CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

Conjuntura, Cultura, Lutas, Mulher, Nacional

O exército de mulheres da ALN

Reproduzimos nessa publicação matéria jornalística de Renato Dias que saiu no site Diário da Manhã.

Exército de mulheres da ALN

Setor de inteligência era de duas mulheres.

  • Zilda Paula Xavier desempenhou papel-chave no estabelecimento de contatos no campo, para organizar a partida e o financiamento ao Araguaia, Mato Grosso e Pará
  • Setor de inteligência era de duas mulheres. Iara Xavier Pereira, a locutora da Rádio Libertadora. Ana Maria Nacinovic, além de metralhar, desenhava para os periódicos
  • Ações armadas iam desde assaltos a supermercados, carros de valores, radiopatrulhas, bancos, cirúrgicas, cabeleireiros, drogarias, relojoarias a postos policiais
  • Clara Charf integrou o PCB, foi pombo-correio, presa em 1954, em Campinas, viajou a Cuba em 1962, Moscou, 1963. Nunca teve armas. Nem aprendeu a atirar

Zilda Paula Xavier Pereira. É o nome da coordenadora da ALN, no Rio de Janeiro. Mulher escalada para montar o apoio logístico de Carlos Marighella. Quem informa com exclusividade ao Diário da Manhã é Maria Clau­dia Badan Ribeiro em Mulheres na Luta Armada: Protagonismo Femi­nino na ALN, 572 páginas, Alameda Editora, R$ 90,00. A revolucionária, de linhagem marxista, não se limi­tou apenas a coordenar a organiza­ção no Rio, aponta.

– A guerrilheira, que morreu na data em que completava 90 anos de idade, assumiu ainda múlti­plas funções políticas, operacio­nais e ideológicas.

A autora revela ter sido ela que comunicara a posição contrária de Carlos Marighella, carboná­rio baiano filho de um italiano de olhos azuis com uma negra da etnia Haussá, em Cuba, à época em que a G-2 queria impedir o treinamento de mulheres à guer­rilha rural. A ativista levou à ALN Antonieta Campos da Paz, Ma­ria do Carmo e Maria Cerquei­ra. Mulheres que se engajaram ao lado da figura carismática do autor do Minimanual do Guer­rilheiro Urbano.

– Mas também em função da ca­pacidade de liderança de Zilda Pau­la Xavier Pereira.

Zilda Paula Xavier Pereira, Iara Xavier e Arnaldinho

Mãe de Alex Xavier Pereira, Iuri Xavier Pereira e Iara Xavier Pereira, a ‘semeadora de sonhos’ desem­penhou papel-chave no estabe­lecimento de contatos no campo. Como organizar a partida e o finan­ciamento de militantes para as re­giões do Araguaia, Mato Grosso e Pará. Pessoa de extrema confian­ça de Carlos Marighella, era a res­ponsável pela comunicação entre Cuba e Brasil, relata. Para o envio de militantes que treinariam guer­rilha na Ilha, explica.

– Zilda Paula Xavier Pereira levou o Minimanual do Guerrilheiro Ur­bano para o exterior e recolheu, em Havana, em 1970, uma doação em dólares da Coreia do Norte.

A militante, que queria fazer no Brasil como em Cuba, em 1º de ja­neiro de 1959, derrotar uma dita­dura civil e militar, expulsar o im­perialismo, construir o socialismo e exportar a revolução para a Amé­rica Latina, como o internaciona­lista Ernesto Guevara de La Serna, médico argentino, ‘nom de guer­re’ El Che, incumbiu-se da volta do treinamento do II Exército da ALN [Ação Libertadora Nacional]. Em cooperação ativa com a deno­minada ‘Rede Vinicius’.

– Liderada por um ex-militante da Coluna de Che Guevara, Alfre­do Moles, argentino, que se encar­regava de uma base de salvamen­to, alimentação e embarcamento da guerrilha.

