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Partido Comunista do México (PCM): Sobre o resultado das eleições no México

Cem Flores

14.06.2024

No dia 2 de junho, a candidata do partido governista Morena saiu vitoriosa das eleições presidenciais do México. Claudia Sheinbaum derrotou a opositora Xóchitl Gálvez com cerca de 30 pontos percentuais de diferença e foi saudada de imediato por vários partidos e governantes ditos de “esquerda” na América Latina. Lula, por exemplo, parabenizou Sheinbaum como uma “mulher progressista à frente da presidência do México, uma vitória da democracia”. Assim como saudou o atual presidente Obrador por ter feito “um governo extraordinário”. Um governo burguês sempre reconhece o seu semelhante!

Publicamos abaixo uma avaliação comunista das eleições mexicanas feita pelos/as camaradas do Partido Comunista do México (PCM). Em nota de seu Birô Político, traduzida pelos camaradas do blog Página 1917, o PCM afirma que as principais candidaturas presidenciais no México representaram uma disputa entre “dois grandes blocos burgueses”, cujos programas governamentais apresentam apenas mínimas diferenças, com uma mesma posição de classe burguesa de fundo.

Como afirmam os/as camaradas mexicanos, o governo de Sheinbaum deve continuar a gestão burguesa de Obrador em favor dos monopólios mexicanos e da expansão de seus lucros e em prol da legitimação do violento estado capitalista mexicano e sua democracia fajuta. Ou seja, a nova presidente prosseguirá com as políticas contra o proletariado e demais classes trabalhadoras do país, enquanto ilude sobre o suposto capitalismo “menos pior”.

Afirma o PCM:

“Quão iludidos estão aqueles que pensam que o governo Obrador ou Sheinbaum são expressões de esquerda ou populares. Aqueles oportunistas que de diversas latitudes saúdam Sheinbaum com cinismo, assim como ontem permaneceram calados diante da militarização e da desapropriação, são co-responsáveis ​​pela agonia do povo e dos trabalhadores do México. Igualmente iludidos, ou abjetos, estão aqueles que proclamam como um marco histórico que existe uma Presidente em vez de um Presidente, quando esta também representa interesses antagônicos aos de milhões de mulheres trabalhadoras mexicanas e migrantes que continuam a viver na própria carne não apenas a intensificação da exploração do capital, mas a violência social e criminosa imparável.”

Os/as camaradas mexicanos defendem a continuidade da luta contra mais um governo burguês no país. Durante as eleições, o PCM lançou uma campanha de denúncia, com manifestações, comícios e uma “candidatura” não oficial que recebeu dezenas de milhares de votos. Na eleição também foram registrados mais de um milhão de votos nulos, rejeitando ambas as candidatas da burguesia.

Frente à miséria crônica, às guerras e ao avanço do fascismo e da ofensiva burguesa, não cabe ao proletariado vacilações e tergiversações. A classe proletária e as demais classes exploradas não barrarão seus inimigos de classe rendendo-se às frentes eleitoreiras amorfas e às ilusões do reformismo e de um “capitalismo mais humano”. Será seguindo o caminho da independência de classe, da unidade entre os que lutam contra o capital, que reconstruiremos o campo político revolucionário – o único capaz de pôr fim a essa sociedade baseada na exploração e construir com as massas um futuro digno deste nome.

O atual presidente mexicano, à direita, com um de seus patrões, o líder empresarial Juan Pablo Castañón.

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Sobre o resultado das eleições no México

Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista do México

04/06/2024

O processo eleitoral no México foi concluído com a votação no domingo, 2 de junho, para eleger o Presidente da República, Câmaras de Deputados e Senadores, Governos da Cidade do México e outras entidades, diversas legislaturas locais e governos municipais de vários estados.

O processo eleitoral foi marcado pela intervenção governamental em favor do seu partido MORENA, pela utilização de programas sociais, ou seja, pelo lucro da pobreza extrema, pela demagogia dos dois grandes blocos burgueses e das suas candidatas, Claudia Sheinbaum e Xóchitl Gálvez, as campanhas sujas, pelo desperdício obsceno de dinheiro, tanto das prerrogativas do Instituto Nacional Eleitoral (INE), como de fontes estranhas (ou de grupos empresariais ou do crime organizado), pela violência.

Ficou visível o rol de traição governamental do Partido do Movimento Cidadão; também é um elemento notável que, desde o ponto de vista programático, Sheinbaum e Gálvez estivessem enquadrados na mesma plataforma, com diferenças menores e não essenciais. Fundamentalmente, ambas ratificaram o compromisso de levar a frente a gestão do capitalismo.

Os resultados são claros: foi eleita Claudia Sheinbaum, que terá maioria qualificada para levar a cabo o conjunto de medidas legislativas que considera necessárias uma vez que o PRI e o PAN não terão uma correlação de forças que as dificulte. Será implementado o chamado Plano C, que entre outras medidas visa colocar a Guarda Nacional sob controlo militar. Desde o início da campanha, os empresários ditaram as suas prioridades. Hoje é verificável a satisfação da classe dominante, do poder dos monopólios, com este resultado, com as felicitações imediatas dos banqueiros e das câmaras patronais.

