Luta de Classes e a Linha de Massas dos Comunistas.
Cem Flores
12.10.2021
“Nesse caso, o que se deve fazer?
Os comunistas, claro, não têm que inventar lutas especiais. Temos que estar presentes nas lutas reais, por pequenas e limitadas que sejam nos seus objetivos: contra o desemprego, o trabalho precário, o agravamento constante das condições de saúde, habitação, ensino, a sobreexploração e opressão da mulher; nos movimentos contra a impunidade dos capitalistas e a onda mafiosa e corrupta que é hoje a política burguesa; nos protestos contra as expedições militares imperialistas e a montagem do Estado policial…
Sabemos que a revolução só se constrói a partir do movimento real e não a partir de modelos por nós inventados”.
Francisco Martins Rodrigues. Ação Comunista em Tempos de Maré Baixa
Recentemente, o Cem Flores participou da mesa de debate sobre ação sindical, linha de massas e a atuação dos comunistas no ciclo de palestras e debates A Atualidade do Pensamento de Francisco Martins Rodrigues. O texto abaixo é a versão revisada da intervenção que realizamos naquele evento, fruto do debate interno sobre esses temas.
A ação prática e cotidiana dos comunistas e sua linha de massas são aspectos de nossa atuação concreta que é preciso estudar permanentemente, praticar constantemente, avaliar nossos erros e acertos de maneira autocrítica e coletiva e, assim, ir construindo nossa ação conjunta com as massas na luta de classes. Essas necessidades são ainda maiores devido ao peso da ideologia burguesa e os graves desvios que ela causa na luta das massas, ao predomínio do reformismo e do oportunismo nos sindicatos e organizações de massas e à prolongada ausência dos comunistas na ação de massas no país. Acreditamos que é dessa forma que se pode preencher essa importante lacuna na luta de classes atual, em direção a construir uma ação de massas verdadeiramente revolucionária, comunista.
Pedimos aos camaradas e leitores que leiam e debatam o texto abaixo e nos enviem suas críticas marxistas-leninistas, críticas comunistas. Que Cem Flores Desabrochem!
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Luta de Classes e a Linha de Massas dos Comunistas.
Cem Flores
Além das enormes contribuições de Lenin e de Mao Tsé-Tung, podemos dizer que os temas dessa mesa de debates têm tudo a ver com este seminário porque Francisco Martins Rodrigues (FMR) também nos deixou um conjunto de intervenções muito ricas sobre as lutas econômicas da classe operária, as lutas de massa, o movimento sindical e a atuação dos comunistas. Isso sem falar de sua própria atuação prática ao longo de décadas de militância comunista, cheia de exemplos e ensinamentos. No site do Cem Flores temos alguns desses textos, como Ação comunista em tempo de maré baixa, Notas sobre a linha sindical e Pode haver um sindicalismo revolucionário?. Convidamos os camaradas a tomarem esses textos a sério e buscarem refletir neles as questões concretas e atuais da atuação comunista nos locais de trabalho, de moradia, e onde quer que haja luta e organização da massa por melhores condições de vida.
Nesta nossa intervenção, tentamos apresentar algumas teses sobre Luta de Classes, Linha de Massas, Ação Sindical e o papel dos comunistas, nos inspirando nas bases marxista-leninistas que FMR defendeu. Mais concretamente, buscamos responder ao seguinte questionamento de Francisco: “Como podem os comunistas conseguir que o movimento diário das massas pelas suas reivindicações imediatas acumule forças revolucionárias, mesmo neste período de triunfo em toda a linha da burguesia?”
É necessário falar sobre a luta de classes, porque as ações dos comunistas são ações no sentido de interferir nas práticas das massas para alterar em seu favor a correlação de forças política na luta de classes – esse antagonismo que surge das próprias relações de produção capitalistas. Portanto se faz necessário também dizer de que forma e qual sentido têm essas ações dos comunistas, que essas ações devem ter rigor teórico, devem seguir um conjunto de princípios necessários para que seu efeito na luta imediata gere efeitos políticos que vão ao encontro dos interesses da classe operária e da construção do socialismo.
