CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

Conjuntura, Destaque, Imperialismo, Internacional

O Imperialismo é Crise, Exploração, Destruição e Guerra!

No final de setembro, Israel e seu governo fascista intensificou os ataques militares ao Líbano buscando generalizar a guerra para toda a região do Oriente Médio. Já são mais de mil mortos e um milhão de refugiados, ao mesmo tempo em que os territórios palestinos são devastados com o apoio norte-americano.

Cem Flores

02.10.2024

Na semana passada, nos Estados Unidos, ocorreu mais uma assembleia geral da organização das nações unidas. Com o cínico tema “Não deixar ninguém para trás: Agindo juntos para o avanço da paz, do desenvolvimento sustentável e da dignidade humana para as gerações presentes e futuras”, o evento na realidade foi um palco para os líderes políticos burgueses de todo o mundo expressaram a real situação do sistema imperialista hoje: um sistema atolado em profundas contradições e em plena escalada militar. Em vez de avanço da paz, o capital só tem a oferecer o avanço da barbárie.

Um exemplo claro da absoluta inutilidade dessa organização apodrecida e da profundidade da barbárie imperialista nos tempos atuais é o conjunto de ações do estado sionista de Israel no último período. Além contínua tentativa de genocídio do povo palestino, expresso no massacre perpetrado nos últimos meses na Faixa de Gaza (mais de 50 mil palestinos mortos, principalmente mulheres e crianças), Israel, com o apoio militar, econômico e político dos EUA, avança agora contra os libaneses, ampliando a guerra. Após assassinar Ismail Haniyeh, líder do Hamas responsável pelas negociações com Israel (deixando claro que aos sionistas não interessa a paz e muito menos resolver a questão dos reféns presos pela resistência palestina), avança contra a população do Líbano com explosões aleatórias de aparelhos eletrônicos (milhares de pagers e walkies-talkies, com centenas de mortos e feridos), toneladas de bombas em áreas civis de várias cidades, incluindo Beirute (mais de mil mortos em uma semana), e o assassinato dos dirigentes do Hezbollah, entre os quais o secretário geral Hassam Nasrallah (a ordem do assassinato foi dada por Netanyahu quando participava da assembleia da ONU). A intenção de Israel está evidente: manter e expandir a guerra por todo o Oriente Médio. E o imperialismo norte-americano, mesmo não concordando totalmente com todas e cada uma das ações do governo fascista israelense, em nenhum momento vacilou ou vacilará no apoio ao seu principal aliado na região.

A segunda e já esperada resposta do Irã, potência regional atacada várias vezes por Israel nos últimos meses, ocorreu na noite de 1º de outubro, com o lançamento de centenas de mísseis em direção ao território israelense. Vários alvos foram atingidos e as declarações de Israel e dos EUA apontam para uma escalada ainda maior, ampliando a possibilidade de um conflito de dimensões globais.

Irã atingindo alvos em Israel.

O Imperialismo é crise, exploração, destruição e guerra! Esse é exatamente o título do tópico que abre nossas Resoluções Políticas do 3º Encontro de Organização, publicado recentemente no site. Reproduzimos abaixo esse e os demais tópicos das Resoluções que abordam a conjuntura internacional. O seguinte panorama destaca as principais causas e características do atual cenário de intensificação das contradições do sistema imperialista, segundo a posição do Coletivo Cem Flores. Além de afirmar a perspectiva revolucionária, a única capaz de fazer ressurgir a força proletária na luta de classes e construir um futuro digno às massas exploradas.

*  *  *

Trecho das Resoluções Políticas do 3º Encontro de Organização: Fortalecer nossa Organização Comunista no seio do Proletariado e das Massas Trabalhadoras

 

1. O Imperialismo é Crise, Exploração, Destruição e Guerra!

1.1. O imperialismo é o capitalismo dos dias de hoje. O imperialismo é comandado pelos monopólios transnacionais, as empresas capitalistas gigantes que controlam a produção e a circulação de mercadorias, as finanças, a informação, a ideologia e os governos no mundo todo. Esses monopólios concentram produção e riqueza nunca antes vistas na história e são mais poderosos que a maioria absoluta dos países. Do outro lado, estão bilhões de trabalhadores condenados à exploração e à miséria por esses monopólios.