O acordo havia sido estabeleci­do, em Havana, Cuba. Em um fó­rum entre Alfredo Moles, Joaquim Câmara Ferreira e militantes latino­-americanos, registra Maria Clau­dia Badan Ribeiro. No ano de 1967. A ideia da base é de Che Guevara, que pretendia ir ao Brasil. Como anota Régis Debray, entrevistado pela escritora. Assim que se esta­beleceu, na Argentina, uma base para organizar o cruzamento de fronteiras entre os países do sul, observa a pesquisadora

– Para fabricar documentos fal­sos, passar armas e alojar em Bue­nos Aires militantes em trânsito. Mo­nitorados por Havana e controlado por ‘Toledo’ e Zilda Xavier Pereira

A ‘Rede Vinícius’, com concen­tração em Buenos Aires, foi assim batizada em homenagem a Vinícius de Moraes. Músico popular naque­les tempos sombrios. Tanto no Bra­sil, sob uma ditadura civil e militar desde 1º de abril de 1964, quanto na Argentina, que serviu como pombo para a ALN. A ‘Rede Vinicius’ pros­perou e salvou a vida de uma cen­tena de companheiros, atira. Zilda Paula Xavier Pereira teve um papel estratégico no trânsito, metralha.

– As primeiras mulheres a faze­rem parte da ALN foram as mili­tantes ligadas ao PCB.

Não é possível dimensionar, porém, o número de mulheres da ALN no Brasil e no exterior, decla­ra. A ação das mulheres na resis­tência a partir de números, diag­nostica. A autonomia operacional da própria organização, sua hori­zontalidade e a decisão individual de seus quadros em aceitar correr riscos naquela conjuntura – com­pondo um setor de apoio presen­te, mas, ao mesmo tempo descon­tínuo – deram à atuação da ALN caráter espontâneo.

– Os processos na Justiça Militar, embora informem sobre o número de pessoas detidas, julgadas, con­denadas e anistiadas, não seriam uma documentação confiável.

Os documentos contam mais a história da repressão do que a tra­jetória dos militantes, crê. Assim como a violência repressiva e ar­bitrária da ditadura do que a his­tória da esquerda armada, avalia em sua tese de doutorado. É uma documentação que mostra como funcionavam as estratégias de pre­servação de informações de ambos os lados, conceitua. “Para enten­der o Estado repressor e seus arti­culadores, é uma documentação de suma importância”

– Com nomes de torturadores, juízes militares e civis que traba­lharam a serviço do regime, de le­gistas que assinaram laudos falsos, de militares da baixa e alta patente que serviam como testemunhas de defesa dos réus, de funcionários do presídio, escrivães, de pessoas que faziam a escolta, prêmios e promo­ções recebidas na época.

De 1966 a 1973, as ações arma­das envolviam a preparação, exe­cução e fuga, conta. Mulheres fi­zeram parte, narra. Num assalto a banco, por exemplo, as mulhe­res faziam a interna, rendiam os funcionários e levavam o dinhei­ro, se encarregavam do levanta­mento do local, entradas, saídas, seguranças, movimento do caixa, ajudavam a transportar o dinhei­ro, escondiam o malote de dinhei­ro em lugar seguro, faziam a exter­na da ação, confidencia.

– Funcionavam também como olheiras nas ruas no caso de chegada da polícia e da necessidade de reação.

A historiadora Maria Claudia Badan Ribeiro afirma que as ações armadas iam desde assaltos a su­permercados, carros de valores, ra­diopatrulhas, bancos, cirúrgicas, cabeleireiros, drogarias, relojoa­rias até a postos policiais. Na vida da militância armada, a ação fazia parte do cotidiano, insiste. Não cus­ta lembrar: nos anos 1960 e 1970, o lema da luta armada contra os donos do poder era ‘o dever de todo revolucionário é fazer a revolução’.

– Clara Charf trabalhou na Aero­vias do Brasil. Mais: integrou o PCB. Pombo-correio. Conheceu Carlos Marighella quando ele era parla­mentar. Militava no movimento de mulheres. Seção Feminina do PCB. Presa em 1954, em Campinas. Fun­dadora e integrante da Liga Femi­nina da Guanabara, em 1959. Foi à Cuba em 1962. Moscou, 1963. Nun­ca teve armas. Nem aprendeu a ati­rar. A revolucionária fazia ação defi­nida como de apoio tático da ALN.