Para dar um ponto de partida na discussão sobre a prática dessa luta, dizendo que se o exposto acima é verdade, se nossa vida e morte dentro desse sistema odioso passam pela luta de classes, precisamos debater como essa luta de classes se comporta no dia a dia da fábrica, do bairro, da escola, de como devemos nos mover nela, de como devemos apreendê-la como conhecimento, de como observar as classes exploradas em sua luta cotidiana, de como nos incorporar de forma mais profunda à sua luta e aos seus interesses.
Precisamos também falar que a luta histórica da classe operária contra os patrões construiu instrumentos como os sindicatos. Parte da luta se dá no entorno deles e através deles e ao longo da história eles vêm sofrendo alterações em seu papel na luta de classes. Quais os limites da atuação dos/as trabalhadores/as nesses aparelhos na luta contemporânea, sabendo que esses instrumentos foram incorporados pelo estado e compõem a superestrutura capitalista com função de acomodar a luta de classes proletária na ideologia e política desse estado burguês? Essa, entre outras, é uma pergunta fundamental para os comunistas fazerem hoje.
Alguns tópicos provisórios, mas necessários, sobre a luta de classes
1 – A luta de classes inclui a totalidade das formas de lutas em torno das ideias e das práticas das classes sociais, que expressam seus interesses enquanto classes. Uma unidade contraditória composta por três aspectos distintos e inseparáveis: o econômico, o político e o ideológico, que agem uns sobre os outros. A luta de classes econômica assume o papel determinante em última instância – porém nunca como uma determinação absoluta.
2 – Portanto, como existe a exploração econômica – uma disputa concreta que no caso do capitalismo se dá em torno da expropriação da mais-valia dos/as trabalhadores/as pelos capitalistas, da luta das massas contra a fome e das necessidades materiais que alteram essa “contabilidade” – podemos falar do aspecto econômico dentro dessa unidade contraditória. Luta por melhores salários, “benefícios”, “serviços públicos” etc.
3 – Como existe uma relação de poder, um choque de forças entre e intra classes, setores de classes, camadas, frações etc., que se expressa na correlação de forças real, concreta, que determina quem organiza o maior contingente de massa, quem desmobiliza ou mobiliza uma greve por exemplo, quem reduz ou amplia a hegemonia dos aparelhos de estado, podemos falar, dentro da unidade da luta, do aspecto político.
4 – Como existem “concepções de mundo”, “ética”, “moral”, valores, um jeito de “ser e de viver”, portanto de lutar, existe luta por essas ideias e práticas. Egoísmo ou solidariedade? Construção, “conquista” coletiva ou individual? Socialismo ou capitalismo? “Abrigar” a luta no direito e na institucionalidade burgueses ou na autonomia e independência das massas? São respostas ou efeitos determinados por princípios que expressam, portanto, o aspecto ideológico nessa luta.
5 – Os efeitos da luta de classes, dependendo de qual lado na correlação de forças na luta prevalece, são as reproduções ou revoluções das formações sociais concretas. Ou seja, em que sentido a história caminha, ou melhor, quais interesses de classes serão preservados/renovados ou substituídos, de que forma o poder de classe permanece ou como ele será superado.
6 – A caracterização das lutas de classes como lutas econômicas, políticas ou ideológicas é definida pelo aspecto que domina essa luta a cada momento, uma greve geral por melhores salários ou uma mera reunião em um local de trabalho para discutir melhores condições de trabalho pode ser chamada de luta econômica. Uma insurreição com vista à tomada do poder ou a constituição de uma célula de uma organização comunista, revolucionária, em um bairro podem ser chamadas de luta política. Mas a unidade desses aspectos não será quebrada, nem será alterado o fato de que é a luta econômica a base que define, em cada momento e situação concreta, qual aspecto domina e caracteriza a luta específica.
