Partido Comunista Argentino (PCA): Trabalhador, nem um passo atrás!
Cem Flores
23.02.2024
O proletariado e as massas exploradas enfrentam um importante momento de sua luta na Argentina. Desde a posse do novo presidente de extrema-direita, Javier Milei, os ataques dos patrões se intensificaram, deteriorando de forma significativa as condições de vida das massas trabalhadoras. Contra isso, grandes protestos e greves contra demissões, privatizações, arrocho e carestia de vida atravessam o país. A resposta do governo tem sido a repressão aberta.
A Argentina se soma à lista de países governados pela extrema-direita, autoritária, que busca a recuperação do capital e de seus lucros por meio de uma ofensiva direta e violenta contra o conjunto das classes trabalhadoras. A luta do proletariado argentino hoje é também a luta dos/as trabalhadores/as brasileiros/as e de todos os países que enfrentam, ou enfrentaram recentemente, a fascistização como resposta da burguesia à crise do capital.
Toda nossa solidariedade internacionalista e todo o nosso apoio aos/às nossos/as irmãos/ãs de classe!
A luta do proletariado na nova conjuntura argentina exige uma firme posição política, não só contra o governo de plantão e a ofensiva de classe burguesa, mas também contra as ilusões do reformismo e do oportunismo. Como afirmamos em publicação anterior,
“no combate às formas de governo mais autoritárias dos patrões, nossas bandeiras e princípios de independência de classe não podem ser deixados de lado. A luta contra esse perigoso inimigo não se faz abraçando outra força burguesa ‘menos pior’: o exemplo argentino mostra o fracasso dessa linha. Em vez de derrotar, alimentou ainda mais o fascismo. Só os/as trabalhadores/as organizados/as, de forma independente e autônoma, lutando com sua posição de classe, podem derrotar o capitalismo e suas expressões políticas, sejam elas socialdemocratas ou fascistas”.
Na Argentina, essa posição proletária, revolucionária, tem sido defendida pelo Partido Comunista Argentino (PCA). Nas eleições do ano passado, como divulgamos, em vez de defender a candidatura burguesa do peronismo (o então ministro da economia Sergio Massa, responsável pela crise histórica pela qual o país atravessava), o PCA apelava
“à unidade daqueles que lutam; a todos os setores que estão nas ruas contra o FMI, o aumento da pobreza, a miséria e a fome, bem como contra as medidas anti-operárias e antipopulares; a todos aqueles que querem enfrentar qualquer governo de ajuste, capitulação e repressão, seja de Javier Milei ou de Sergio Massa.”
Na última edição de seu jornal, Orientación, o PCA atualizou sua avaliação sobre a luta de classes na Argentina. No seu editorial, traduzido a seguir, o partido reafirma o caráter burguês e de direita do novo governo Milei, que lança uma “ofensiva brutal contra a classe operária e o povo argentino” por meio de um número extenso de medidas como a Lei Ônibus e o Decreto de Necessidade e Urgência. Esse ataque, apesar de intensificado por Milei, segue “a linha de arrocho e subordinação ao FMI e aos organismos financeiros do governo anterior”.
O PCA também destaca a piora contínua das condições de vida das massas trabalhadoras nesses últimos meses. A elevação de tarifas e de preços de itens básicos, juntamente com os cortes, congelamentos e atrasos em salários e benefícios sociais, recrudesceu a miséria no país. A pobreza, que cresce há uma década, alcançou em janeiro um patamar recorde, atingindo 57,4% da população, de acordo com o Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina. Essa piora foi diretamente causada pelas primeiras medidas de Milei, que, entre outras coisas, levaram a inflação a 254,2% nos últimos 12 meses até janeiro. Diante desse descalabro de carestia, o governo vai aumentar o salário mínimo em irrisórios 30%, roubando muito do poder de compra dos trabalhadores e das trabalhadoras do país, num arrocho para aumentar os lucros da burguesia argentina.
Nesse grave contexto, as classes trabalhadoras na Argentina responderam com uma importante Greve Geral. Segundo o PCA,
“em termos gerais, o balanço da Greve Geral realizada em 24 de janeiro foi positivo, pois não apenas a burocracia sindical se mobilizou, mas também participaram blocos independentes, setores de esquerda, as bases dos sindicatos e muitos trabalhadores não organizados, o que representa um termômetro de confronto contra o governo atual, algo que causa pânico em Javier Milei como em todo burguês: medo da organização das massas proletárias.”
O dia 24 de janeiro e outros protestos foram marcados por forte repressão do governo. “A única linguagem que eles usam e entendem é a violência”. Ameaças, novas armas e medidas de dispersão e dezenas de prisões tentam paralisar as lutas em curso. Eis “o modelo capitalista que Javier Milei nos oferece: repressão, arrocho brutal e pobreza absoluta”.
O PCA aponta para a urgência não só de resistir ao avanço repressivo, a partir de métodos e medidas de autodefesa das classes trabalhadoras, como também a necessidade de ampliar a luta e a organização. “Devemos reforçar a organização em todos os setores, radicalizar os diferentes conflitos, promover uma coordenação das lutas, reforçar e intensificar os métodos da classe operária e do povo”.
Afinal, a batalha decisiva se encontra nas ruas, nos enfrentamentos concretos, e não nas instâncias políticas burguesas, que já buscam acordos com Milei. A luta e a organização da classe operária e demais classes trabalhadoras na Argentina são as forças capazes de derrotar os recentes ataques conduzidos pelo governo Milei. Por isso, o PCA afirma: Trabalhador, nem um passo atrás!