1.2. O imperialismo também é um sistema mundial, com países e/ou blocos imperialistas (dominantes) e dominados. Os imperialistas dividem o mundo entre si, a partir da força e dos interesses dos seus monopólios. Essa divisão internacional do trabalho organiza a produção e as trocas mundiais e é sempre contestada pelas novas potências imperialistas, o que leva a guerras.

1.3. O imperialismo está numa grande crise, que colocou a economia mundial em estado depressivo. Nessa crise, se agravam as contradições interimperialistas, as disputas entre as maiores potências imperialistas, principalmente os EUA, potência imperialista dominante, porém em declínio relativo, e a China, potência imperialista ascendente. Essa crise leva os patrões a explorar ainda mais as massas trabalhadoras, buscando aumentar suas taxas de lucro. É uma ofensiva de classe da burguesia contra o proletariado, que piora todos os aspectos das nossas vidas.

1.4. O imperialismo é o responsável pela destruição do meio-ambiente do nosso planeta e esse colapso ambiental capitalista é uma nova dimensão da crise e da piora das condições de vida proletárias. Para ter lucros cada vez maiores, a burguesia derruba florestas, usa veneno nas plantações, polui rios e mares, e os governos a mando dos patrões não fazem quase nada para impedir, pelo contrário! O resultado é o aquecimento global, as grandes secas em alguns lugares e os verdadeiros dilúvios em outros, com alagamentos, desmoronamentos dos morros e mortes do povo trabalhador.

1.5. A única saída deste inferno capitalista é acabar com a burguesia, expropriando seus meios de produção e reprodução e passando-os para as mãos de quem verdadeiramente trabalha e produz, visando satisfazer as necessidades dos trabalhadores organizados de forma coletiva, independente e autônoma. Isso significa derrubar o capitalismo/imperialismo, fazer a Revolução e construir o Socialismo e o Comunismo no Brasil e no mundo todo!

 

2. As Transformações Recentes do Sistema Imperialista Mundial

2.1. A principal mudança no sistema imperialista mundial neste século é a ascensão da China como potência imperialista. A economia chinesa já é maior que as de Alemanha, Japão, Inglaterra, França e Itália, somadas, e está se aproximando cada vez mais dos EUA. A China já tem a maior produção industrial e é a maior exportadora do mundo. A China ampliou sua zona de influência, inicialmente entre seus vizinhos do Sudeste Asiático, e atualmente em grande parte do mundo, incluindo o restante da Ásia, a África e a América Latina. A ampliação do poder econômico, tecnológico, financeiro, militar, político e ideológico da China resulta em agravamento das contradições interimperialistas, especialmente com os EUA, pois força necessariamente uma nova partilha do mundo entre as potências imperialistas.

2.2. A esse crescimento da China como potência imperialista ascendente corresponde o declínio relativo dos EUA, a principal potência imperialista. Os EUA permanecem a maior economia, a sede dos principais monopólios transnacionais e detêm os maiores mercados financeiros do planeta e são os emissores da moeda mundial (dólar). Os EUA realizam os maiores gastos armamentistas e lideram a maior aliança militar do mundo (OTAN). Em suma, exercem uma atuação verdadeiramente global em todos os aspectos. Mas estão sendo confrontados em todos esses campos, crescentemente e de forma cada vez mais real, pela China. Os EUA também iniciaram e foram o centro da atual crise do imperialismo.

2.3. As transformações recentes do sistema imperialista também incluem a decadência relativa dos velhos países imperialistas (a falência da Europa imperialista e a estagnação do Japão); a retomada do poderio militar da Rússia e sua aliança estratégica com a China; e o fortalecimento regional de alguns poucos países, como a Índia, país de maior crescimento atualmente e possuidor de armas nucleares, o Irã, em confronto com Israel, a Arábia Saudita e a Turquia. Na América Latina, em função do longo e forte domínio dos EUA e da recente penetração chinesa, não há movimento regional similar, assim como na África.