7 – No capitalismo, o processo de produção é já exploração e valorização e já luta de classes. Dito isso, podemos afirmar tanto que a luta de classes não é um momento, não aparece de repente dentro da estrutura social, quanto que a análise de classes, a caracterização de uma formação social concreta é análise das lutas de classes concretas. Essas afirmações são importantes para refutar argumentos de que só existe luta de classes a partir do momento em que a luta atinge um determinado patamar, uma forma específica etc. A luta dos explorados, no seu aspecto dominante, pode até não se dar com sua posição de classe própria, sendo, portanto, dominada pelos interesses e formas burguesas, mas não deixa de ser luta de classes e, no seu interior, mesmo que dominada, embrionária, terá um ponto de apoio de seus interesses próprios de classe.
8 – A estrutura de uma formação social é, ao mesmo tempo, produto, reprodução, alteração da luta de classes. Suas instâncias (base, superestruturas jurídico-política e ideológica) ao mesmo tempo são expressão e expressam a forma específica da luta de classes econômica, política e ideológica sob o domínio das classes dominantes. Ou seja, são conformadas, alteradas e, ao mesmo tempo, alteram a luta de classes.
9 – As classes existem em suas lutas, são a expressão da luta de classes, como domínio da contradição sobre os contrários, portanto domínio da luta dos contrários sobre os aspectos da contradição, domínio da luta de classes sobre as classes. Sem perder de vista que a estrutura de classes é definida nessa luta, ela também condiciona e altera a própria luta de classes.
Linha de Massas, como os comunistas atuam na luta das massas
“Em resumo, o trabalho comunista entre as massas requer muito esforço e brilha pouco. Temos que nos compenetrar de que, num período de marasmo da luta de classes como o que atravessamos, a autenticidade dos comunistas mede-se pela sua capacidade para evitar a tentação de serem reconhecidos pelos media, ganhar estatuto de ‘partido responsável’, etc. Não nos deve impressionar a acusação de ‘sectarismo’ que os reformistas nos lançam, nem a impaciência dos militantes que não se resignam a um trabalho apagado e querem resultados palpáveis em pouco tempo”.
Francisco Martins Rodrigues. Ação Comunista em Tempos de Maré Baixa
10 – Se a luta de classes é universal às formações econômicas e sociais cujos modos de produção são divididos em classes, não existe o ficar de fora da luta de classes. Se a divisão da sociedade em classes significa, imediatamente, exploração de classes, não existe em nenhum momento neutralidade, não existe não tomar partido, de um lado ou de outro.
11 – Se toda manifestação concreta na luta de classes se reduz aos interesses de classes exploradas ou exploradoras, nos cabe “optar” pelos interesses do proletariado, ou seja, da “realidade como ela é”, da aplicação melhor da ciência a serviço da luta, de uma visão científica do mundo ao redor, pois é na realidade, na análise concreta que se identificam esses interesses. A ciência proletária, o marxismo-leninismo, diz “análise concreta de uma situação concreta”. Ao mesmo tempo, sob o domínio de uma prática científica, afirmar, reforçar, reproduzir a ideologia baseada nos interesses do proletariado em luta.
12 – Além de um ato ideológico de indignação, de sentimento, como condição necessária, ao mesmo tempo a serenidade, a perseverança, a humildade e a paciência científicas como condição suficiente. Ambas as condições só podem ser atendidas pela presença no cotidiano das lutas da classe operária e das massas dominadas. Ambas só podem ser atendidas pela construção e pelo desenvolvimento dos instrumentos próprios das classes que sintetizem e sistematizem o nível mais avançado dessa ciência e ideologia.
