O novo governo de extrema-direita na Argentina
Boletim Que Fazer – janeiro de 2024
Troca do governo argentino intensifica ataques dos patrões contra as classes trabalhadoras, aquecendo as lutas no país.
Cem Flores
12.01.2024
A EXTREMA-DIREITA NO GOVERNO
Em 10 de dezembro, Javier Milei tomou posse como novo presidente na Argentina. Depois de uma disputa em segundo turno com o peronista e então ministro da economia Sergio Massa, o candidato de extrema-direita Milei saiu vitorioso por larga margem.
A vitória trouxe de volta a direita ao poder, após mais um governo da dita “esquerda” peronista. Essa “esquerda” no poder, como sempre, governou para o capital, fechando acordos com o Fundo Monetário Internacional e atendendo às exigências da burguesia. Há décadas essa força política ilude e desorganiza os/as trabalhadores/as na Argentina!
No discurso de posse, o novo presidente falou em seguir “ideais de liberdade” para “reconstrução” do país, que passa por uma profunda crise econômica. Na prática, liberdade para o capital, para a retomada dos lucros dos patrões, por meio de duras medidas contra as massas trabalhadoras.
A Argentina se soma à lista de países governados pela direita radical, autoritária, que intensifica os ataques dos patrões sobre os/as trabalhadores/as. Esse novo governo do capital, cinicamente, exige ainda mais sacrifícios das classes trabalhadoras argentinas. Não bastasse os últimos anos de pobreza e espiral hiperinflacionária!
PRIMEIRAS MEDIDAS DE MILEI: UMA FORTE OFENSIVA BURGUESA!
Logo nos primeiros dias de governo, Milei anunciou a desvalorização da moeda em mais de 50% e inúmeros cortes: de transferência de verbas para as províncias, de subsídios, de obras e empregados públicos… Medidas “ousadas” elogiadas pelo FMI, cujo impacto na vida das massas trabalhadoras já se faz sentir na forma de mais inflação, perda do poder de compra, mais miséria e fome.
Em seguida, o novo governo anunciou um megadecreto, com mais de 300 medidas. Trata-se de uma enorme contrarreforma, imposta pelo governo, que inclui privatizações, redução das conquistas trabalhistas e das regulações de diversos setores. As demissões agora se tornaram mais simples e baratas para os patrões; as mensalidades dos planos de saúde, aluguéis, combustíveis, dentre outros serviços e produtos, estão subindo ainda mais…
E não ficou por aí. Nos últimos dias do ano, Milei enviou para o congresso uma proposta de reforma do Estado que, na prática, institui um estado de exceção, dando amplos poderes ao novo governo.
A RESISTÊNCIA POPULAR E O AUMENTO DA REPRESSÃO
Diante de inúmeros ataques, os movimentos populares e sindicais da Argentina já iniciaram paralisações e protestos. Lutam contra o avanço da carestia, a piora ainda maior das condições de vida e trabalho, contra mais esse governo dos patrões. Dia 24 de janeiro está marcada uma greve geral no país, uma batalha importante contra tantos retrocessos. Devemos nos solidarizar ativamente com essa luta de nossos/as irmãos e irmãs argentinos/as!
Esses protestos das classes trabalhadoras estão ocorrendo apesar de todas as ameaças e da repressão crescente do novo governo. Para manter “a paz e a ordem”, desde os primeiros dias de governo, Milei mobilizou o uso de forças federais contra manifestantes. Quem protestar, poderá perder programas de assistência social. Além disso, na nova lei enviada ao congresso, o governo pretende impor a necessidade de solicitar autorização prévia do estado para convocar protestos e o aumento para até 3,5 anos de prisão a quem protestar nas ruas.
Caso esse estado de exceção seja concretizado, a Argentina dará mais um passo para um regime autoritário. A ditadura de classe burguesa, em contextos de crise, tende a se desfazer de qualquer máscara de “democracia” e governar na marra abertamente! A extrema-direita liderada por Milei está se mostrando útil para tal serviço, assim como o bolsonarismo o fez aqui no Brasil.
A LUTA NA ARGENTINA É TAMBÉM NOSSA LUTA
Segundo o próprio governo Milei, as contrarreformas não estão nem na metade. A tendência é de mais ataques contra as classes trabalhadoras na Argentina. E para isso, o estado tem reforçado a repressão contra quem resistir – nesse ou em outros governos.
Importante ressaltar que a ofensiva de classe burguesa nos nossos vizinhos, conduzida hoje pela extrema-direita, é algo que nos diz respeito. Isso porque são nossos/as irmãos/ãs trabalhadores/as que estão sob forte ataque. As “reformas” de lá são semelhantes às recentes (e atuais) “reformas” daqui. O capital a nos atacar é o mesmo! Além disso, a extrema-direita argentina tem vários laços com as forças fascistas do Brasil, que inclusive foram à posse de Milei com seus principais representantes. A luta contra os fascistas de lá, também é uma luta contra os fascistas daqui!
Nessa luta, que envolve os dois países e tantos outros sob a ameaça da extrema-direita, a posição comunista deve ser clara. No combate às formas de governo mais autoritárias dos patrões, nossas bandeiras e princípios de independência de classe não podem ser deixados de lado. A luta contra esse perigoso inimigo não se faz abraçando outra força burguesa “menos pior”: o exemplo Argentina mostra o fracasso dessa linha. Em vez de derrotar, alimentou ainda mais o fascismo. Só os/as trabalhadores/as organizados/as, de forma independente e autônoma, lutando com sua posição de classe, podem derrotar o capitalismo e suas expressões políticas, sejam elas socialdemocratas ou fascistas.