2.4. Neste século, o sistema imperialista também reforçou seu caráter mundial, mediante as cadeias globais de produção. A produção de mercadorias é hoje altamente internacionalizada. Partes de um mesmo processo produtivo são distribuídas em diversos países, sob o estrito controle dos monopólios transnacionais. O desenvolvimento de novas tecnologias de informação e comunicação e os avanços nos transportes contribuíram para esse reforço da dominação imperialista e para o aumento da exploração das massas proletárias de todos os países. A crise do imperialismo também ampliou a reprodução puramente fictícia do capital, fortalecendo a dominação dos monopólios transnacionais de capital financeiro.

2.5. Esse desenvolvimento tecnológico também cumpre um papel importante na ofensiva ideológica e repressiva do capital, na medida em que a internet e as redes sociais servem como ferramentas ideológicas da burguesia, além de instrumentos de controle e vigilância sobre as massas.

2.6. O imperialismo é um sistema insustentável ecologicamente, rumo ao colapso ambiental, tendência que tem se agravado neste século. A crise do imperialismo o torna ainda mais destrutivo, eliminando progressivamente todos os entraves e limites anteriores à acumulação, inclusive ambientais, na tentativa de retomar suas taxas de lucro. Apenas no setor de petróleo, temos como exemplos as novas técnicas de produção mais prejudiciais ao meio ambiente (gás de xisto obtido por fraturamento hidráulico) e as novas fronteiras de produção (Oceano Ártico, Alasca e a foz do rio Amazonas). Assim, a crise do capital e a crise ambiental se reforçam mutuamente. A crise ambiental é uma importante dimensão da crise do imperialismo, reduzindo a produtividade, destruindo capital e afetando as taxas de lucro, como no caso de secas, enchentes, poluição, aquecimento global, entre outros. Não é possível evitar o colapso ambiental sem a derrubada revolucionária do capitalismo. Os comunistas devem criticar radicalmente tanto a inação dos estados e governos capitalistas em suas inúmeras reuniões globais fraudulentas e suas metas sempre descumpridas, quanto o reformismo e o oportunismo da defesa de um capitalismo “verde” ou “sustentável”, que nada mais são que propostas para a gestão do capital, para a defesa da burguesia.

 

3. A Conjuntura Econômica Atual do Sistema Imperialista Mundial

3.1. Desde a última grande crise do imperialismo, iniciada em 2007-08 e que ainda não acabou, o sistema imperialista mundial vive uma longa onda depressiva. As projeções atuais de crescimento da economia mundial, por volta de 3%, são apenas um pouco mais da metade do que eram antes do início da crise, quase 5%. Tal crise tem reforçado mudanças no sistema imperialista mundial e agravado as contradições interimperialistas.

3.2. Nos EUA houve um crescimento anual pós-pandemia de Covid-19 entre 2% e 2,5%, o maior dentre os países imperialistas (exceto a China), mas que parece ter se esgotado. Os lucros são cada vez mais apropriados por um punhado de monopólios gigantes, com boa parte das demais empresas no prejuízo ou baixa lucratividade, além de muito endividadas. A taxa de desemprego atingiu mínimos históricos, mas voltou a crescer e os salários aumentaram pouco. Há mais de 40 milhões na pobreza, queda na expectativa de vida e o governo gasta o dobro em programas de alimentação em comparação com a crise de 2007-08. Nessas condições, o número de trabalhadores em greve bateu o recorde de quase 40 anos. Ou seja, pioram as condições de trabalho e de vida das massas trabalhadoras na principal potência imperialista do mundo, resultado da ofensiva de classe da burguesia.