13 – Se na luta de classes quem estuda, pratica, portanto, luta, toma partido, isso significa, ao mesmo tempo, que demarca campo, que faz a linha demarcatória entre os interesses de classes. A participação na luta, do lado do proletariado, com o marxismo-leninismo, significa um ato de demarcação de campo, de definição de interesses, de forma de agir e de pensar. Portanto, trata-se de buscar constituir uma linha de atuação, uma estratégia e seus movimentos táticos. Estuda-se porque se luta. Não se estuda para depois lutar. Não se “interpreta o mundo” para depois transformá-lo. A interpretação do mundo está na luta. Lutar é, também, necessariamente, estudar.
14 – O abandono das lutas concretas, da observação e da tomada de partido pelos interesses proletários, expressa a ausência de uma linha de atuação comunista, portanto expressa uma crise teórica, demonstrada pelo recuo/refluxo prático.
15 – O paulatino abandono da presença nas concentrações operárias e populares, pela ausência nas lutas a partir dos locais de trabalho e moradia, pela crença que essa participação/luta nesses locais seja simplesmente uma etapa a ser substituída pela presença nas entidades representativas (sindicatos, associações, etc.), entidades em sua grande maioria afastadas do controle efetivo de suas bases, reproduzindo uma política e ideologia burguesas, tentando paralisar a luta das massas com a promessa de pequenas, limitadas, parciais e provisórias conquistas econômicas, a nosso ver, expressa a atual ausência de uma linha de massas proletária.
16 – Tudo isso é o reflexo do abandono da concepção científica da “luta de classes como motor da história”, abandono da perspectiva revolucionária, da luta pelo poder da classe operária e da compreensão de que a luta de classes proletária levará, necessariamente, à ditadura do proletariado. Abandono que esteriliza o marxismo-leninismo como instrumento científico da classe operária.
17 – A ação central dos comunistas, com todos os instrumentos políticos que possuem, deve ser reforçar o caráter coletivo, independente e autônomo das iniciativas da classe operária e das massas exploradas, combatendo a tentativa de cooptação dessas iniciativas por soluções que retirem da mão dos trabalhadores a direção desses processos. Dentre tantos exemplos, podemos citar as comissões de fábricas que, de instrumentos autônomos dos trabalhadores, se transformaram em apêndices da empresa, da estatização da luta de massas através de sua “institucionalização” debaixo da máquina do estado, ou através do cretinismo parlamentar ou da máquina sindical oficial.
18 – Uma atenção maior para a luta de classes ideológica. A luta deve gerar mais solidariedade de classe, mais espírito coletivo nas ações e decisões, mais confiança em suas ações independentes e autônomas. Uma luta em que as massas além de dividirem as ações e o comando, dividam e ampliem o espírito de coletividade, de solidariedade e de benefício mútuo e igualitário.
19 – Na luta de classes política, a construção de instrumentos coletivos de massas, pelos quais as classes dominadas, em torno da classe operária, comecem a exercitar, desenvolver e ampliar o seu poder. Em cada ação concreta, mais autonomia, mais instrumentos construídos nas massas, por elas mesmas e sob seu controle.
20 – Essas duas atenções se dão na luta concreta e são a própria centralidade dos interesses proletários nas reivindicações materiais, objetivas. Todo ciclo de lutas concretas deve, como luta de classes contra o inimigo dentro e fora de nossas fileiras, reforçar o avanço proletário na luta de classes política e ideológica. O saldo mais importante da luta é que as massas saiam dela mais organizadas, mais conscientes, mais experientes, aprendendo por sua própria experiência, nos seus acertos e erros.
21 – Atenção máxima à luta de classes dentro do nosso campo, no combate às influências da ideologia burguesa em nosso campo. O inimigo age internamente às nossas fileiras e devemos contrapor às suas posições os nossos objetivos de classe, a nossa forma de luta, a nossa prática concreta, os nossos princípios revolucionários. O reformismo, o esquerdismo e as outras formas de desviar a luta concreta dos interesses proletários, reforçam formas burguesas de luta.
