CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

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A luta das mulheres nas comunidades populares em contexto de crise e pandemia

Ato feito pelos presidentes de rua de Paraisópolis. Foram reivindicar do governador saúde e assistência para a favela e foram recebidos pelo Choque!

26.06.2020
Cem Flores

A pandemia e a crise atingem fortemente nosso povo, especialmente os moradores da periferia e das comunidades. E dentro delas, mais ainda as mulheres

As mulheres que, pelas imposições do patriarcado, úteis à sociedade capitalista atual e reproduzidas pelo Estado, são responsáveis de fato pelo cuidado do lar, pelas crianças, pelos idosos, pelos doentes, pelos deficientes, pelos que mais precisam. Isso em “tempos normais” (que já significam tempos de pobreza, exploração, violência). 

Agora, na atual conjuntura, na qual todas as desigualdades se escancaram, a opressão e a exploração da mulher têm se intensificado. O desemprego só cresce, atingindo fortemente setores cuja mão de obra é majoritariamente feminina, como nos serviços domésticos. As condições de trabalho pioram, como na saúde e nos serviços de limpeza hospitalares, profissões cuja maioria também é mulher. Com as escolas aplicando ensino remoto e a necessidade de ainda mais limpeza nos lares, o trabalho doméstico se multiplica. A violência de gênero tem aumentado nos domicílios por todo o país. Fora o vírus que tem adoecido e matado sobretudo o povo pobre e negro das periferias, reféns de um sistema de saúde há muito falido.

Mas as mulheres trabalhadoras lutam e resistem frente a piora de sua condição! E sobre esse ponto vamos aprofundar agora. 

Nesta publicação, veremos que, apesar da difícil situação, as mulheres do povo têm se destacado, mais uma vez na história, como lideranças fundamentais e, em muitos lugares, são hoje a vanguarda da resistência das classes trabalhadoras pela sobrevivência durante a pandemia e mais uma crise no Brasil. 

Mulher, solidariedade de classe e a luta comunitária: lições de como resistir hoje a toda essa barbárie!

Nas periferias, nos inúmeros bairros populares do país, sem a preocupação em serem notadas como “especiais”, mas sim em enfrentar e resolver os problemas concretos, a resistência das mulheres sempre foi na luta, seja contra a carestia, pela escola para as crianças, pelo saneamento básico, pela construção das unidades de saúde, por moradia, por melhores condições de vida para os seus e para toda a comunidade. 

É da mulher, principalmente, a responsabilidade estabelecida nessa sociedade em garantir a saúde dos seus filhos, pais e maridos. Mas também de suas amigas, vizinhas, da comunidade. Por isso, são elas que, principalmente, nesses tempos de pandemia, enfrentam as filas intermináveis nas unidades de saúde já colapsadas desse SUS sucateado, as filas nas farmácias para obter o medicamento com preço sobrevalorizado, as gigantescas filas do auxílio emergencial. Tudo isso muitas vezes carregando nos colos seus filhos que não têm com quem deixar.

São elas novamente que estão à frente das ações para proteger seus filhos e os filhos de todas. Assim, elas têm feito de sua condição também uma oportunidade de se firmar enquanto eixo mobilizador e organizador na comunidade em sua luta pela vida. 

São diversas as atividades e ações de luta e resistência que mulheres pelo Brasil afora hoje estão desenvolvendo e, nessa ação, ganhando adeptos, apoiadores, ampliando sua união. Formas de resistência que tem criado um enorme movimento de solidariedade em todo o canto, de ajuda mútua entre as trabalhadoras e os trabalhadores.

As mulheres de periferias, favelas e das comunidades de todo país, estão organizando suas comunidades. Com a pandemia, diversas mulheres da periferia começaram a criar alternativas de proteção às suas famílias e comunidades na nova conjuntura. Vejamos alguns exemplos.

Quando a costureira Eliana de Oliveira Santos, 62, recebeu o pedido de máscaras de uma amiga, cujo filho estava com suspeita de infecção e ela também precisava para o trabalho, Eliana não pensou duas vezes. A produção de máscaras para doação passou a ser uma das tarefas em sua quarentena. 

Em uma semana, a moradora do Parque do Peruche, zona norte de São Paulo, produziu mais de 70 máscaras. A distribuição é gratuita e acontece entre seus conhecidos, vizinhos e para ex-colegas da Fundação Casa, onde se aposentou. 

E não pensemos que ações como essas são menores. Tem sido ações fundamentais que, somadas, reduzem o contágio do coronavírus nas comunidades, seja com as campanhas de conscientização e explicação de como se proteger, a confecção de máscaras caseiras e a criação de agentes comunitários de saúde – moradores sendo formados na própria comunidade por médicos e médicas parceiros da causa do povo. Além disso, ações para alimentar e proteger as famílias fortemente atingidas pelo desemprego, como as campanhas de arrecadação de cestas básicas, materiais de limpeza e medicamentos.

Como vemos em outro exemplo, agora da Associação Grupo Comunitário Limoeiro, em Belém, no Pará, uma das organizações cadastradas no #MapaCoronaNasPeriferias. Essa associação já organizou campanhas para doação de máscaras de pano para moradores da Passagem Limoeiro, além de mais de 400 cestas básicas, mas ainda precisa de apoio para alcançar as demais famílias. De acordo com a organização, a comunidade é composta por muitos trabalhadores informais, feirantes, vendedores de rua, todos sem poder trabalhar e muitos sem qualquer auxílio do Estado.