3.3. Desde a última crise financeira, a taxa de crescimento da China desacelera, mas o país é cada vez mais importante no sistema imperialista mundial. Em 2007, o crescimento da China foi de quase 12%, percentual que se reduziu a 5% nos dois últimos anos. Essa desaceleração é fruto da crise econômica no sistema imperialista e do agravamento de contradições capitalistas na China, especialmente no setor da construção (em recessão), reduzindo a lucratividade do capital. Após o fim do isolamento social da Covid-19 no país, no final de 2022, as greves operárias na China, em 2023, foram as maiores desde 2016. Os trabalhadores têm conquistado aumentos salariais, mas permanecem submetidos a um regime de intensa exploração capitalista e repressão.

3.4. Os países imperialistas da Europa e o Japão permanecem com suas economias estagnadas, no caso japonês desde o estouro da bolha especulativa e imobiliária do começo dos anos 1990 e, no europeu, pelo menos desde a crise de 2007-08. Essas potências imperialistas têm cada vez menos poder no sistema imperialista mundial. Ainda que as taxas de desemprego estejam baixas nesses países, após a recuperação da pandemia de Covid-19, as sucessivas “reformas” trabalhistas, em especial na Europa, deterioraram ainda mais as condições de vida das massas trabalhadoras.

3.5. A Rússia é um país imperialista, cuja economia é dominada por grandes monopólios capitalistas – com destaque para os setores de produção e exportação de commodities agrícolas e energéticas, além dos setores militar e aeroespacial – e que busca consolidar e expandir sua área de influência econômica e geopolítica e está, crescentemente, aliado à China. Na sequência de um período de crescimento econômico pós-colapso soviético, a economia russa perdeu dinamismo depois da crise do imperialismo iniciada em 2007-08 e cresceu menos de 2% ao ano nos últimos 15 anos, reduzindo sua participação na economia mundial. Esse período também foi caracterizado por guerras no seu entorno, como nos casos da Geórgia (2008), Criméia (2014) e Ucrânia (2022). O agravamento das contradições interimperialistas com os EUA/OTAN levou a Rússia a sofrer pesadas sanções comerciais, econômicas e financeiras. O reforço de sua aliança estratégica com a China e uma reorganização da produção, exportação e finanças limitaram os efeitos de curto prazo das sanções e, junto com o esforço de guerra, devem levar o crescimento a mais de 3% no biênio 2023-24. A Rússia é, em aliança com a China, um dos principais polos das contradições interimperialistas da atualidade.

3.6. Dentre os países dominados, a Índia se destaca como a economia mais dinâmica, com crescimento anual pós-pandemia acima de 7%, explorando brutalmente suas classes trabalhadoras com baixos salários e péssimas condições de trabalho, e ascendendo à condição de liderança regional asiática. Possuidora de arsenal nuclear, a Índia participa tanto de alianças com a China (BRICS), quanto contra a China (Quad, liderado pelos EUA, com participação de Japão, Austrália e Índia), além de ter acordos bilaterais com os EUA nas áreas de defesa, espacial, tecnologia e semicondutores.

3.7. Especificamente na América Latina houve um processo generalizado de reprimarização, estimulado pela crescente demanda chinesa por commodities alimentares e energéticas, com a China se tornando o principal parceiro comercial de praticamente todos os países do continente, no lugar dos EUA. Os investimentos produtivos e os empréstimos chineses para a região também são crescentes. Em geral, as economias latino-americanas têm se caracterizado por baixo crescimento, baixos salários, alta informalidade e exploração nas relações de trabalho, independentemente de oscilarem entre governos de direita (ou de extrema-direita, fascistas) e da “esquerda” reformista na gestão do capital e na defesa dos interesses das burguesias doméstica e estrangeira.

 

4. A Ofensiva Burguesa

4.1. A resposta da burguesia à crise e à situação depressiva do imperialismo é sua ofensiva de classe contra as massas trabalhadoras em todo o mundo. O aumento da exploração capitalista é a principal forma de o capital buscar recuperar suas taxas de lucro. Neste século se generalizaram “reformas” trabalhistas, novas relações de trabalho cada vez mais precarizadas, jornadas de trabalho com duração igual às do século 19, informalidade etc. Isso tem levado tanto ao aumento da concentração e da centralização de capitais, ao crescimento inimaginável da riqueza dos grandes capitalistas, quanto ao aumento da pobreza e da miséria entre as massas exploradas. Esse aumento da exploração é acompanhado por uma maior repressão às lutas dos trabalhadores, seja nos marcos da democracia burguesa, seja nos regimes autoritários, fascistas, que tem crescido. As reações das massas trabalhadoras ainda são bastante pontuais e insuficientes, também devido ao predomínio do reformismo e do oportunismo e da ausência ou debilidade da posição comunista com influência de massas na maioria dos países.

