CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

Cem Flores, Conjuntura, Destaque, Lutas, Movimento operário, Teoria

A Reconstrução do Movimento Comunista Hoje.

 

Cem Flores
27.11.2021

Percebemos que muito mais do que uma discussão sobre organização, tática ou estratégia, o que necessitamos é discutir a situação, o estado da teoria marxista, sua crise escancarada após o XX Congresso do PCUS e a cisão do movimento comunista em 1963, a necessidade urgente e incontornável de tomá-la a sério e perguntarmos por suas causas.

A crise do movimento comunista não pode ser somente o resultado dos erros cometidos pelos partidos comunistas em sua prática na luta de classes, resultado de uma conjuntura, nem da ação dos inimigos de sempre e que se uniram contra ele na luta de classes.

O movimento comunista não foi derrotado por seus inimigos de sempre. Fomos derrotados ao não sermos capazes depois de Marx, Engels, Lenin, Stalin e Mao de desenvolver a teoria de forma a iluminar de maneira justa nossa prática revolucionária.  

A crise do Marxismo é uma crise teórica e prática e a luta de classes nos coloca a urgência de superá-la.

Cem Flores. Por que razão discutir a crise do Marxismo?

 

No ciclo de palestras e debates A Atualidade do Pensamento de Francisco Martins Rodrigues, realizado nos meses de setembro e outubro deste ano, o Cem Flores participou da mesa que debateu, junto com o Coletivo Bandeira Vermelha e o Centro de Estudos Victor Meyer, o tema A Reconstrução do Movimento Comunista Hoje.

O texto abaixo reproduz os tópicos principais de nossa intervenção nessa mesa de debates, resultado de nosso acúmulo interno sobre o tema até o momento. Nessa intervenção, e na atuação do Cem Flores, pretendemos contribuir na compreensão da crise do marxismo e do movimento comunista e no caminho para superá-la. E temos a convicção de que essa é, necessariamente, uma tarefa que envolverá o conjunto dos militantes, das organizações e dos partidos comunistas no Brasil e no mundo.

Convidamos os camaradas e leitores de nossa página a lerem e debaterem o texto abaixo e nos enviarem suas críticas marxistas-leninistas, críticas comunistas. Que Cem Flores Desabrochem!

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A Reconstrução do movimento comunista hoje.
Cem Flores

 

1- O Movimento Comunista

Nós, os/as comunistas deste primeiro quartel do século 21, somos herdeiros de dois séculos de lutas operárias e de massas em todos os países do mundo. Somos herdeiros de um século e meio de tentativas de tomada de poder pelo proletariado, das primeiras tentativas de construção do socialismo. Considerando tanto os avanços quanto os recuos dessas lutas, somos herdeiros das mais belas e mais heroicas páginas já escritas pelas lutas das classes dominadas na história mundial.

No entanto, é um fato que esses processos foram derrotados, com destaque para a derrota na URSS e na China. É fundamental, para podermos superar a crise em nosso campo, buscar compreender esses processos, a tentativa revolucionária de transição ao socialismo e a restauração capitalista nesses países. Como parte da compreensão desse problema, aprofundar nossa compreensão do avanço do reformismo e do revisionismo na grande maioria dos partidos comunistas.

Nosso papel de comunistas, portanto, é o de aprender com as lições de todas essas experiências, suas vitórias e derrotas, seus acertos e erros, e levar adiante essas lutas revolucionárias na conjuntura concreta atual. Ou seja, na difícil conjuntura de refluxo do movimento comunista, de restauração burguesa nas experiências de construção do socialismo, de hegemonia das posições burguesas na grande maioria das organizações de que se intitulam comunistas, de domínio completo do capitalismo e do imperialismo, nessa conjuntura de ofensiva burguesa em todas as frentes, resistir junto com a classe operária e as demais classes dominadas para podermos retomar a iniciativa nas lutas de classe, a posição proletária independente, retomar o combate ao reformismo, ao revisionismo e ao oportunismo, retomar a teoria marxista-leninista, reconstruir o partido comunista no Brasil e estimular a reconstrução em outros países. Estas são as nossas tarefas.

 

2- O refluxo do movimento comunista

As derrotas das primeiras experiências revolucionárias de construção do socialismo no século 20 têm impactos tanto práticos quanto teóricos. O movimento comunista internacional é praticamente inexistente atualmente. Com os partidos comunistas na maior parte dos países amplamente dominados por posições reformistas e oportunistas, apenas pequenas e fragmentadas iniciativas revolucionárias permanecem, com pouca influência na luta de classes. Esse prolongado refluxo praticamente eliminou do horizonte concreto dessas lutas a perspectiva revolucionária, de tomada do poder pela classe operária e seus aliados. Dessa forma, a luta das classes dominadas basicamente restringe-se, atualmente, com poucas exceções, a mobilizações defensivas mais imediatas, de natureza fundamentalmente econômica, tentando minorar as condições da escravidão capitalista.