Aurora do Nascimento Furtado, Isis Dias de Oliveira, Tânia Fayal, Gastone Lúcia Beltrão, Eliane Po­tiguara, Lídia Guerlenda, Guiomar Silva Lopes, Maria Aparecida Costa, Maria Aparecida Santos, Ana Maria Nacinovic, Ana Bursztyn, Sônia Fer­reira Lima, Walderês Nunes Lourei­ro, Jessie Jane, Ana Corbisier, Maria AugustaThomaz, Moema SãoThia­go, Maria do Amparo Araújo, Susa­na Lisboa, Tânia Mendes estiveram em ações dessa natureza, fuzila.

– Ações como na empresa Erics­son, do Banco Nacional da Lapa e do Banco Bradesco na Vila Mariana, ocorreram na capital paulista com a participação de mulheres.

TIROTEIO PESADO

Um tiroteio pesado ocorreu na Vila Prudente, diz. A ALN distribuía panfletos pela Campanha Pelo Voto Nulo. O primeiro tiroteio de Ana Maria Nacinovic, frisa. Guiomar Sil­va Lopes, Maria Augusta Thomaz e Elza Regina Solitrenick participa­ram, por exemplo, da tomada da Rádio Nacional, relata. A Operação Clandestina e Armada anunciava, publicamente, o desencadeamento da tão sonhada guerrilha rural pela Ação Libertadora Nacional, a ALN.

– As mulheres abrigaram em suas casas cursos de explosivos, ro­davam material político para dis­tribuição nas universidades e nas fábricas, realizavam levantamen­tos, atuavam como pombo-correio no interior das prisões e como por­tadoras de mensagens aos quadros da ALN que atuavam no exterior. O panfleto distribuído no justiçamen­to de Henning Albert Boilesen, di­namarquês que financiava a tor­tura, foi escrito por uma mulher.

O setor de inteligência da or­ganização estava entregue tam­bém a duas mulheres. Em tem­po: jovem, Iara Xavier Pereira era a locutora da Rádio Libertadora. Já Ana Maria Nacinovic, além de carregar metralhadora, desenha­va para os periódicos da ALN, es­clarece. Tânia Mendes recolhia in­formações sobre a contribuição de dinheiro das empresas para a Oban, registra. Além de Darci Mi­yaki, que fez treinamento militar. Na Coréia do Norte e em Cuba.

– Antonieta Campos da Paz es­condia os malotes de dinheiro re­tirados das expropriações de ban­co e abrigava gente perseguida em sua casa no Horto no Rio de Janeiro.

A escritora Maria Claudia Badan Ribeiro diz que a recomendação dada aos militantes da ALN pelos seus dirigentes e para as mulheres era não falar, ou falar o mínimo em caso de prisão. Para assumir ações com menores implicações, como roubo de perucas, expropriações em supermercados, do que ser autora de captura de avião, de um embaixador estrangeiro, de um ministro ou de um funcio­nário de governo. Sob tortura não há manuais, descreve.

– As mulheres da ALN exerceram, sim, posturas revolucionárias.

Apenas dois juízes consi­deraram a necessi­dade de reali­zação de exame de corpo de delito para comprovação de tortura, re­lata. As mulheres foram penaliza­das tão ou mais que os homens, garante. Com os seus nomes en­volvidos em episódios que não correspondiam à verdade, ataca. As penas que elas receberam nem sempre refletiram sua militância nos grupos armados, dispara no livro ‘Mulheres na Luta Armada: Protagonismo Feminino na ALN’.

– Mulheres que tiveram menor implicação nos processos, detidas e liberadas pouco tempo depois, pres­taram contribuições, fundamentais para que a ALN continuasse a existir.

Ela detectou, na documentação, nomes de 172 mulheres que foram julgadas pelo Conselho Permanen­te de Justiça e 89 suspeitas de “sub­versão”. Estimativa do Brasil Nun­ca Mais, tendo apenas a ALN como objeto, somam-se 722 réus. Além de 262 pessoas indiciadas na fase de inquérito. As prisões não eram re­gistradas, a não ser que o processo fosse instaurado e a pessoa conde­nada. Ser alvo de processo também não era garantia de vida, denuncia.

