A conjuntura internacional no começo de 2025
Boletim Que Fazer – Janeiro de 2025
Baixo crescimento econômico, aumento da reação, intensificação das contradições interimperialistas e guerras marcam a conjuntura neste início de ano.
Cem Flores
10.01.2025
Economia mundial pós-pandemia
Após uma aguda recessão em 2020, fruto da pandemia de Covid-19, a economia global viveu anos de recuperação econômica. Muitos países recuperaram as perdas de produção daquela recessão; a taxa de desemprego voltou ao nível anterior à pandemia.
No entanto, novas contradições capitalistas foram postas em movimento. Houve, por exemplo, uma espiral inflacionária a nível global, seguida de um aumento das taxas de juros. Esse quadro piorou ainda mais o alto endividamento, sobretudo nos países dominados, e tem pressionado para baixo as taxas e perspectivas de crescimento. O mercado de trabalho ficou ainda mais precarizado, sem recuperação do poder de compra dos salários, atingidos pela carestia.
Em 2024, a economia global cresceu cerca de 3%, inclusive com várias potências imperialistas em nova recessão ou estagnadas, como é o caso da Alemanha, maior potência do bloco europeu e já em seu segundo ano seguido de crescimento zero.
Os ganhos da recuperação capitalista pós-pandemia, obviamente, se concentraram nos burgueses, que ampliaram ainda mais suas fortunas. Para as massas trabalhadoras de todos os países, esse período significou aumento da exploração e da carestia de vida.
Conflito EUA-China
As projeções atuais apontam para um crescimento geral estável em 2025, semelhante ao de 2024. Isso significa um crescimento médio menor que o do período pré-pandemia. Além do mais, as duas maiores potências imperialistas, EUA e China, devem apresentar desaceleração.
O que é certo é a continuidade, e mesmo a aceleração, do agravamento das contradições interimperialistas entre essas duas gigantescas economias que hoje disputam, em todos os níveis, a hegemonia no sistema imperialista mundial.
O candidato da extrema-direita venceu nos EUA e adicionou maiorias na câmara e no senado à maioria que já tinha na suprema corte. Internamente, o cenário é de aumento da repressão contra trabalhadores, sindicatos, imigrantes e opositores políticos, deterioração das condições de vida das massas, com ataques aos serviços públicos; além de ainda mais benefícios aos ricos. Externamente, além da promessa de aumento generalizado de tarifas de importação, Trump também promete concentrar forças no combate à China.
A China, por sua vez, prepara-se com mais pacotes estatais para enfrentar a desaceleração econômica interna e com a ampliação de sua zona de influência para fazer frente à nova onda de aumento das tarifas e outras medidas retaliatórias dos EUA, buscando consolidar alianças comerciais, diplomáticas e militares.
Guerras na Europa e no Oriente Médio
O agravamento das contradições interimperialistas perpassa não só o conflito central EUA-China, mas também diversas áreas do globo. O que tem levado inclusive à elevação dos gastos militares no mundo e a guerras como a da Ucrânia e do Oriente Médio.
A Rússia vem consolidando os territórios conquistados na Ucrânia e a provável redução ou interrupção do apoio imperialista dos EUA e da Europa, via OTAN, deve confirmar a derrota ucraniana na guerra. Essa possível vitória militar do imperialismo russo, e também político-diplomática, mostra importantes limites à efetividade das sanções imperialistas dos EUA. Mas a recente derrubada do governo sírio por um dos grupos da “insurreição islâmica” representou a derrota de um importante e explícito aliado russo (e do Irã).
Também no Oriente Médio, Israel e EUA continuam sua expansão colonialista. Na Palestina mantém-se o genocídio promovido pelo governo israelense de extrema-direita. A resistência palestina e seus apoiadores permanece organizada, embora tenha registrado importantes baixas recentes em função dos ataques de Israel e sua capacidade de passar à ofensiva parece bastante limitada.
Resistir à reação e à barbárie
Esse sistema no qual vivemos não serve às classes trabalhadoras, e sim aos patrões!
Por mais um ano, as projeções tendem à exploração, miséria e guerra para as massas oprimidas. Caso não haja o fortalecimento da resistência e da luta, as guerras, os governos reacionários e fascistas ou os eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes, serão uma ameaça diária em vários locais; em todo o mundo, bilhões continuarão na miséria, com sua saúde esgotada de tanto trabalhar… Segundo o próprio Banco Mundial, a extrema pobreza deve ficar estagnada nos próximos anos, e a década de 2020 pode ser uma “década perdida”. Deixado por si só, o imperialismo aprofundará a barbárie em que vivemos.
No ano de 2024, resistências continuaram a surgir, mostrando que é possível se organizar e reagir aos ataques impostos pelas classes dominantes e à fascistização e guerra. Greves gerais na Europa no final do ano são exemplos disso.
Ainda que de forma inicial e com debilidades, organizações e coletivos do movimento comunista buscam retomar posições revolucionárias em vários países, rompendo com as ilusões reformistas presentes na maioria da chamada “esquerda”. Resta a nós dedicarmos o melhor de nossos esforços nesse caminho ao longo de 2025.