CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

Cem Flores, Conjuntura, Destaque, Lutas, Movimento operário, Nacional

O presente é de luta! Unir e organizar as classes trabalhadoras para barrar a piora nas condições de vida

Operários/as da CSN, garis do Rio de Janeiro e entregadores/as de Belo Horizonte: exemplos de ousadia e garra em mais um duro ano para as classes trabalhadoras no Brasil. Lutar para criar um mundo sem patrões!

 

Cem Flores

01/05/2022

Há mais de um século, o 1º de Maio é comemorado por trabalhadores e trabalhadoras de todo o mundo. Não se trata de um dia de festejo vazio e descompromissado ou de cínicas confraternizações, como acontece nos shows das centrais sindicais pelegas ou nas propagandas das empresas e dos governos burgueses.

Esse é o nosso dia! Dia internacional de luta da classe operária e demais classes trabalhadoras, dos/as explorados/as e despossuídos/as, daqueles/as que padecem do desemprego e da miséria, dos/as que ganham o seu pão com o suor do seu trabalho e dos/as que haverão de conquistar um mundo sem patrões. Um dia para se reforçar a unidade e a firmeza de nossa classe, contra nossos inimigos. De levantar a bandeira vermelha proletária de nossa luta, nosso ódio e nossa esperança!

Neste ano, o 1º de Maio ocorre, mais uma vez, em meio a uma luta aberta entre os capitalistas e as massas exploradas. Em todo o mundo, os patrões e seus estados reforçam a sua dominação, com leis e governos cada vez mais reacionários e repressivos, a explorarem nossa força de trabalho para elevar seus lucros astronômicos. Inclusive, na concorrência ferrenha por mercados, jogam hoje o mundo em mais uma espiral militarista e de guerra, onde é o sangue proletário que jorra. Em todo o mundo também, quem trabalha e produz diariamente toda a riqueza sofre com as condições de vida cada vez piores: pandemia, desastres ambientais, salários de fome, inflação, violência. Diante da vida de opressão e miséria, piorada após sucessivas crises, as classes trabalhadoras resistem da forma que conseguem, com sua força ainda desorganizada, ainda sob as ilusões de demagogos e inimigos que frequentam suas fileiras. A alteração desse quadro é nossa primeira e mais urgente tarefa: sem avançarmos em nossa organização e luta, não barraremos o grande ataque desferido pelos nossos inimigos de classe.

Nesta publicação sobre o 1º de Maio, o Coletivo Cem Flores faz um panorama sobre a situação atual do mercado de trabalho e alguns aspectos da vida e da luta das massas no Brasil. As informações e teses aqui demonstradas sintetizam uma realidade sentida na pele por dezenas de milhões de trabalhadores/as brasileiros/as. Mas que deve ser analisada e debatida com a maior profundidade possível, sob um firme ponto de vista de classe, para que consigamos encontrar caminhos para nossa luta. Caminhos esses já indicados por valorosos/as trabalhadores/as, que, nos últimos meses, se colocaram de pé e desafiaram o patronato por suas vidas, por suas famílias e companheiros/as.

1º de Maio é um dia para se convocar à luta. Luta que é e será feita por nós e por mais ninguém. Com nossas mãos e pernas. Nas fábricas, no campo e nas vielas. No debate e organização com os nossos irmãos e nossas irmãs de classe. Contra aqueles que querem nos enganar e nos iludir com falsos atalhos e falsos messias. Pois encerrar a escravidão assalariada em que estamos, acabar com nossa vida de miséria, só com a derrubada daqueles que vivem no luxo às nossas custas. Só com a construção de mundo um sem patrões. Um mundo comunista.

O desemprego continua atingindo muitos milhões – e a previsão é que continue assim

No início de fevereiro, o governo fascista de Bolsonaro comemorou o resultado positivo do CAGED de 2021. Segundo os dados desse cadastro, foram criados 2,7 milhões de empregos formais no ano passado. O atual ministro do trabalho e previdência defendeu que “é a maior geração de emprego em um único ano”. Já Paulo Guedes, em abril, falou para empresários no Paraná: “todos os empregos destruídos pela pandemia já foram recuperados”. Na ocasião, citou a taxa de desocupação calculada pelo IBGE, que retornou ao patamar pré-pandemia no início deste ano. De acordo com o instituto, no trimestre encerrado em fevereiro, ela se encontrava em 11,2% (em 2020 e 2021, essa taxa chegou a 14,9%).