4.2. No capitalismo, o desenvolvimento da tecnologia e os ganhos de produtividade também são formas de ampliar a exploração da classe operária e das demais classes trabalhadoras. Atualmente, as tecnologias de informação são dominadas principalmente pelos grandes monopólios transnacionais (big techs), sediados nos EUA, tendo como concorrentes principais seus equivalentes chineses. Esses monopólios e suas tecnologias tornaram-se centrais na produção e reprodução do capital, atuam em quase todos os países e setores, da manufatura ao varejo e às finanças, e são parte relevante das atuais contradições interimperialistas. A partir da crescente socialização digital por meio de suas plataformas, esses monopólios também são ferramentas ideológicas e políticas fundamentais para o capitalismo, inclusive para o controle e a repressão por parte dos aparelhos de estado burgueses. As redes sociais e tecnologias também estão alterando as relações sociais e o cotidiano das massas exploradas, colocando sob novos patamares a luta ideológica e a disputa de consciência.

4.3. As relações de trabalho na indústria da tecnologia se caracterizam tipicamente por um alto grau de exploração dos trabalhadores, sejam os programadores, sejam os trabalhadores por aplicativos. As classes trabalhadoras, no entanto, enfrentam e utilizam-se dessas novas tecnologias de informação. Há importantes lutas contra esses novos patrões “digitais” que se utilizaram das redes sociais para se organizarem. As condições tecnológicas do capitalismo se alteram, mas a exploração e a necessidade da luta se mantêm.

4.4. A prolongada crise do capital é a definidora, em última instância, da presente conjuntura mundial de ofensiva burguesa, de guinada à direita das posições reformistas, revisionistas, oportunistas e da socialdemocracia, de fortalecimento da extrema-direita e do fascismo, de agravamento das contradições interimperialistas e de guerras. Este século também é caracterizado pela continuidade da crise no marxismo e pela ausência de uma posição comunista, proletária e revolucionária, com força de massas na absoluta maioria dos países, substituída pela hegemonia de posições reformistas burguesas. Há, também, um quadro geral de reduzidas lutas sindicais e resistências das massas.

 

5. O Agravamento das Contradições Interimperialistas e as Guerras Imperialistas

5.1. A crise e as mudanças nas relações de poder das principais potências imperialistas forçam uma redefinição da partilha do mundo entre os monopólios transnacionais e as potências e seus blocos. Esse movimento agrava as contradições interimperialistas e leva, tendencialmente, a guerras imperialistas. Ou seja, trava-se, atualmente, uma disputa em todas as frentes pela hegemonia do sistema imperialista mundial, entre EUA e China, seus aliados e dominados.

5.2. EUA e China têm fortes relações econômicas e financeiras entre si e interpenetrações recíprocas de seus capitais. O maior déficit comercial dos EUA é com a China, assim como o maior superávit chinês é com os EUA, mais de R$ 1,5 trilhão. A China tem mais de R$ 4 trilhões em títulos de dívida do governo dos EUA. Os maiores monopólios dos EUA têm grandes fábricas na China – como a “giga-fábrica” da Tesla em Shangai que produziu quase 1 milhão de veículos em 2023 – ou produzem no país em parceria com os monopólios chineses, como é o caso da Apple e da Microsoft, entre outras, com computadores e eletrônicos produzidos pela Foxconn, com sede em Taiwan. Essa empresa é a maior produtora e exportadora do mundo dessas mercadorias – cujas fábricas são verdadeiros campos de trabalhos forçados, com jornadas extensas, exaustivas e mal remuneradas.

