”, de 1914, o capítulo “A Tática de Luta de Classe do Proletariado”.

Esse texto se soma a outros já publicados no blog, como Sobre as Greves, com o objetivo de destacar a ofensiva da luta das massas exploradas no Brasil e a necessidade da resistência operária frente a sua exploração pela burguesia; e o recém publicado sobre a greve dos operários da Volks-Anchieta A Luta Operária Contra a Exploração Capitalista e o Sindicalismo de Parceria com o Capital e o Governo onde demonstramos que, a partir do exemplo da luta dos operários dessa montadora, existem

“duas posições distintas: a da direção sindical, de viabilizar a redução dos custos salariais e o aumento dos lucros dos patrões, apresentados como garantia do emprego, comprovando na prática, mais uma vez, o seu peleguismo; e a da classe operária, centrada na luta e enfrentamento da exploração.”

Nossa intenção com o conjunto desses textos é destacar a possibilidade e a necessidade do desenvolvimento da posição proletária na luta da classe operária, da resistência dos trabalhadores aos interesses do capital a partir de sua situação concreta, desenvolvimento que se dá, entre outras coisas, no aprofundamento da crítica à prática tanto dos pelegos quanto dos esquerdistas que tentam rebaixar a luta dos trabalhadores para o campo do reformismo, do cretinismo parlamentar, do dogmatismo.

Como afirmam Lenin e Marx,

(…) uma das principais lacunas do velho materialismo, era a de não saber compreender as condições nem apreciar o caráter revolucionário da atividade prática. (…) uma atenção especial às questões de tática de luta de classe do proletariado. (…)sem este aspecto, o da atividade prática, Marx considerava o materialismo, de fato, como incompleto, unilateral e sem vitalidade.

Cem Flores.

A Tática de Luta de Classe do Proletariado

Tendo, desde 1844-1845, descoberto uma das principais lacunas do velho materialismo, que era a de não saber compreender as condições nem apreciar o caráter revolucionário da atividade prática, Marx dedicou, durante toda a sua vida, paralelamente aos seus trabalhos teóricos, uma atenção especial às questões de tática de luta de classe do proletariado. Todas as obras de Marx fornecem a este respeito uma rica documentação, em particular sua correspondência com Engels, publicada em 1913, em quatro volumes. Esta documentação está ainda longe de ter sido inteiramente recolhida, classificada, estudada e aprofundada. Por isso, devemos limitar-nos, aqui, às observações mais gerais e breves, considerando, entretanto, que, sem este aspecto, o da atividade prática, Marx considerava o materialismo, de fato, como incompleto, unilateral e sem vitalidade. Marx determinava a tarefa essencial da tática do proletariado de modo rigorosamente baseado nas premissas de sua concepção materialista-dialética. Somente o estudo objetivo do conjunto das relações de toda as classes, sem exceção, de uma determinada sociedade, com o consequente conhecimento do grau objetivo do desenvolvimento desta sociedade e das relações dela com as outras, pode servir de base para uma tática justa da classe de vanguarda. Além disso, todas as classes e todos os países são considerados, não sob o seu aspecto estático, mas sob o aspecto dinâmico, isto é, não no estado de imobilidade, mas em movimento (movimento cujas leis derivam das condições econômicas de existência de cada classe). O movimento é, por seu lado, considerado, não somente do ponto de vista do passado, mas também do futuro, e não de acordo com a concepção vulgar dos “evolucionistas”, que não percebem senão as lentas transformações, mas sim, dialeticamente:

“Em grandes épocas históricas, desta espécie, vinte anos equivalem a um dia, escrevia Marx e Engels, enquanto que podem aparecer dias que concentram em si vinte anos”.