No campo teórico, essas derrotas expressam perda de influência do marxismo-leninismo como guia para ação nas lutas operárias. Isso implicou sua “substituição” por teorias burguesas, de “esquerda”, presas nos limites do capitalismo, como guias para a ação de partidos, sindicatos e movimentos que se intitulam em defesa das classes dominadas. Presos ao reformismo e ao oportunismo, tanto em termos teóricos quanto práticos, passam a defender posturas meramente institucionais e eleitorais, justificar a conciliação de classes e limitar a luta da classe operária à tentativa de aumento das migalhas servidas pelos patrões. Nesse longo processo, abastardado pelos desvios revisionistas, reformistas, que o deturparam, ao extirpar o seu caráter revolucionário, a crise do marxismo é um dos obstáculos práticos da ação das massas a caminho do socialismo, do desenvolvimento político e ideológico de uma posição revolucionária, proletária.

Essas posições de classe burguesas nos campos teórico e ideológico da luta de classes do proletariado refutam algumas teses fundamentais para o marxismo-leninismo. Em primeiro lugar, negam o caráter universal da luta de classes (enquanto houver classes) e do primado dessa luta sobre as próprias classes. Esse é um aspecto fundamental para entender a derrota nas experiências de construção do socialismo.

Segundo, a negação da tese de que, sob o domínio do capitalismo a democracia é burguesa, outra face da ditadura da burguesia, portanto, um instrumento de dominação/exploração da classe operária e das massas trabalhadoras no modo de produção capitalista e que é tarefa do proletariado fazer a revolução e caminhar no sentido da construção da ditadura do proletariado, do socialismo.

Terceiro, levam à adoção de diversos modelos “desenvolvimentistas”, baseados no desenvolvimento de forças produtivas, independentes de quais relações de produção elas expressam e reforçam, trazendo explícito o estímulo à e a adoração da acumulação capitalista (chamada de “desenvolvimento econômico”). Ou seja, exploração da classe capitalista sobre todas demais classes, limitando as aspirações proletárias à esperança de receber uma ínfima migalha de tudo o que a classe operária produziu e os capitalistas expropriaram.

Retomar o marxismo, reconstruir o movimento comunista internacional, requer combater essas ideologias. Estudar, praticar e aplicar o marxismo em seu aspecto fundamental: a análise concreta da realidade concreta, a ação para a destruição desse sistema de exploração.

 

3- A retomada do marxismo também é a única opção para entender e agir cientificamente na crise do mundo hoje.

A atuação dos comunistas é ainda mais difícil quando consideramos a situação das classes trabalhadoras hoje no mundo inteiro, suas condições de vida e a exploração a que são submetidas, que só têm piorado nos últimos anos.

A crise do imperialismo de 2007/2008 não só não foi superada, como se agravou na pandemia – que também não foi superada em termos sanitários, econômicos, políticos. Esse quadro agrava o conjunto das contradições no mundo hoje, tanto as contradições interimperialistas, como as contradições entre países dominantes e dominados e, principalmente, a contradição burguesia x proletariado.

As últimas fortes crises do imperialismo, o sistema capitalista mundial, lançaram as burguesias de todo o mundo, seus estados, aparelhos internacionais e governos em uma ofensiva contra a classe operária e demais classes trabalhadoras. A crise capitalista e a ofensiva burguesa formam uma unidade. Ambas deterioraram as condições de vida, trabalho e luta das classes trabalhadoras. Os impactos dessa realidade, através de mudanças tecnológicas, desemprego, arrochos, reformas, privatizações, repressão vão se tornando permanentes, piorando a situação dessas classes.

As crises levam ao acirramento da luta de classes e à modificação das condições econômicas, políticas e ideológicas dessa luta. Podem reforçar a burguesia, sua dominação (como tem ocorrido até hoje), ou podem ser uma ameaça a ela e ao seu sistema (a depender da reorganização da posição proletária, de sua luta).

Junto com a crise, o desemprego e a exploração vieram o aumento da violência do estado, com governos cada vez mais fascistas perseguindo manifestações de trabalhadores/as, prendendo e matando a população pobre e trabalhadora nas periferias das cidades e no campo.

A brutal e crescente desigualdade, a exploração e a miséria para as grandes massas, essa é a tendência geral do capitalismo. As contradições da acumulação de capital levam a constantes crises, que centralizam cada vez mais o capital em gigantescos monopólios mundiais para buscar recuperar as taxas de lucro, a depender da luta de classes.

Os trabalhadores e as trabalhadoras reagem a tudo isso, diariamente. Apesar dessas lutas trazerem lições fundamentais, elas ainda são muito insuficientes. A principal razão é a ausência da posição revolucionária organizada e de massa e a persistente hegemonia do reformismo e do oportunismo do movimento popular e sindical. O patamar da nossa luta está profundamente recuado.