– O número de presas é impossí­vel saber. O sigilo interessava ao Es­tado. As pessoas eram sequestradas nas ruas por agentes à paisana, ou com nome encoberto, e as prisões fei­tas de maneira clandestina.

Maria Augusta Tomaz

TERRAS À GUERRILHA

Documentos da repressão po­lítica e militar [1964-1985] con­têm contratos de compra de terra anexados aos processos em locais como Vitória de Santo Antão (PE) e São Félix do Araguaia (MT). Mi­litantes utilizaram estruturas fa­miliares e de sua rede de amiza­des para esconder clandestinos, documentação comprometedora, armas e explosivos. “Não dá para medir o grau de extensão da ALN pelo número de aparelhos ou es­truturas que ela manteve”.

– Por ser uma estrutura clan­destina e horizontal, o número de militantes da ALN não era conta­bilizado em papel.

Ilda Gomes da Silva, viúva de Virgílio Gomes da Silva, o primei­ro desaparecido político do Bra­sil, em 1969, recém-saída da pri­são, não apenas era perseguida nas ruas como não conseguia empre­go, ataca. Como Isaura Coqueiro. Lídia Guerlenda foi para Cuba em 1972 após de perder a mão na ex­plosão de uma granada. Derley Ca­tarina de Luca, caçada no Brasil, se refugiou em Cuba, onde viveu por seis anos, registra a pesquisadora dos ‘anos de chumbo’.

– Sem intenção de voltar ao Brasil ou realizar treinamento militar, Ma­ria Aparecida Horta ficou na ilha de 1973 a 1979. Marília Guimaraes che­gou à ilha com seus dois filhos, de­pois dela e seu grupo desviarem um avião da Varig. Em janeiro de 1970.

Da ALN passaram por Cuba: Maria da Conceição Sarmento (II Exército), Gastone Lúcia Beltrão (II Exército), Iara Xavier Pereira (III Exército), Suzana Kniger Lisboa (III Exército), Isis Dias de Oliveira (II Exército), Ana Corbisier (III Exér­cito), Eliane Zamikowski (III Exér­cito), Darcy Miaki (II Exército), Ana Maria Palmeira (III Exército), Jane Vanini (III Exército), Maria Augus­ta Thomaz (III Exército), Maria An­gélica do Amaral (Corrente/ALN, III Exército), Tania Fayal (IV Exército).

– Moema São Thiago e Maria de Lourdes Rego de Melo estiveram em Cuba para estabelecer a comunica­ção como pombo-correio.

HAVANA, CUBA

Pelo menos 30 mulheres estive­ram em Cuba em diferentes mo­mentos, afirma. Para a repressão, capturarmilitantetreinadoem Cuba era um troféu, narra. A ordem era, voltou de Cuba, mate! Veiculado peloJornaldoBrasil, emmeadosdos anos 1990, um documento prove­niente da 2ª Seção, do Quartel Gene­ral da 5ª Região Militar, de 24 de ju­lho de 1972, encontrado no Arquivo Público do Paraná, listava 52 ques­tões definidas para interrogatórios.

– Para arrancar informações so­bre o treinamento cubano de quem retornava. Poucas pessoas sobrevi­veram ao interrogatório.

A tortura não poupou mulheres, desabafa Maria Claudia Badan Ri­beiro. Com estupros, os seios des­truídos, cabelos arrancados, den­tes quebrados, contínuas ameaças sobre a sorte de seus filhos, lamen­ta. Presas grávidas sofreram abor­tos, denuncia. A violência sexual de militantes, tanto de homens quan­to de mulheres, é pouco abordada no Brasil, diz. O estupro também apareceu como tema privado no interior das Clínicas do Testemu­nho, expõe o drama

– Integram a lista de mortas e de­saparecidas da ALN: Gastone Lúcia Beltrão, Isis Dias de Oliveira, Ana Rosa Kucinski, Jane Vanini, Ana Ma­ria Nacinovic, Aurora do Nascimen­to Furtado, Maria Augusta Thomaz, Ieda Delgado, Catarina Abi-Eçab.