5.3. Diante dos avanços do imperialismo chinês, os EUA passaram a considerar a China como a principal ameaça estratégica à sua segurança nacional e ao seu domínio imperialista mundial e, com isso, passaram a se preparar para o confronto em todos os campos (comercial, econômico, financeiro, tecnológico, ideológico, militar). Alguns exemplos desses avanços chineses são: sua economia se aproximar do tamanho dos EUA, ser o principal parceiro comercial dos países da Ásia, África e América Latina, exportar capital com a “Nova Rota da Seda”, desenvolver novas tecnologias (5G, missões espaciais) e armamentos, liderar novas iniciativas internacionais como os BRICS, a Organização de Cooperação de Xangai etc.

5.4. Por um lado, os EUA iniciaram uma “guerra comercial” com a China, durante o governo Trump, que se manteve e foi ampliada com Biden. As sanções e retaliações contra empresas chinesas envolvem sua expulsão do mercado acionário dos EUA, proibição de transações econômicas e financeiras, estímulo a desinvestimento na China e tentativas de fortalecer a indústria dos EUA e de criação de novas cadeias produtivas com países vizinhos e “aliados” dos EUA – o que vem sendo chamado de “desglobalização”. Por outro, aumentam as provocações políticas e militares dos EUA em Taiwan e se reforça a OTAN, exatamente quando fica mais clara a crescente incapacidade política, econômica e militar de os EUA continuarem a provocar conflitos e intervir no mundo todo, como provam sua retirada do Afeganistão, a guerra no Iraque, na Síria e, principalmente, na Ucrânia.

5.5. A crise do imperialismo, o declínio relativo das tradicionais potências imperialistas e a ofensiva burguesa contra as massas trabalhadoras também se expressam no fortalecimento de forças fascistas, próprias da podridão do imperialismo. Não é coincidência que movimentos de extrema-direita, autoritários e fascistas, racistas e xenófobos, sejam alternativas de poder ou tenham crescido significativamente nos principais países imperialistas como EUA (Trump e o partido republicano), Alemanha (alternativa pela Alemanha), Inglaterra (reforma Reino Unido), França (reunião nacional) e Itália (irmãos da Itália). Essas forças também cresceram em Portugal (chega), Espanha (vox), Polônia (lei e justiça), Hungria (fidesz), Ucrânia (azov), Israel (likud), Índia (partido do povo indiano), Argentina (partido libertário) e Brasil (bolsonarismo). Em todos esses lugares, a extrema-direita, fascista, se fortalece como representante da burguesia para implementar seu programa de classe – disputando esse papel com a direita tradicional e a “esquerda”. Esse fortalecimento deixa clara a impotência dos demais setores da burguesia, em particular o reformismo “de esquerda”, em combater o fascismo a partir de “frentes amplas” – pois ambos compartilham a mesma tarefa de executar o programa de classe da ofensiva burguesa. Apenas o antifascismo proletário será capaz de enfrentar a burguesia e seu movimento fascista, como já o fez na primeira metade do século passado.

5.6. O agravamento das atuais contradições interimperialistas e suas disputas pela hegemonia no sistema imperialista mundial, por zonas de influência e por uma nova partilha do mundo, são tendências inerentes ao imperialismo, levando a guerras como uma forma de solução, sempre temporária, dessas contradições e disputas. Este século começou com agressões imperialistas diretas dos EUA e seus aliados ao Afeganistão, Iraque, Síria e vários outros países. Essas agressões deram vez a guerras regionais, como na Ucrânia e na Palestina. Crescentemente encontram-se diretamente opostos os interesses imperialistas dos EUA, e seus aliados europeus, com os da China e da Rússia, como são exemplos Taiwan e o Mar da China e a fronteira ocidental da Rússia. Guerras também se espalham pela África e pelo Oriente Médio.