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Trabalhador, nem um passo atrás!
Orientación – fevereiro de 2024
Partido Comunista Argentino
As tensões se intensificam em nossa Pátria. Como vínhamos alertando como Partido, o governo de Javier Milei, Victoria Villaruel, Luis Caputo e Patricia Bullrich lançaram uma ofensiva brutal contra a classe operária e o povo argentino, com todas as medidas anti-operárias e antipopulares. Os níveis de violência que eles propagam desde o governo indicam que eles próprios pretendem intensificar o conflito de classes, zombando da repressão exercida tanto em Buenos Aires quanto em Rosário, e, ao mesmo tempo, dizendo que se regozijam com as balas que atiram nos “zurdos” [esquerdistas], além da Ministra Bullrich esclarecendo que a morte de um manifestante em um protesto não a assusta; isso significa que estão dispostos a usar toda a sua artilharia contra nossa classe social e que vão impor seu programa de arrocho, entreguismo e repressão à bala, sem nenhum escrúpulo ao assassinar um trabalhador.
A repressão desmedida nos protestos contra a Lei Ônibus, o novo gás lacrimogêneo que já deveria ser considerado tortura – que atualmente tem um valor equivalente a duas aposentadorias mínimas -, mais de 35 prisões, acusações ridículas como não poder se aproximar a menos de 1 km do Congresso Nacional, tudo isso representa que esse programa não avança sem repressão, e não esqueçamos que apenas dois meses se passaram desde o início do governo, além do aumento do custo de vida: o transporte, a partir de 6 de fevereiro na Área Metropolitana de Buenos Aires, onde se concentra a maior população da Argentina, custará 270 pesos o ônibus e 130 pesos o trem, um aumento de 250% e já é o segundo em três semanas; por outro lado, o aumento desmedido no preço dos alimentos básicos como arroz, óleo, macarrão, etc., é o modelo capitalista que Javier Milei nos oferece: repressão, arrocho brutal e pobreza absoluta.
Este governo, seguindo a linha de arrocho e subordinação ao FMI e aos organismos financeiros do governo anterior, está nos levando a uma catástrofe, já está tornando a Argentina um país inviável, porque a carestia desmedida vem com um congelamento dos salários e nenhum auxílio social, como o congelamento do Potenciar Trabalho (programa social argentino) para os setores mais explorados de nossa classe e a não entrega de alimentos para os restaurantes populares. Vimos nos dias anteriores mais de 30 quarteirões de fila com pessoas que foram falar e se reunir com a Ministra Sandra Pettovello, pois não receberam na data certa o Potenciar Trabalho e porque não têm comida para colocar em sua mesa. A situação é caótica.
Em termos gerais, o balanço da Greve Geral realizada em 24 de janeiro foi positivo, pois não apenas a burocracia sindical se mobilizou, mas também participaram blocos independentes, setores de esquerda, as bases dos sindicatos e muitos trabalhadores não organizados, o que representa um termômetro de confronto contra o governo atual, algo que causa pânico em Javier Milei como em todo burguês: medo da organização das massas proletárias. Mas sabemos que a Greve como um evento isolado não é suficiente; embora que uma nova greve seja convocada – o que seria ideal -, devemos reforçar a organização em todos os setores, radicalizar os diferentes conflitos, promover uma coordenação das lutas, reforçar e intensificar os métodos da classe operária e do povo.
A burguesia está respondendo com violência a cada reivindicação pacífica das últimas manifestações, como pudemos ver desde o primeiro dia de luta em 20 de dezembro até o início das sessões parlamentares no final de janeiro, quando Patricia Bullrich implementou completamente seu mal chamado “protocolo anti-bloqueios”, que nada mais é do que pura e simples repressão ao povo trabalhador. Se a única linguagem que eles usam e entendem é a violência, devemos colocar na mesa de discussão de todos os setores operários ocupados e desempregados os métodos que nossa classe utiliza contra as agressões patronais.
As discussões no Parlamento continuarão, e é bom que isso aconteça, mas hoje em dia a batalha decisiva ocorrerá nas ruas. Nos últimos dias e semanas, foi a classe operária argentina que resistiu aos ataques dos serviçais de Patricia Bullrich, mas a mera manifestação já não é suficiente, porque a classe dominante não entende e não quer entender as reivindicações do povo, pelo contrário, buscam nos amedrontar, nos bater, até nos torturar ou nos matar: esses são os métodos da burguesia.
Historicamente nós, a classe operária, temos usado todo a força popular para resistir aos diferentes governos de índole capitalista. Hoje novamente devemos repensar nossos métodos e nossas palavras de ordem, porque sabemos muito bem que, se a Lei Ônibus passar e o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) permanecer em vigor, não há futuro possível para nossa classe.
Tudo aponta para um confronto de classe contra classe, como historicamente tem ocorrido; mas nesta fase será muito mais agudo. Aprendamos com as lições históricas, não cometamos os mesmos erros. Vamos pela Greve Geral, pelo bloqueio e a assembleia, mas também pela organização da classe para, de uma vez por todas, derrubar este sistema explorador e cruel.
Hoje mais do que nunca devemos aprofundar nossos métodos, os da nossa classe, porque nossa classe é invencível: podemos derrubar a lei e o DNU, podemos derrubar o governo, até podemos tomar o poder e mudar o rumo da humanidade.