De fato, todo/a trabalhador/a sabe que a situação do desemprego despiorou um pouco nos últimos meses. Mas essa não é toda a realidade. O governo tenta fazer propaganda dessa redução do desemprego como se, por si só, esse fato deixasse todas as marcas da crise de 2020 para trás. E pior: como se o problema dos/as trabalhadores/as estivesse em vias de solução! Nada mais distante da verdade.

O desemprego diminuiu recentemente como um efeito direto da redução da pandemia, que hoje se encontra em baixo patamar de letalidade e contaminação decrescente – após um massacre de dois anos e mais de 663 mil mortos pelos subestimados dados oficiais. Também, da recuperação de curto prazo do capital, diante da retomada de atividades econômicas fechadas nos períodos de maiores restrições da pandemia, dos estímulos fiscais e monetários e impactos positivos do cenário externo (principalmente o aumento nos preços das commodities).

Mas essa diminuição do desemprego ocorre, em primeiro lugar, após um pico enorme e histórico de desemprego – o nível de ocupação da população em idade para trabalhar chegou a meros 48%. A manutenção daquele patamar por um tempo indeterminado era improvável, caso o cenário recessivo não permanecesse ou piorasse.

Em segundo lugar, voltar ao patamar pré-pandemia no mercado de trabalho, significa, na prática, a volta às taxas já elevadas de desemprego, resultado da crise de 2014-2016, até hoje não recuperada. A taxa de desocupação de 11,2%, comemorada por Guedes, em termos absolutos, significa mais de 12 milhões de jovens, mães e pais de família indo constantemente atrás de empregos e não encontrando. O porcentual de desocupados que estão nesta situação há mais de dois anos só cresce no país.

Mas essa taxa não capta toda a massa desempregada. Há outros milhões de desalentados, que, após muito procurar, desistiram de ir atrás de emprego por simplesmente não encontrarem. Outros que só encontraram ocupações em tempo parcial etc. A taxa de desemprego mais completa do IBGE, que busca somar esses outros grupos, identificou mais de 27 milhões de pessoas, quase o dobro da mínima histórica de 15 milhões registrada em 2014.

Em terceiro lugar, segundo as atuais projeções, a recente diminuição do desemprego – que ainda não chegou para quase 30 milhões de trabalhadores/as – não terá muito fôlego. Como se verifica com a atividade econômica geral no Brasil, a perspectiva é de estagnação.

Abaixo, gráfico com a projeção da FGV para a taxa de desemprego mais restrita do IBGE. Vemos o novo patamar de desemprego alcançado com a crise de 2014-2016, por volta de 12% quase o dobro do patamar anterior. Depois, há uma manutenção desse patamar nos anos de 2017-2019. Em 2020 e 2021, nota-se um novo pico, que beira os 15%, mas não se mantém. No momento atual, a taxa retorna ao patamar anterior. E, por fim, o andar de lado a perder de vista, inclusive com uma pequena elevação em 2023.

Para a FGV, as projeções:

indicam uma lenta redução da taxa de desemprego nos próximos anos devido ao baixo crescimento da economia. Para 2022 e 2023, a previsão do FGV IBRE é de uma taxa de desemprego de 11,9% e 12,6%, respectivamente. A queda da taxa de desemprego para níveis próximos da média entre 1995 e 2019 (9,8%) depende de uma aceleração mais forte da economia brasileira. Para se atingir a faixa dos 10% em 2026, seria necessário um crescimento de 3,5% entre 2024 e 2026, algo bastante improvável dado o baixo desempenho atual da economia brasileira e as revisões para baixo das projeções de mercado para o crescimento do PIB nos próximos anos.

As projeções de mercado para o crescimento do PIB estão em 0,65% para 2022, 1,0% para 2023 e 2% para 2024 e 2025 respectivamente. Sendo assim, a recuperação do desemprego gerado na crise anterior ainda não tem previsão de ocorrer.

Os empregos estão piores, os salários, defasados

Por fim, a recente diminuição do desemprego é marcada por empregos e salários piores. E por um momento em que a carestia de vida não para de crescer. Como resultado, temos o aumento da miséria e da fome, em plena “recuperação” do mercado de trabalho.