A ALN funcionava de maneira horizontal, repete. Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira, funda­dores e coordenadores nacionais. A organização operava com Coman­dos Regionais. De São Paulo e Rio de Janeiro. Minas Gerais, Goiás, Brasí­lia, Paraná, Pará, Espírito Santo, Per­nambuco, Ceará. Uma tentativa de inserção no Rio Grande do Norte. A ALN se espraiou em municípios como Bauru, Sorocaba, Santos, Ma­rília, Ribeirão Preto e Campinas.

– Mulheres que ocuparam dire­ções: Zilda Xavier Pereira, Antonie­ta Campos da Paz, Maria de Lour­des Rego Mello, Maria Cerqueira, Ana Maria Nacinovic.

ERRO ESTRATÉGICO?

Crítica, Maria Claudia Badan Ribeiro define que o erro estraté­gico foi não ter resistido ao golpe de Estado civil e militar de 31 de março e primeiro de abril de 1964. É necessário compreender a dita­dura e o que ela custou à socieda­de brasileira, insiste. Sem conside­rar que a luta armada é parte das lutas a serem integradas à histó­ria brasileira e não descartada, dis­para. Não houve exatamente uma “crise do sujeito revolucionário”, teoriza a historiadora.

– Mas um pacto de silêncio. Um acordo sob a transição democráti­ca. Quando a plataforma de direi­tos humanos começou a prosperar e a influenciar parte da esquerda no exílio. A ser adotada no Brasil. Com poder mobilizador e reintegrador da sociedade, principalmente para que parcela da oposição ocupas­se as estruturas de poder, que aos poucos permitiu que ex-persegui­dos políticos fossem candidatos às eleições. Uma Estratégia.

As experiências radicais foram mantidas em silêncio, para acomo­darem-se aos supostos “novos ven­tos democráticos”. No final dos anos 1990, em uma crônica, Frei Bet­to afirmou que “ainda somos aca­nhados em matéria de resgate dos nossos anos de chumbo”. Fernando Gabeira, porém, o rotulou como o “o erro mais fascinante de uma ge­ração”. Precisamos nos perguntar que imaginário político queremos deixar, avalia Maria Claudia Badan.

– Alimentamos sempre uma cul­tura da derrota?

Uma “neutralização moral” pro­vocada por uma Anistia incomple­ta, conceitua. Os desaparecidos não voltaram, os culpados de atrocida­des ainda estão em liberdade e um projeto de Brasil foi destruído, ana­lisa. A distensão lenta, gradual e se­gura se realizou sob um poder di­tatorial camuflado, que mantinha uma política de extermínio a por­tas fechadas como um memorando recém-desclassificado da CIA veio mostrar, avalia de forma cáustica.

– Ernesto Geisel autorizou jun­to a João Baptista Figueiredo, chefe do SNI, que a execução de “subver­sivos” deveria continuar.

RUPTURA DA LUTA ARMADA

A luta armada propôs uma ruptura justamente em relação à cultura política que vivemos hoje, pontua. Não foi adotada apenas no Brasil, sublinha. Ela es­teve presente na América Latina repleta de ditaduras civis e mili­tares, desabafa. Uma resistência de larga escala e com enorme di­namismo internacional, frisa. O caso chileno mostra que, mesmo uma luta realizada por vias pací­ficas e com apoio de massas, não prosperou e foi golpeada, atira.

– Salvador Allende tinha dispo­sitivo militar e armas à sua disposi­ção e decidiu não usá-los. Do ponto de vista da História isso seria consi­derado o quê?

Precisamos discutir um sentido: o da conciliação de classes e o que isso implica, destaca Maria Claudia Badan Ribeiro, historiadora concei­tuada. Também se perguntar de que forma essa democracia, enquanto um valor universal vago foi capaz de anular do ideário socialista, afirma. Explicar o menosprezo democráti­co pela militância armada também parece insuficiente para compreen­der o que chamam de derrota ou de erro estratégico, metralha.

– Vivemos um retrocesso no Bra­sil em parte por não assumir nos­sas verdadeiras lutas, em não con­siderar a dimensão que elas tiveram para o país.