5.7. A Guerra na Ucrânia é uma guerra imperialista que opõe diretamente os EUA e a OTAN contra a Rússia e, indiretamente, também contra a China. Nessa guerra estão opostos o expansionismo imperialista dos EUA-Europa em direção aos países do Leste Europeu e da ex-União Soviética, com o claro objetivo de contenção da Rússia, e o expansionismo imperialista da Rússia, buscando retomar e fortalecer sua zona de influência imediata. Os interesses comuns são os das burguesias desses países, que lucram com a indústria da guerra e da morte. Em 2023, os gastos militares mundiais cresceram 7% e superaram R$ 13 trilhões (mais do que o PIB brasileiro), puxados por EUA, China e Rússia. A Guerra na Ucrânia tem como antecedentes diretos os conflitos na Geórgia (2008) e na Criméia (2014). Após dois anos e meio de combates, a Rússia consolidou suas posições nos territórios orientais da Ucrânia, anexando-os ao seu próprio território. A ofensiva ucraniana para retomar essas regiões, armada e financiada pela OTAN, fracassou. O cenário atual tende a ser de consolidação das posições russas, restando aos EUA o recurso a sanções econômicas e financeiras, cujos efeitos têm se mostrado limitados, e contribuindo para o reforço da aliança China-Rússia em termos militares, tecnológicos, econômicos e financeiros.

5.8. A atual fase da Guerra na Palestina, iniciada com as ações militares do Hamas em território israelense em outubro de 2023, é consequência direta da ocupação colonial de Israel. A Faixa de Gaza é um campo de concentração a céu aberto, inteiramente controlado por Israel, desde a coleta de impostos e transferências financeiras até o fornecimento de água. Israel também mantêm milhares de reféns políticos palestinos presos. Os ataques israelenses à Gaza e à Cisjordânia constituem crimes de guerra e ações de genocídio contra o povo palestino, com mais de 41 mil mortos (dos quais pelo menos 10 mil crianças), 100 mil feridos e a quase totalidade da população de Gaza deslocada de suas casas. A guerra tem se generalizado na região, incluindo ações armadas dos Hutis no Mar Vermelho e um ataque ao território de Israel; ataques israelenses a grupos na Síria e no Iraque, a posições do Hezbollah, no Líbano, e contra o Irã, que têm revidado em ataques ao território israelense. A solidariedade à resistência palestina levou a grandes manifestações e a ocupações de universidades ao redor do mundo, como nos EUA, Inglaterra, França. É preciso atuar ativamente para reforçar a defesa proletária da causa palestina, reafirmar sua autodeterminação e barrar a mão armada do invasor colonialista e imperialista!

5.9. Na América Latina, as contradições interimperialistas entre os EUA e o bloco China-Rússia se agudizaram recentemente na disputa de poder na Venezuela. De um lado, o governo burguês de Maduro, que sofre sanções econômico-financeiras dos EUA e é apoiado política, econômica, financeira e militarmente por China-Rússia. De outro, a oposição liderada pela extrema-direita, aliada incondicional do imperialismo dos EUA. De maneira imediata, disputa-se o resultado das eleições presidenciais de 28 de julho – nas quais Maduro foi declarado vitorioso sem qualquer detalhamento das urnas. China, Rússia, Irã, Cuba e outros países reconheceram prontamente a vitória de Maduro. EUA, Argentina, Peru, Panamá reconheceram a vitória da oposição. A posição do governo Lula-Alckmin, junto com México e Colômbia, foi a de não reconhecer a eleição de Maduro, pedir a publicação das atas eleitorais, e posteriormente Lula passou a defender novas eleições. A questão de fundo, no entanto, é geopolítica e econômica, relativa ao controle das imensas reservas de petróleo venezuelanas. O governo Maduro representa setores da burguesia venezuelana, é apoiado pelos militares e forças policiais, e suas políticas para sair da gravíssima crise econômica do país envolvem acordos com monopólios petroleiros (como é o caso da Chevron) e, principalmente, um forte arrocho sobre as classes trabalhadoras e repressão a sindicalistas e comunistas.

 

Baixe as Resoluções Políticas completas aqui.

Compartilhe
- 02/10/2024