CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

Destaque, Internacional, Lutas, Movimento operário

Lênin. O feriado dos trabalhadores – Primeiro de maio.

A Marcha dos Tecelões em Berlim – Käthe Kollwitz, 1897.

Cem Flores

01.05.2025

Há mais de um século, os trabalhadores e as trabalhadoras em todo o mundo celebram sua própria força e resistência no Dia Internacional dos Trabalhadores. Viva o 1º de maio! Somos uma só classe em todo o mundo!

Para celebrar essa data tão importante e resgatar nossa longa história de luta contra a exploração daqueles que vivem do suor de nosso trabalho, traduzimos e divulgamos um panfleto de 1896 escrito por Lênin, liderança histórica do proletariado russo que neste ano completa 155 anos de nascimento. Nesse texto, destinado aos operários de São Petersburgo, Lênin, então militante da União de Luta pela Emancipação da Classe Operária, lembra que o proletariado e as demais classes exploradas só possuem sua própria união, organização e espírito de sacrifício na luta contra seus inimigos de classe. “Nossa força está na união; nossa salvação está na resistência unida, obstinada e enérgica aos nossos exploradores”. Não há lição mais valiosa para se reforçar, enquanto perdurar essa sociedade baseada na exploração.

Neste primeiro de maio, celebramos e honramos todos os heróis e todas as lutas do passado que garantiram as conquistas que temos hoje. Relembramos, com nossos irmãos trabalhadores de todos os países, de nossa força que faz mover o mundo – e pode também, se quisermos, fazê-lo parar! Levantamos a bandeira vermelha de nossa libertação contra a escravidão, contra toda a canalha que se diz em nosso nome e ousa manchar esse dia nos conchavos com os patrões e seus governos!

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O feriado dos trabalhadores – Primeiro de maio

V. I. Lênin

Camaradas! Examinemos cuidadosamente nossas condições de vida; observemos o ambiente em que passamos nossos dias. O que nós vemos? Nós trabalhamos duro; nós criamos riquezas ilimitadas, ouro e tecidos caros, brocados e veludo; nós extraímos ferro e carvão das entranhas da terra; nós construímos máquinas, navios, castelos e ferrovias. Toda a riqueza do mundo é criada por nossas mãos, é obtida com nosso suor e sangue. E que recompensa nós recebemos por nosso trabalho árduo? Por justiça, nós deveríamos morar em belas casas, usar boas roupas e, de qualquer forma, não nos faltar o pão de cada dia. Mas todos nós sabemos muito bem que nossos salários mal são suficientes para sobreviver. Nossos chefes reduzem os salários, nos forçam a trabalhar mais horas, nos multam injustamente. Em suma, eles nos oprimem de todas as formas e, em caso de insatisfação de nossa parte, eles nos dispensam prontamente. Nós sempre descobrimos que aqueles a quem recorremos em busca de proteção são amigos e lacaios de nossos chefes. Nós, os trabalhadores, somos mantidos na ignorância, a educação nos é negada, para que não aprendamos a lutar para melhorar nossas condições. Eles nos mantêm em cativeiro, nos demitem sob o menor pretexto, prendem e exilam qualquer um que ofereça resistência à opressão, nos proíbem de lutar. Ignorância e escravidão – esses são os meios pelos quais os capitalistas e o governo, sempre a seu serviço, nos mantêm submissos.

Quais meios nós temos para melhorar nossas condições, aumentar nossos salários, reduzir nossa jornada de trabalho, nos proteger de abusos, ler livros úteis e com conhecimentos? Todos estão contra nós – os patrões (já que quanto pior estivermos, melhor eles viverão) e todos os seus lacaios, todos aqueles que vivem da generosidade dos capitalistas e que, a pedido deles, nos mantêm na ignorância e na escravidão. Nós não podemos pedir ajuda a ninguém; nós só podemos confiar em nós mesmos. Nossa força está na união; nossa salvação está na resistência unida, obstinada e enérgica aos nossos exploradores. Há muito tempo eles entenderam onde está a nossa força e tentam de todas as formas nos manter divididos e não nos deixar entender que nós, trabalhadores, temos interesses em comum. Eles cortam os salários, não de todos ao mesmo tempo, mas um de cada vez. Eles nos impõem capatazes, introduzem o trabalho por peça; e, rindo de como nós trabalhamos duro, reduzem nossos salários pouco a pouco. Mas é uma longa estrada sem volta. Há um limite nessa situação toda. Durante o ano passado, os trabalhadores russos mostraram aos seus patrões que a submissão servil pode ser transformada na coragem firme de homens que não se submeterão à insolência de capitalistas ávidos por trabalho não pago.