Segundo a própria PNAD, a alta informalidade, velha característica de nosso mercado de trabalho, não foi revertida nessa redução de desemprego. Pelo contrário. A taxa de informalidade da população ocupada cresceu de forma contínua até a pandemia, saindo de 38%, em 2016, para 41%, no início de 2020. Depois, com a pandemia, essa taxa cai rapidamente no início de 2020, indicando forte impacto da última crise e da pandemia nesse setor. Com a retomada da atividade econômica ainda em 2020, mas sobretudo em 2021, a taxa volta a subir, retomando o patamar anterior.

Hoje, a população ocupada com carteira assinada, principal categoria do setor formal, está 3 milhões abaixo do pico alcançado em 2014. Por outro lado, a população ocupada no setor privado sem carteira de trabalho (informal) bateu recorde: 12 milhões de pessoas, superando o pico alcançado no pré-pandemia. Outro setor informal que bateu recorde, no trimestre anterior, foi o “por conta própria”: quase 26 milhões de pessoas, grande maioria sem CNPJ e em condições precárias de trabalho. Em 2012, esse número era de pouco menos de 20 milhões.

Os empregos informais, de elevada exploração e precariedade, não só se recuperaram como continuam em alta, mantendo a tendência geral de deterioração do mercado de trabalho dos últimos anos.

Já o CAGED, tão festejado pelo governo, mostra que cerca de 120 mil das vagas criadas em 2021 foram em regime intermitente (sem garantia de jornada e salário) ou em tempo parcial, formas de contratação consolidadas na reforma trabalhista de 2017.

Quanto aos salários, o mesmo CAGED registrou uma queda quase contínua da média de salários de admissão ao longo do ano passado. Em janeiro de 2021, o salário médio real de admissão no setor formal do Brasil era de R$ 1.931,26. Em dezembro de 2021, caiu para R$ 1.793,34. Isso sem considerar os “não salários” da modalidade intermitente.

A redução dos salários de contratação foi fundamental para a queda da massa salarial no país. A soma de todos os rendimentos da população ocupada não se recuperou da queda ocorrida na pandemia. Ela se encontra cerca de 8% abaixo do nível médio de 2014.

E pra piorar ainda mais, essa queda nos salários ocorre em plena volta da inflação. Itens básicos para a sobrevivência das famílias trabalhadoras sofrem aumentos exorbitantes há mais de um ano, corroendo os salários já em queda. À frente, vemos dois gráficos: o primeiro demonstra o preço de alguns itens básicos que cresceram em 12 meses até março – vários acima do índice nacional de preços ao consumidor (INPC). A carestia de vida não dá trégua. O segundo mostra o rendimento real em várias categorias (já considerando a inflação). Os salários não acompanham a carestia, pelo contrário, estão dando ré!

Fonte: cálculos próprios a partir dos dados do IBGE.

Fonte: cálculos próprios a partir dos dados do IBGE.

Como resultado dessa conta que não fecha – país com quase 30 milhões de desempregados, outros quase 40 milhões na informalidade, empregos com salários menores, inflação que só aumenta –, a fome e a miséria se expandem para milhões de famílias trabalhadoras. Segundo o DataFolha, 24% dos brasileiros afirmam não ter comida suficiente em suas casas para alimentarem suas famílias nos últimos meses. Em algumas regiões, o percentual passa de 30%. No início do ano, fizemos uma publicação sobre o aumento dos/as trabalhadores/as empurrados para sobreviverem nas ruas.

Não à toa, a solidariedade e a organização comunitária das favelas e das periferias se elevaram desde a pandemia, como formas fundamentais de sobrevivência e luta contra a doença, o desemprego, a pobreza e a fome. Elevação que é disputada de forma ferrenha pelos governos e empresas, seja no aumento de gastos sociais, ou na filantropia burguesa – também na tentativa de conter maiores explosões sociais, protestos e saques, como aconteceu em outros países nos últimos anos.

Por fim, importante destacar o crescimento dos acidentes de trabalho e mortes acidentárias no Brasil, depois de uma queda em 2020. Pelos dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, “apenas em 2021, foram comunicados 571,8 mil acidentes e 2.487 óbitos associados ao trabalho, com aumento de 30% em relação a 2020”. Esses dados, no entanto, sofrem de subnotificação. Por exemplo, 20% dos beneficiados pelo INSS por causa de algum acidente grave não estavam registrados nesses comunicados. A exploração continua a devastar nossa saúde e nossas vidas, em nome do lucro do capital!