Edina do Socorro, 58, presidente da associação, que atende cerca de 500 famílias na comunidade do bairro Jurunas, conta um pouco da gravidade da situação. “Muitos aqui vão para as portas de hospital, de UPA, e não são atendidos, voltam para casa. Muitos já morreram em suas casas e outros ficaram de quarentena em casa sem saber o que fazer”, protesta.

Com tanto esforço para minorar os efeitos da crise, Socorro denuncia que esse desprezo pelo Estado não é de hoje. Nós já existimos há 50 anos, sempre com esse trabalho voltado para as famílias. Nesse bairro tudo que tem foi luta nossa, das comunidades. Se existe escolas, UPA, as ruas pavimentadas”, a presidente lembra do esforço para conquistar o que deveria ser direito básicoTudo foi fazendo briga, batendo lata, batendo panela. Fomos para as portas dos governos para poder conseguir, porque se a gente não vai, aí é que eles não vêm mesmo”, conclui.

Associação de Mulheres de Paraisópolis distribui marmitas para a comunidade. Os recursos foram adquiridos através de uma campanha na internet.

Outro exemplo que se destaca é a da luta e organização das mulheres em Paraisópolis, São Paulo, capital. Desde o início da crise gerada pela Covid-19, cestas básicas e marmitas têm sido um recurso fundamental para garantir a alimentação de vários moradores.

Junto com a pandemia, veio também a diminuição de renda para alguns que já tinham pouco. Pensando neles, uma equipe de 15 mulheres prepara e distribui cerca de 1.300 marmitas por dia em Paraisópolis. “Muita gente que está desempregado, o gás acabou, está sem arroz, sem feijão, não está podendo se alimentar, a crise se agravou muito. Além disso, há pessoas acamadas, idosos. Estamos atendendo todo esse público”, explica Elizandra Cerqueira, presidente da Associação das Mulheres de Paraisópolis.

Outra exemplo importante na luta de muitas mulheres é a assistência à saúde, que piorou muito nesse período. É preciso que as mulheres tenham o seu pré-natal garantido, que haja vacinas para as crianças e para os idosos, que existam opções para o atendimento e o tratamento das doenças que nos atingem. Muitas vezes, quase sempre, quando a estrutura do estado na saúde não existe, é preciso agir com criatividade. São vários os exemplos de ações em proteção à saúde e às crianças nas comunidades, em que os agentes são na sua grande maioria mulheres que tomam a frente, realizam visitas de casa em casa, acompanham a situação de crianças e mães em situação de desnutrição ou de risco. Um trabalho que salva vidas, e as mulheres do povo querem seus filhos com saúde e vivos.

A luta é em todas as frentes. É central também o papel das mulheres no enfrentamento da violência nas periferias das grandes cidades, que continua mesmo com a pandemia. Aliás, em alguns lugares até aumentaram, só ver as chacinas que a PMERJ tem feito nas comunidades. Mesmo sofrendo intensamente com a perda dos seus, encontram força necessária para continuar na luta para que outros não se percam. É o exemplo das alternativas que buscam incentivar jovens a não se envolverem no crime ou as que denunciam a violência do Estado contra o povo.

Esse triste quadro deixa bem claro a quem serve esse Estado. Não serve para atender as necessidades de nosso povo. A realidade dos tempos atuais mostra que o governo, a economia, a polícia só servem a quem tem posses. É o Estado dos que dominam. O Estado dos ricos e dos poderosos.

Trata-se do enfrentamento cotidiano, da realidade vivida nos bairros. Nunca deixar para trás um filho, um irmão, um idoso, alguém que precise. Carregar tudo e a todos que são parte da vida dessas mulheres. 

Apoiar e aprofundar essa resistência: tomar nossos destinos em nossas mãos

Às mulheres cabe resistir e encontrar os caminhos na luta pela sobrevivência diária, pela saúde, pela comida, pela educação, pela moradia e pela segurança. E, como sempre, as mulheres não fogem ao seu papel. Sempre estiveram à frente nas lutas seja nos bairros, nas periferias, nas favelas. Sua sensibilidade em enxergar o problema e atuar sobre ele é transformadora, não desampara ninguém e agrega a todos, a uma comunidade inteira.

No entanto, mais do que nunca é necessário identificar quem são nossos reais inimigos, sem ilusões. O inimigo está no poder e usa toda a estrutura que têm a seu dispor (polícia, justiça, governos, parlamento etc.). E há exemplos concretos, de que nosso povo entende a quem serve o Estado e qual o caminho de nossa luta. Quando tomamos as ruas para realização de mutirões, naquele momento o poder é do povo. Ou quando vamos comemorar nossas vitórias, quando realizamos atividades esportivas, de lazer e várias outras, em que todos se juntam e a rua ou a praça é nossa. 

Sem as mulheres, não há luta do nosso povo que possa ser vitoriosa. A solidariedade entre as mulheres trabalhadoras é algo muito forte, que derruba qualquer barreira. Convictas e com muita alegria desafiam a condição perversa que o sistema determina para elas e para nosso povo. 

Viva resistência das mulheres do povo!

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- 26/06/2020