Em cada grau de desenvolvimento, em cada momento, deve a tática do proletariado ter em conta esta dialética objetivamente inevitável da história da humanidade: por um lado, utilizando e desenvolvendo a consciência, as forças e a capacidade de luta da classe de vanguarda, durante as épocas de marasmo político, isto é, de desenvolvimento pretensamente “pacífico”, que avança a passo de tartaruga; e, por outro lado, orientando-se em todo esse trabalho preparatório, no sentido do “objetivo final” desta classe, tornando-a capaz de resolver praticamente as grandes tarefas que lhe estão reservadas, nas grandes jornadas que “concentram, em si, 20 anos”. Duas dissertações de Marx são particularmente aqui aplicáveis. A primeira delas, em A Miséria da Filosofia, refere-se à luta econômica e às organizações econômicas do proletariado; a outra, no Manifesto do Partido Comunista, refere-se às tarefas políticas do proletariado.

A primeira está assim enunciada:

“A grande indústria concentra, num só lugar, uma massa de indivíduos desconhecidos uns dos outros. A concorrência os divide segundo os seus interesses, mas a existência do salário, este interesse comum que eles têm contra o seu patrão, os reúne num só pensamento de resistência — coalizão… As coalizões, embora isoladas, formam agrupamentos e, frente ao capital unido, a existência da associação torna-se mais necessária aos operários, do que a do próprio salário… Nesta luta — verdadeira guerra civil — agrupam-se e desenvolvem-se todos os elementos necessários a uma inevitável batalha. Uma vez chegada a este ponto a associação adquire um caráter político”(1).

Temos aqui o programa e a tática da luta econômica do movimento sindical, por alguns decênios, por todo o longo período de preparação do proletariado “para a inevitável batalha”. Convém ligar a esta, as numerosas indicações de Marx e Engels sobre o movimento operário inglês, que lhes serviu de exemplo, mostrando como a “prosperidade” industrial suscita nas classes dominantes as tentativas de “comprar o proletariado”, de afastá-lo da luta. Mostra-nos, também, como o proletariado inglês se “aburguesa”, como a “a nação mais burguesa de todas” (a nação inglesa) “parece querer, afinal, possuir, ao lado da burguesia, uma aristocracia burguesa e um proletariado burguês”; como “a energia revolucionária” desaparece nesse proletariado; como será preciso um prazo mais ou menos longo, para que “os operários ingleses se desembaracem de sua aparente contaminação burguesa”; como “o clã dos cartistas” está fazendo falta ao movimento operário inglês; como os lideres operários ingleses se tornaram uma espécie de tipo intermediário “entre a burguesia radical e o operário”; como, finalmente, em virtude do monopólio da Inglaterra e na proporção em que este monopólio subsista, “o operário inglês não se agitará”. A tática da luta econômica, ligada à marcha geral e à solução do movimento operário, é aqui examinada sob um ponto de vista admiravelmente amplo, universal, dialético e eminentemente revolucionário.

O Manifesto do Partido Comunista enunciou para a tática da luta política o princípio fundamental do marxismo:

“Eles (os comunistas) combatem pelos interesses e objetivos imediatos da classe operária, mas, na etapa atual, eles defendem e representam, ao mesmo tempo, o futuro do movimento”(2).

Baseado nisso, Marx prestigia em 1848, na Polônia, o partido da “Revolução Agrária”, “isto é, o partido que fez, em 1846, a insurreição de Cracóvia”(3). Em 1848-49, Marx defende, na Alemanha, a Democracia Revolucionária Extrema e nunca se retratou do que então havia dito a respeito da tática. Considerava a burguesia alemã como um elemento “inclinado, desde o início, a trair o povo” (só a aliança com o campesinato, poderia permitir à burguesia atingir completamente os seus fins) “e a concluir compromissos com as cabeças coroadas da velha sociedade”. Vejamos a análise final, feita por Marx, da situação de classe da burguesia alemã na época da revolução democrático-burguesa. Esta análise é, além disso, um exemplo da aplicação do materialismo que considera a sociedade em seu movimento e não apenas o aspecto do movimento voltado para o passado…

“Sem fé em si mesma, sem fé no povo; murmurando contra os grandes, tremendo diante dos pequenos… Tomada de medo diante da tempestade mundial; não manifestando energia em nenhuma direção, imitando sempre, em todos os sentidos… sem iniciativa… velha maldita, condenada pelos seus próprios interesses senis, a dirigir os primeiros elãs juvenis de um povo robusto…”(4).