22 – O reformismo busca canalizar a energia crescente e a ação coletiva e independente das massas para as utópicas e desgastadas soluções via aparelhos do estado burguês, que servem aos seus interesses de ascensão na máquina estatal. Condicionam sua atuação à disputa eleitoral, na dependência das massas em relação aos aparelhos estatais e nas ações dentro das “quatro linhas” da legalidade, da institucionalidade, na ilusão com uma utópica gestão do capitalismo em benefício das classes trabalhadoras, com a promessa de conquistas limitadas e parciais a serem “garantidas” quando alçarem seus postos de parlamentares e representantes nas entidades que este estado sanciona e controla, trocando, quando muito, essas pequenas, parciais e limitadas conquistas econômicas pela desorganização e desmobilização crescente da luta de classes proletária e de massas.
23 – O esquerdismo, com pouca expressão nas massas, também concorre, junto com outras posições pequeno-burguesas, para evitar a unidade das massas em torno da classe operária, de seus interesses, a organização e o aprofundamento de suas lutas. Por trás de uma verborragia pseudo de esquerda, com pequenos grupos isolados mais exaltados, passam a agir contra o conjunto das massas com pautas que estão fora de suas necessidades reais e concretas. Negam-se a aprender com a prática das massas, exaltam até mesmo as suas diferenças para que não sejam confundidos com o povo, que é tratado com arrogância e desdém.
24 – Tanto as posições reformistas quanto as esquerdistas não são capazes de ver a diferença entre a prática da luta proletária e a prática burguesa, e assim colocam os interesses da classe operária e das massas exploradas a reboque de posições burguesas ou pequeno-burguesas, além de que estão unidas na prática, umas mais e outras menos, no anticomunismo, na desorganização, desmobilização e subjugação da classe operária e das massas ao estado burguês, seja através da máquina legal/oficial ou das suas formas mais ou menos ilegais/clandestinas (tráfico, grupos paramilitares, etc.). Essas concepções e suas práticas devem ser, sempre com os abundantes exemplos concretos existentes, denunciadas e combatidas no meio da massa para que possam ser reconhecidas e rejeitadas por elas.
25 – O principal sentido da ação dos comunistas deve ser avançar na presença real e ativa junto à classe operária e às massas exploradas, participando das ações concretas de enfrentamento dos problemas realmente existentes: o emprego, o salário, as condições de trabalho, a fome, a sobrevivência, o enfrentamento às questões de saúde, os mutirões para atender às necessidades do povo, as ações de saneamento necessárias, o cuidado com as crianças, a formação dos jovens e adolescentes, a atenção com os idosos, as atividades culturais, esportivas, lúdicas, o combate às drogas, ao alcoolismo, à prostituição etc.
26 – A luta de classes, como dito acima, possui três aspectos que os comunistas devem sempre estar atentos: o econômico, sua base, e os aspectos políticos e ideológicos. Toda pequena conquista econômica material, objetiva, concreta, deve se voltar para desenvolver, nesses processos de luta, os aspectos políticos e ideológicos das massas. Se combate por conquistas materiais e, o mais importante, por mais autonomia, mais solidariedade e espírito coletivo, que expressam e validam novas formas de poder e de ver o mundo, embriões da ditadura do proletariado.
27 – Os princípios de uma linha de massas proletária, comunista e revolucionária, podem assim ser sintetizados em:
1 – Aprender com a classe operária e com as massas exploradas. Aprender para poder ensinar, para poder levar a luta de classes a um novo patamar mais avançado. Isso significa respeitar, ouvir, ver, e, em certo sentido, viver os problemas das massas pelo tempo necessário para, inserido na sua luta e na sua vida, conseguir sistematizar e sintetizar suas experiências e, de dentro dos seus processos de luta, encontrar as soluções concretas junto com as massas. Nossa força está na condição de estar presente dentro das massas, de falar e lutar através delas.