Assim como ao não ensinar aos jovens o que foi a ditadura civil e mi­litar no Brasil, indigna-se. Para ex­plicar como se perpetua historica­mente uma cultura de violência e de desigualdade, dispara. “Violência que permite, nos dias de hoje, sécu­lo 21, a existência de novos desapa­recidos, de discriminação crescen­te contra mulheres, negros e LGBTs e de uma justiça que como na épo­ca dos anos de chumbo, assume um papel de condutora do Estado.”

– A ditadura civil e militar foi der­rotada politicamente.

CONDIÇÕES DE VITÓRIA

A luta armada possuía, sim, condições de vitória, acredita a pesquisadora e autora de ‘Mu­lheres na Luta Armada: Protago­nismo Feminino na ALN’. Como? Se conseguisse romper seu isola­mento político e social, provoca­do não apenas por seus erros es­tratégicos, mas por uma repressão feroz, que contava com suportes do capital financeiro e industrial e com o poder de influência da im­prensa, que trabalhava a seu lado, com raras exceções, crê.

– Naquela situação alguém ti­nha, contudo, que lutar. Como diz Joel Rufino.

Os militantes enfrentaram uma força militar superior num contex­to desfavorável, da guerra fria. O Estado sequestrou, mutilou, assas­sinou, e controlou todos os meios de violência: armas, tropas, guar­das, prisões, vocifera. Agiu atra­vés de grupos paramilitares, de agentes do governo, de membros do sistema político, com recursos governamentais, de atores políti­cos externos, de chefes de bandos marginais, polícia, soldados, sicá­rios, relata a estudiosa do tema

– A ditadura civil e militar insti­tuiu a Pena de Morte na lei brasilei­ra, fotografava militantes na rua e elaborava relatórios de monitora­mento de pessoas.

***

Renato Dias, 50 anos de ida­de, graduado em Ciências Sociais, pela Universidade Federal de Goiás. Mais: pós-graduado em Políticas Públicas, pela mesma instituição de ensino superior, a UFG. Em tem­po: com curso de Gestão da Quali­dade, pela Fieg, Sebrae-GO e CNI. Além de jornalista pela Faculdade Alves de Faria, a Alfa. O repórter es­pecial do jornal Diário da Manhã e colaborador do www.brasil247.com é também mestre em Direito, Rela­ções Internacionais e Desenvolvi­mento pela Pontifícia Universidade Católica, a PUC de Goiás. É autor de 13 livros-reportagem, premiado por obras investigativas e reportagens de direitos humanos.

 

PERFIL

Nome completo: Maria Cláudia Badan Ribeiro

Formação: Bacharel em Letras, italiano e francês, pela Unesp; Mestre em Sociologia pela Unicamp; Doutora em História Social pela USP; Com estágio pós-doutoral pelo Instituto de Altos Estudos da América Latina [IHEAL/Sorbonne Nouvelle] e pelo Programa de Sociologia da Unicamp [IFCH/Unicamp].

Idade: 39 anos

Título do livro: ‘Mulheres na Luta Armada: Protagonismo Feminino na ALN’

Número de páginas: 572

Editora: Alameda

Preço do livro: R$ 90,00

Onde adquiri-lo: http://www. alamedaeditorial.com.br/livros-alameda/pre-venda-mulheres-na-luta-armada

Site da Livraria da Travessa: https://www.travessa.com.br/Maria_Claudia_Badan_Ribeiro/ autor/8e8cb55a-018d-48ec-a656- f9dfcd390c5e

 

CRONOLOGIA

1922 PCB é fundado

1964 Golpe de Estado

1966 Ruptura no PCB

1967 Conferência da OLAS

1969 Morre Carlos Marighella

1970 Zilda Paula Xavier em Cuba

1973 Iara Xavier deixa Brasil

1976 Golpe na Argentina

1979 Anistia é aprovada

1990 Aberta Vala de Perus

2012 Comissão da Verdade

2014 Relatório final da CNV

 

A matéria original pode ser acessada aqui.

Compartilhe
- 19/08/2018