As eleições do parlamento europeu
Boletim Que Fazer – junho de 2024
A extrema-direita avança no continente europeu, exigindo o reforço da luta proletária contra a ofensiva burguesa em suas diferentes versões políticas e eleitorais. Na imagem, protesto contra a extrema-direita em Paris.
Cem Flores
22.06.2024
Eleições em contexto de guerra e estagnação
Entre os dias 6 e 9 de junho ocorreram as eleições para o parlamento europeu. Esse parlamento é composto por centenas de representantes de 27 países-membros da União Europeia (UE) e é responsável por elaborar e decidir sobre leis e orçamentos que vigoram para todos os países desse bloco imperialista.
As eleições de 2024 ocorreram em plena continuidade da guerra interimperialista na Ucrânia e do genocídio palestino por Israel. Em ambos os conflitos, a Comissão Europeia, o “governo” do bloco europeu, possui uma importante influência. No caso ucraniano, a UE, juntamente aos EUA e a OTAN, financia e apoia o regime ucraniano reacionário e os interesses do bloco liderado pelos EUA na região. Recentemente, no mesmo momento em que estimula a guerra que destrói a Ucrânia e já matou centenas de milhares de trabalhadores, a UE está articulando junto a vários países a “reconstrução ucraniana”, oportunidade acima de tudo lucrativa para seus capitais. No caso palestino, a UE apoia a ocupação e o genocídio promovidos por Israel, enquanto condena a resistência palestina. Vários estados-membros do bloco reprimiram manifestações de solidariedade à luta do povo palestino desde o ano passado. Na Europa, lutar contra o genocídio da Palestina é considerado pela maioria dos governos como “antissemitismo”.
Impulsionando o contexto de guerra e barbárie imperialista ao qual a UE está inserida, o bloco vive há anos uma estagnação econômica, empurrando seus capitais, suas burguesias e seus estados a explorarem ainda mais os/as trabalhadores/as na Europa e regiões dominadas.
O cenário de estagnação econômica e de ampliação da guerra na Europa tem impactado diretamente a conjuntura política dos países-membros da UE. Governos e partidos da direita e da dita “esquerda” defendem e aplicam medidas contra as classes trabalhadoras e apoiam as guerras em curso. Como reação, no último período ocorreram diversas greves e protestos em resistência contra a ofensiva de classe burguesa e o avanço da barbárie imperialista. Exemplos importantes foram as lutas em solidariedade ao povo palestino, os protestos contra a OTAN e o envio de armas para a guerra na Ucrânia e as greves gerais contra a reforma previdenciária francesa no ano passado.
No entanto, as lutas das massas exploradas lá e em vários locais do mundo encontram diversas dificuldades, advindas da própria crise do movimento comunista e da frágil posição proletária nas lutas. Parte do descontentamento contra a ordem burguesa e seu sistema político falido acaba sendo canalizado por forças reacionárias e fascistas, que vêm se consolidando em vários países europeus. As eleições para o parlamento europeu deste ano apenas ratificaram tal fato.
O resultado das eleições e suas lições
A direita e a dita esquerda “moderadas” ficaram com a maior quantidade de cadeiras no parlamento, continuando como forças majoritárias no bloco. Ou seja, pode-se esperar do governo da UE a continuidade dos ataques às classes trabalhadoras, repressão aos seus protestos e apoio às guerras em curso.
O destaque que mais impactou essas eleições, no entanto, foi o desempenho de candidatos da extrema direita. Com mais de 130 cadeiras, partidos fascistas e neonazistas, principalmente da Alemanha, França e Itália, ampliaram sua presença no parlamento. Essa ala fascista da política burguesa europeia já está no governo da Itália, da Hungria e até recentemente estava na Polônia, além de ser força relevante em vários outros países.
Sem dúvida, trata-se de mais uma ameaça às classes trabalhadoras na Europa e no mundo. A extrema-direita europeia luta para a construção de regimes políticos ainda mais autoritários contra as massas, e defende abertamente práticas racistas, xenofóbicas, misóginas e homofóbicas.
O crescimento do fascismo no continente europeu demonstra a falência das ilusões e das frentes eleitoreiras dos reformistas europeus durante os últimos anos. O combate ao fascismo não virá do recuo da luta, mas de seu avanço. Inclusive na luta contra a ala dominante hoje na UE.
A saída para os trabalhadores
Em protesto contra o resultado das eleições para o parlamento europeu, ocorreu uma grande manifestação em Paris, com dezenas de milhares de pessoas. A luta concreta e a organização das classes trabalhadoras na Europa são a única saída para barrar não só o avanço do fascismo, mas dos outros ataques dos últimos anos, frutos da crise desse sistema de exploração. Romper as ilusões com a “esquerda” reformista é parte dessa saída.
Algumas organizações e partidos comunistas na Europa levantaram a bandeira da revolução no período eleitoral, inclusive denunciando o papel nefasto da UE nas guerras imperialistas hoje. O Partido Comunista da Grécia (KKE) vem aumentando sua representação parlamentar nos últimos anos e alcançou quase 10% dos votos do país. Junto com outros partidos comunistas, o KKE tem adotado uma política de oposição a partidos e governos burgueses e combatido as fajutas alianças “antifascistas” sem um caráter revolucionário e de classe.
O trabalho dos/as revolucionários/as na Europa e nos outros continentes é organizar e dar direção ao amplo descontentamento das massas exploradas contra os patrões, seus representantes e instituições. Será no avanço da alternativa revolucionária que faremos recuar nossos inimigos de classe e as ameaças que pairam sobre as massas nesse duro período da história.