Quase 20 anos depois, numa carta a Engels, Marx escrevia que a causa do fracasso da revolução de 1848 foi que a burguesia preferiu a paz na escravidão à sua única perspectiva de combater pela liberdade. Passado aquele período de revolução (1848-1849), Marx opôs-se à toda tentativa de brincar com a revolução (luta contra Schapper, Willich)(5), exigindo que se soubesse trabalhar, na nova época que, já preparava, sob uma “paz” aparente, novas revoluções. O seguinte trecho de Marx sobre a situação da Alemanha em 1856, época da mais negra reação, mostra com que espírito entendia que se devia realizar este trabalho:

“Tudo dependerá, na Alemanha, da possibilidade de defender a revolução proletária com uma espécie de segunda edição da guerra dos camponeses” (Correspondência entre K. Marx e F. Engels).

Enquanto não se completou, na Alemanha, a revolução democrático-burguesa, Marx fixou toda a sua atenção em matéria de tática do proletariado socialista, sobre o desenvolvimento da energia democrática do campesinato. Achava que a atitude de Lassalle era “objetivamente uma traição para com o movimento operário, em proveito da Prússia”, justamente porque favorecia, entre outros, aos agrários e ao nacionalismo prussiano.

“Num país essencialmente agrícola como a Prússia, é uma baixeza (escrevia Engels, em 1855, no decorrer de uma troca de ideias com Marx, com relação a um projeto de declaração comum na imprensa) lutar, em nome do proletariado industrial, unicamente contra a burguesia, sem mesmo fazer alusão à exploração patriarcal e às marretadas que sofre o proletariado rural da grande nobreza feudal”(6).

No período de 1864 a 1870, quando chegava ao seu termo a época da revolução democrático-burguesa na Alemanha, quando as classes de exploradores da Prússia e da Áustria disputavam os meios de realizar essa revolução, de cima para baixo, Marx não se limitava a condenar Lassalle pelo seu namoro com Bismarck, mas criticava também Liebknecht que se desviava numa “austrofilia” e defendia o particularismo; Marx preconizava uma tática revolucionária que combatesse tanto Bismarck como os austrófilos, uma tática que não se adaptasse ao “vencedor” — Junker Prussiano — mas que recomeçasse, imediatamente, a luta revolucionária contra esse, exatamente no terreno criado pelas vitórias militares da Prússia. Na célebre mensagem inaugural da Internacional, em 9 de setembro de 1870, Marx alertava o proletariado francês contra uma insurreição prematura, mas, quando sobreveio, (1871), Marx saudou com alegria a iniciativa revolucionária das massas “que iniciam o assalto ao céu”(7).

A derrota do movimento revolucionário, nesta situação, como em inúmeras outras, foi, segundo o materialismo dialético de Marx, dos males o menor, do ponto de vista da tendência geral e das finalidades da luta proletária. Seria bem pior se se desse o abandono das posições ocupadas, a capitulação sem combate; uma tal capitulação teria desmoralizado o proletariado, teria minado a sua combatividade. Embora justificando plenamente o emprego dos meios legais de luta, nos períodos de marasmo político e de dominação da legalidade burguesa, Marx condenou, com muito vigor, em 1877-78, após a promulgação da lei de exceção contra os socialistas, a “frase revolucionária” de um Most. Criticou, com o máximo de energia, o oportunismo que se tinha apossado, momentaneamente, do partido social-democrata oficial, que não soube dar suficientes provas de coragem, tenacidade e de espírito revolucionário e de se mostrar capaz, em resposta à lei de exceção, de passar à luta ilegal.

Compartilhe
- 03/03/2015