Em várias cidades, ocorreram greves: em Yaroslavl, Taikovo, Ivanovo-Voznesensk, Belostok, Vilna, Minsk, Kiev, Moscou e outras. A maioria das greves terminou com vitória para os trabalhadores, mas mesmo as greves derrotadas são apenas aparentemente malsucedidas. Na realidade, elas assustam terrivelmente os patrões, lhes causam grandes perdas e os forçam a fazer concessões por medo de uma nova greve. Os inspetores de fábrica também começam a se agitar e percebem a cegueira capitalista. Seus olhos só são abertos quando os operários convocam uma greve. Quando, de fato, os inspetores percebem o desgoverno nas fábricas de personagens influentes como o Sr. Tornton ou os acionistas da fábrica Putilov.

Em São Petersburgo, também criamos problemas para os patrões. A greve dos tecelões da fábrica de Tornton, dos operários do setor de cigarros das fábricas de Laferm e Lebedev, dos operários da fábrica de calçados, a agitação entre os operários das fábricas de Kenig e Varonin e entre os trabalhadores das docas e, por fim, os recentes distúrbios em Sestroretsk provaram que nós deixamos de ser mártires submissos e assumimos a luta. Como é bem sabido, os operários de muitas fábricas e lojas organizaram a “União de Luta pela Emancipação da Classe Operária”, com o objetivo de expor todos os abusos, erradicar o desgoverno, lutar contra as opressões insolentes de nossos exploradores sem escrúpulos e conseguir nossa libertação total de seu poder. A União distribui folhetos que fazem os patrões e seus fiéis lacaios tremerem. Não são os folhetos em si que os assustam, mas a possibilidade de nossa resistência unida, de uma exibição de nosso grande poder, que já lhes mostramos mais de uma vez. Nós, operários de São Petersburgo, membros da União, convidamos o restante de nossos companheiros operários a se juntarem à nossa União e a promoverem a grande causa de unir os trabalhadores em uma luta por seus próprios interesses. Já é hora de nós, trabalhadores russos, quebrarmos as correntes com as quais os capitalistas e o governo nos amarraram para nos manter submissos. Já passou da hora de nos unirmos à luta de nossos irmãos, os trabalhadores de outros países, para nos perfilarmos com eles sob uma bandeira comum, na qual está inscrita: Proletários de todos os países, uni-vos!

Na França, Grã-Bretanha, Alemanha e em outros países, onde os trabalhadores já se uniram em sindicatos fortes e conquistaram muitos direitos, eles estabeleceram o dia 1º de maio[i] como um feriado geral do Trabalho.

Abandonando as fábricas abafadas, eles marcham em fileiras sólidas, com faixas e estandartes ao longo das principais ruas das cidades; mostrando aos patrões toda a força de seu crescente poder, eles se reúnem em numerosas e grandes reuniões, onde são proferidos discursos contando as vitórias sobre os patrões no ano anterior e indicando os planos de luta para o futuro. Por medo de uma greve, nenhum proprietário de fábrica multa os operários por faltarem ao trabalho nesse dia. Nesse dia, os operários também lembram os patrões de sua principal reivindicação: a jornada de trabalho de oito horas – 8 horas de trabalho, 8 horas de sono e 8 horas de descanso. É isso que os trabalhadores de outros países estão exigindo agora. Houve um tempo, e não faz muito tempo, em que eles, como nós agora, não tinham o direito de manifestar suas demandas. Eles também eram esmagados pela necessidade e não tinham unidade, assim como nós agora. Mas eles, por meio de uma luta obstinada e de grandes sacrifícios, conquistaram o direito de discutir juntos os problemas da causa dos trabalhadores. Nós enviamos nossos melhores votos aos nossos irmãos em outras terras para que sua luta os leve rapidamente à vitória desejada, ao tempo em que não haverá nem senhores nem escravos, nem operários nem capitalistas, mas todos trabalharão e aproveitarão da vida igualmente.

Camaradas! Se nos esforçarmos com energia e de todo o coração para nos unirmos, não estará longe o momento em que, tendo unido nossas forças em fileiras sólidas, poderemos nos juntar abertamente nessa luta comum dos proletários de todos os países, sem distinção de raça ou credo, contra os capitalistas do mundo inteiro. E nosso braço forte será erguido para o alto e as infames correntes da escravidão cairão. Os trabalhadores da Rússia se levantarão, e os capitalistas e o governo, que sempre serve e ajuda cuidadosamente os capitalistas, serão tomados pelo terror!

19 de abril [1º de maio] de 1896.

União de Luta pela Emancipação da Classe Operária


[i] A tradução literal do texto de Lênin é “19 de abril (o 1º de maio no exterior)”, pois antes da Revolução de Outubro, o calendário russo estava 13 dias atrasado em relação ao da Europa Ocidental.

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- 01/05/2025