2 – Estimular as ações autônomas e independentes da classe operária e das massas exploradas. Entender que na relação entre massa e vanguarda existe o primado das massas. São elas que, por suas próprias mãos, por suas experiências práticas, constroem seu próprio poder. São os objetivos centrais dos comunistas em todas as lutas concretas. É o proletariado organizado e mobilizado em torno de seus interesses de classe que exercerá sua ditadura e sua democracia, seu poder e não seus representantes. Para isso, precisa aprender com sua própria experiência, no tempo necessário, na luta, a ser esse poder.
3 – Participar e estimular as lutas realmente existentes, objetivas e concretas, ou seja, as lutas que são vistas e desejadas objetivamente pelas massas no seu momento histórico. O que vale é o que está ajustado à consciência e à ação das massas, aquilo que elas aceitam ou pelo que já estão se movendo, para que possamos generalizá-las, ampliá-las e aprofundá-las através das e com as massas. Se uma ideia não se incorpora as massas, não tem força material.
4 – Disputar posições na luta concreta das massas com a burguesia. Reconhecer a influência da ideologia burguesa, dominante, nas massas, que disputam a massa na sua própria luta nas formas burguesas de ação, pelo reformismo, pelo esquerdismo e pelos aparelhos de estado burgueses. Para isso é necessário fazer a crítica às questões relevantes e concretas para as massas, no sentido que elas sejam ganhas para posições avançadas de forma paciente e perseverante, avançando passo a passo, optando por posições dentro da disputa de práticas e ideias existentes ou observáveis pelas massas na luta.
5 – Confiar e se apoiar nas massas, mesmo quando elas não caminham totalmente com sua posição própria de classe, com a posição revolucionária. Nelas existem disputas e, com humildade, respeito e transparência, expor as nossas e as suas posições, fazer a crítica e a autocrítica sem espírito de soberba, humilhações, arrogâncias, colocando as massas sempre no posto de comando das decisões. Única forma de mantê-las unidas e ganharmos sua confiança. Decidir, agir, refletir e corrigir as ações com as massas e através delas, sempre.
6 – Defender nas lutas concretas o socialismo/comunismo, a derrubada do regime burguês. A palavra socialismo/comunismo não é um selo a se pôr em panfletos e nem a derrubada do capitalismo, a tomada do poder. Em cada luta concreta reforçar, através da solidariedade, da denúncia das condições de vida e do espírito coletivo, o contrapoder independente, autônomo e chamá-lo por seu nome, poder proletário. Identificá-lo, na medida do possível, com as experiências passadas da luta de classes, criando grupos de formação sobre a história dessas lutas e de formação teórica para os grupos mais avançados de líderes das massas.
7 – Combater as velhas ideias, os velhos preconceitos, as velhas opressões nos seios das massas. A influência burguesa, o peso do patriarcado, do racismo, do chauvinismo, dos preconceitos sexuais e de gênero, deve ser combatido de forma paciente e perseverante nas massas, estimulando a auto-organização e a autodefesa dos setores oprimidos, bem como da solidariedade militante de todos os comunistas nas suas lutas. Não há caminho para o socialismo sem combater nessas trincheiras e nem avanço dentro do socialismo sem a vitória nessas lutas. Compreender que as opressões estão sobredeterminadas pela luta de classes, que existe disputa de linhas nesse campo. Portanto, não é uma “ascensão social” de oprimidos na máquina do estado e na gestão do capital que são as bandeiras dos comunistas, mas a solidariedade recíproca e a unidade entre o combate à exploração e a todo tipo de opressão.
Alguns tópicos sobre Ação Sindical
28 – O sindicato contemporâneo, dominado pelo oportunismo, faz parte da estrutura que compõe o estado capitalista, concorrendo com outros aparelhos de estado na reprodução das relações de produção capitalista, ou seja, na exploração dos/as trabalhadores/as sob o capital. É um espaço de luta dos/as trabalhadores/as, mas limitado politicamente.