O governo Obrador, que chega ao seu fim formal, alcançou, após quase três décadas de instabilidade social e de intensificação da luta de classes devido às políticas de choque das privatizações, uma paz social que tem permitido uma rápida fase de expansão capitalista que levou o México a melhorar a posição da sua economia capitalista dentro do sistema imperialista, desbancando Espanha, Austrália, Coreia do Sul, e aproximando-se de ser uma das 10 principais economias capitalistas do mundo. Com Obrador, os monopólios duplicaram os seus lucros, primeiro através do aumento da taxa de extração de mais-valia, desvalorizando a força de trabalho, através da imposição de políticas antipopulares e anti-imigrantes e de medidas que anteriormente tinham sido rejeitadas. Ratificou o T-MEC, apesar de se apresentar como antineoliberal e de declarar o fim do neoliberalismo, não reverteu nenhuma das privatizações, e os monopólios que delas beneficiaram na década de 90 foram aliados do Presidente neste mandato de seis anos.

Obrador se encarregou da relegitimação do Estado e de suas desacreditadas forças repressivas, especialmente o Exército, curou temporariamente as fissuras na dominação de classe da burguesia, recorrendo à fórmula já testada por Plutarco Elías Calles em 1929: um partido de Estado pluriclassista. Nos últimos seis anos, o MORENA funcionou como pista de aterrissagem dos grupos e correntes do PRI – incluindo o grupo Atlacomulco – e também do PAN. Tal como o PNR-PRM-PRI, hoje o MORENA afirma representar o interesse popular quando na verdade expressa o interesse de classe da burguesia e dos monopólios. Em conteúdo e forma, restaura o presidencialismo absolutista, o autoritarismo. Neste momento os monopólios, os industriais e os banqueiros estão satisfeitos com o obradismo e na disputa interburguesa apoiaram-no, enviando para a reserva o PRI e o PAN, que duplicaram eleitoralmente.

Assim, o triunfo de Sheinbaum já tem o seu rumo pré-determinado: o de uma gestão antioperária e antipopular, ela não esconde com o que pomposamente chama de segundo andar do 4T, que ela também chama de capitalismo consciente, que significa simplesmente a abertura ao nearshoring e à relocalização, para ocupar, no quadro do conflito e das rivalidades entre os estados capitalistas da China e dos Estados Unidos, o lugar que a China tinha como produtor dos bens exigidos pelo mercado norte-americano. Para tal se iniciou e continuará a construção e o desenvolvimento de infraestruturas de transportes, comunicações e logística, pisoteando os direitos dos trabalhadores e dos povos originário e sacrificando os recursos naturais. Notamos que a burguesia projetou, desde a campanha, dois de seus quadros como substitutos na direção do Estado: Omar García Harfuch e Altagracia Gómez, com comprovada linha antipopular e de defesa da ordem.

A demagogia é a marca do governo Obrador e será a marca de Sheinbaum. Eles montaram vulgarmente a tragédia de Ayotzinapa e traíram as vítimas para se juntarem aos algozes. Têm sido indolentes face ao genocídio na Palestina, ou frente à expansão do tráfico de drogas em todo o México e frente aos milhares de mortos e desaparecidos.

Quão iludidos estão aqueles que pensam que o governo Obrador ou Sheinbaum são expressões de esquerda ou populares. Aqueles oportunistas que de diversas latitudes saúdam Sheinbaum com cinismo, assim como ontem permaneceram calados diante da militarização e da desapropriação, são co-responsáveis ​​pela agonia do povo e dos trabalhadores do México. Igualmente iludidos, ou abjetos, estão aqueles que proclamam como um marco histórico que existe uma Presidente em vez de um Presidente, quando esta também representa interesses antagônicos aos de milhões de mulheres trabalhadoras mexicanas e migrantes que continuam a viver na própria carne não apenas a intensificação da exploração do capital, mas a violência social e criminosa imparável.

O Partido Comunista do México sem dúvida continuará lutando contra Obrador e a partir de 1º de outubro contra Claudia Sheinbaum, pois expressam os interesses de classe da exploração. Estamos conscientes do momento, da necessidade de fortalecer os laços políticos e organizacionais com os trabalhadores, as mulheres trabalhadoras, os jovens e estudantes, os migrantes, com os povos indígenas, com as organizações classistas independentes, para com uma aliança social anticapitalista e antimonopolista desenvolver o antagonismo com a socialdemocracia de Obrador /Sheinbaum.

Neste sentido, a campanha comunista foi um passo em frente que permitiu contatar milhares de trabalhadores, quase 234 mil, com uma plataforma programática classista, para um novo poder e uma nova economia, baseada na propriedade social dos meios de produção. É um estimulo a votação recebida por Marco Vinicio Dávila, candidato comunista à Presidência da República, e nos demais candidatos comunistas, que é formado por milhares de trabalhadores que optaram por lutar, apesar de todas as dificuldades legais e extralegais. De acordo com a tendência do PREP, a votação nas candidaturas não registadas é agora de 85 mil e poderá chegar aos 90 mil, e também temos provas de que muitos dos votos nas nossas candidaturas foram registados como nulos. Apelamos a quem decidiu votar no comunismo a dar um passo em frente, e juntos lutamos diariamente até mudarmos tudo o que precisa de ser mudado, para lutarmos pelo novo Mundo do socialismo-comunismo. Saudamos também os mais de 1.300.000 votos nulos, muitos dos que reivindicam os seus desaparecidos, daqueles que estão conscientes de que nem a MORENA nem o PRI-PAN são uma saída, decidiram rejeitá-los. É uma boa perspectiva que milhares de trabalhadores e jovens tenham optado por lutar e não ficarem presos ao dilema do mal menor.

Com o proletariado, com a classe trabalhadora, lutando todos os dias, sem trégua, com o otimismo no futuro que virá se estivermos dispostos a sustentar posições classistas e internacionalistas.

Proletários de todos os países, uni-vos!

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- 14/06/2024