Ou seja, se houve alguma despiora, essa despiora não reverte o quadro geral nos últimos anos de deterioração das condições de vida e trabalho das massas exploradas. Aliás, a crise de 2020 e a própria recuperação do capital têm deixado ainda mais sequelas dessa piora no geral.

A situação da luta e o cretinismo da “esquerda”

Apesar de flutuações e recuperações parciais e de curto prazo, continuamos imersos numa profunda crise do capital no Brasil. E esse momento é visto pela burguesia e seus Estados como uma oportunidade para elevar o grau de exploração e opressão das classes trabalhadoras. É o que estamos vivendo nos últimos anos: uma ofensiva dos patrões para retomarem seus lucros e imporem um novo estágio de escravidão para as massas – com piores empregos, salários de fome, mais exploração… A saída para a acumulação do capital passa por arrancar o nosso couro!

Nessa luta de classes, os trabalhadores e as trabalhadoras no Brasil se encontram com poucos e frágeis instrumentos para reagir. Não à toa têm sofrido derrotas consecutivas. O cenário da luta não está fácil.

A começar pelo fato de, há décadas, não existir no país um partido revolucionário com influência de massas, que unifique e eleve as lutas contra o patronato e seu Estado. Por outro lado, partidos oportunistas e reformistas, que defendem a continuidade da escravidão assalariada e a ilusão com a “democracia” burguesa, são dominantes nos movimentos sindical e popular. Tais movimentos, há muito, cumprem na verdade a função de desorganizar, deseducar, afastar e enfraquecer as massas em sua luta.

Um exemplo recente dessa realidade foi a última “conferência da classe trabalhadora”, organizada por todas as centrais sindicais, inclusive aquelas que se dizem mais à esquerda. Em um cenário de duros ataques, em que se faz urgente o debate e a reorganização das massas, a partir de seus coletivos e lutas atuais, todas as centrais sindicais focam na construção de um documento meramente eleitoreiro e burocrático. A tal “pauta da classe trabalhadora”, na prática um sinal de apoio incondicional à candidatura de Lula-Alckmin, não passa de uma defesa de um “capitalismo utópico”, no qual os/as trabalhadores/as supostamente se beneficiariam de sua própria exploração, ilusão jogada por terra após anos de governos petistas.

A pelegada sindical unida entregando sua pauta de colaboração com os patrões para Lula e Alckmin.

Enquanto essa dita “vanguarda” dos trabalhadores tenta, acenando e tirando fotos com políticos burgueses, retomar cargos de maior destaque no estado capitalista e suas antigas mamatas, como o imposto sindical, importantes lutas continuam a brotar em várias regiões do país. Trabalhadores e trabalhadoras que se levantam por vezes sem, ou até contra, essa burocracia sindical, nos dando um enorme exemplo a seguir. Esse é o caso das greves e paralisações dos operários da CSN, garis do Rio de Janeiro e entregadores de Belo Horizonte que ilustram essa publicação. Em todas essas lutas temos a união de consideráveis setores da massa trabalhadora na resistência contra a piora nas condições de trabalho, por reposição de seu poder de compra, contra a arbitrariedade e opressão de seus patrões. Pautas concretas que devem ser a base das mobilizações e da imensa e urgente reorganização das classes trabalhadoras no país.

Não tem sido e não será um caminho fácil. Mas não há outro caminho para barrar a sanha dos vampiros que sugam nossas vidas. E os atalhos se mostraram todos ilusórios. Seremos nós com nossas mãos que resolveremos tudo o que nos diz respeito. Já vencemos no passado, e vamos vencer de novo no futuro.

Avançar na luta e no combate à fome em nossas ruas!

Reconstruir os coletivos de luta em nossos locais de trabalho!

Levantar bem alto a bandeira vermelha do proletariado, a sua teoria, o marxismo-leninismo, e combater toda a canalha oportunista e eleitoreira!

Por um 1º de maio de luta!

PROLETÁRIOS DE TODOS OS PAÍSES, UNI-VOS!

Cem Flores

1º de maio de 2022


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- 01/05/2022