29 – Faz isso mediante a conformação dos/as trabalhadores/as na ideologia de Estado, principalmente em sua ideologia própria, sindicalista, desdobramento das vertentes economicista e jurídica da ideologia de estado, aquela que limita a ação da luta da classe trabalhadora à legalidade burguesa, a diluição dos aspectos políticos e ideológicos proletários na luta de classes, que reforça as ideias e práticas burguesas nos objetivos e na forma da luta dos/as trabalhadores/as. Nos objetivos, porque estão limitados a pequenas conquistas materiais temporárias que não questionem a propriedade e o controle dos meios de produção e do poder político pelos patrões e, na forma da luta, porque limitam a luta à institucionalidade e ao estilo burguês, desidratando a autonomia de classe e sua independência do estado.
30 – Esta luta sob a ideologia sindical contemporânea, ao jogar os/as trabalhadores/as para baixo da legislação e da máquina estatal, retira sua autonomia, separa e retira dos aspectos econômicos, a auto-organização e o poder coletivo independente, ou seja o objetivo político proletário na luta de classes, ao mesmo tempo que afasta nas limitadas, parciais e provisórias conquistas econômicas, ou muita das vezes, em suas derrotas, por essa desorganização e pelo “cupulismo” (o contrário da auto-organização e do poder coletivo), uma estratégia revolucionária, a solidariedade entre os trabalhadores e seu espírito de corpo coletivo, ou seja, os aspectos ideológicos proletários na luta de classes.
31 – O sindicalismo atingiu esse patamar em uma história de saturação de uma ação reformista e assimilação estatal, com “concessões” econômicas da burguesia, do estado na luta sindical, cujo fruto foi a própria estatização do sindicalismo. A cada “concessão” dada em conquista econômica aos/às trabalhadores/as, mais ficavam desidratados de sua política e ideologia.
32 – Esse aparelho é uma estrutura separada das massas que representam, passando a ter demandas próprias, que se impõem pelo baixo controle de seus representados, desorganizados e desmobilizados. Separa as “lideranças” para um ambiente próprio, longe dos riscos do trabalho e em melhores condições de vida. Essas novas condições de vida são legitimadas por noções ideológicas que justificam o “esforço” dessas “lideranças”, a “dedicação” na “defesa” dos “interesses coletivos” etc., na reprodução de uma prática populista, de que os trabalhadores dependem da máquina sindical, enquanto outorga do estado, representação legal, serviços públicos, etc. Muito da propaganda sindical hoje fala que os/as trabalhadores/as precisam do sindicato (e não o contrário!). Afirmação que ratifica a separação do sindicato e as massas e do não reconhecimento desse aparelho pelas massas.
33 – Ao mesmo tempo que o sindicalismo é isso, também é um espaço de disputa real de posições, que devem ser feitas a partir de suas bases, pelas suas bases, em cada luta concreta, na condição que devemos levar o sentido da luta para o reforço da autonomia das massas, da auto-organização independente, o que significa lutar fora dessa estrutura para lutar dentro dela até o seu limite. Só vale participar da luta no sindicato se for na sua base, com ela, reforçando o poder da base sobre essa estrutura, sabendo-se que não se pode tudo dentro dela, que as massas devem construir, na sua luta, por sua experiência, no tempo que for necessário, lutas e instrumentos de luta para além dessa estrutura sindical.
34 – Como faz parte do estado capitalista, o sindicato não é uma máquina neutra, na qual basta ganhar as eleições para compor sua direção que serão mudadas as condições de luta – à moda como fazem os reformistas com as eleições para administrar os governos. É a correlação de forças, a presença de uma posição proletária forte na sua base, que muda as condições da luta. A presença na direção dessas entidades deve estar a serviço desse intento.
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As teses provisórias que avançamos acima não esgotam esses temas, mas refletem uma tentativa de desenvolver nossa visão atual sobre eles.
Convidamos os leitores e camaradas a continuarem com esse debate, criticando, a partir de um ponto de vista proletário, comunista, revolucionário, nossas teses e posições provisórias.