É nesse contexto geral difícil, de crise, de ofensiva burguesa e de limitada resistência que as classes trabalhadoras e suas lutas se encontram. O que contribui para deixar claro para nós que o desafio de nosso tempo é retomar a posição proletária, levantar a bandeira da revolução, contra os capitalistas e seus aliados, os reformistas e oportunistas e suas já desgastadas ilusões, que tentam reciclar e revender a cada piora da crise, ou derrota eleitoral.

 

4- O que fazer?

A retomada do movimento comunista e do processo revolucionário deve ter como pressuposto a retomada da iniciativa proletária na luta de classes. Isso significa, em primeiro lugar, participar da vida cotidiana das massas operárias e trabalhadoras, compartilhar suas dificuldades concretas e lutar a seu lado. Somente dessa maneira, os comunistas poderão ganhar a confiança da classe operária para se organizar no seu meio e estimular novas e maiores lutas.

Enquanto comunistas, a retomada da iniciativa proletária na luta de classes também significa combater sem tréguas as diversas posições reformistas e oportunistas no seio da classe operária e de suas organizações, assim como suas políticas de subordinação do proletariado à burguesia, de limitação da luta proletária aos marcos do capitalismo, e romper com suas práticas de sabotar as iniciativas de luta da classe, na permanente busca de compromissos e alianças com a burguesia.

Retomar a iniciativa proletária na luta de classes significa recolocar no horizonte da classe operária e das suas lutas a questão do poder, da revolução, da derrubada do regime de escravidão assalariada do capitalismo e da construção do socialismo. Significa vincular de forma permanente e indissolúvel esse objetivo estratégico com as lutas cotidianas da classe, as greves, as paralisações, as manifestações, os protestos, suas vitórias parciais e suas derrotas. Significa estimular a luta e a organização dos operários e demais classes dominadas para seus objetivos próprios, de classe, opostos e irreconciliáveis aos objetivos da burguesia, dos patrões, dos exploradores e de seus agentes no movimento operário, os pelegos.

Seguindo a conhecida máxima de Lênin, de que sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário, uma tarefa indispensável dos comunistas é a retomada e o desenvolvimento da teoria marxista-leninista, a teoria científica e revolucionária do proletariado. Enquanto comunistas, isso significa combater implacavelmente todas as deturpações revisionistas e reformistas do marxismo-leninismo, retomando seu caráter científico, crítico e revolucionário.

Isso significa, também, um longo processo de reeducação e formação das massas proletárias e demais classes dominadas para o marxismo-leninismo, mostrando que seu conhecimento prático e cotidiano das contradições, da exploração e da injustiça do capitalismo, pode ser generalizado em uma teoria científica e revolucionária das próprias massas, abrindo caminho para o fim da exploração e da injustiça. Por fim, a retomada da teoria marxista-leninista não pode se dar sem seu desenvolvimento, sem incorporar as novas perspectivas da luta de classes nos campos econômico, político e ideológico das últimas décadas.

Enquanto comunistas, a retomada da iniciativa proletária na luta de classes e a retomada e o desenvolvimento da teoria marxista-leninista, exigem a reconstrução do instrumento de combate do proletariado e das classes dominadas em sua luta revolucionária contra o capital: o Partido Comunista.

 

5- Ações concretas hoje

Para isso é fundamental resgatar, estudar e debater os marxistas contemporâneos, como Francisco Martins Rodrigues, que:

  1. Ressaltam a necessidade da afirmação da posição independente do proletariado na luta de classes;
  2. Destacam a necessidade de combate ao revisionismo e ao oportunismo, posições burguesas que atuam dentro de nossas fileiras. Não há alianças com os inimigos de classe que auxiliem o processo necessário de retomada da posição independente do proletariado.
  3. Indicam a centralidade da construção de nossa força junto à classe operária e às massas trabalhadoras, única possibilidade de sucesso em nossa luta.

Além disso, articular os grupos e coletivos que pensam e praticam a partir desses princípios. Construir as formas concretas de reforçar nossos pontos em comum e de debater nossas diferenças. A superação da crise em nosso campo será um processo concreto de afirmação de um campo proletário, compreensão das bases teóricas que são a causa da crise em nosso campo e articulação de uma ação conjunta que busque reforçar esse campo.

A crise do imperialismo hoje não nos deixa alternativa e expõe claramente os limites insuperáveis das contradições capitalistas. Não há solução ao capitalismo que não seja sua destruição como modo de produção e a construção de uma sociedade socialista rumo ao comunismo.

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As teses provisórias que avançamos acima não esgotam o tema, mas refletem uma tentativa de desenvolver nossa visão atual sobre eles.

Convidamos os leitores e camaradas a continuarem com esse debate, criticando, a partir de um ponto de vista proletário, comunista, revolucionário, nossas teses e posições provisórias.

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- 27/11/2021