As facções de direita e de extrema-direita da burguesia avançaram no primeiro turno das eleições municipais
Boletim Que Fazer – outubro de 2024
De norte a sul do país, as últimas eleições demonstraram a força eleitoral da direita e da extrema-direita e a fraqueza do campo petista. A fascistização do país não será derrotada por meio de conciliação/subordinação de classes e eleições burguesas.
Cem Flores
09.10.2024
As eleições de 2024
Nas eleições municipais de 2024, as câmaras municipais de todas as 5.568 cidades do país foram eleitas para o mandato de 2025-28. Desses municípios, em apenas 52 ocorrerão segundo turno, marcado para 27 de outubro.
As eleições municipais ocorrem em todo o país, exceto no Distrito Federal, a cada quatro anos. Além de definirem os gestores municipais do aparelho estatal burguês, fundamentais para manter a dominação capitalista, funcionam também como uma espécie de prévia das eleições gerais para a presidência, governos estaduais, além do congresso nacional e assembleias legislativas estaduais. Ou seja, representam um momento importante da competição institucional entre os partidos para a manutenção da ordem do capital em todo o país e para a definição dos principais cargos do executivo e legislativo do estado burguês.
Neste ano, as eleições servem ainda como uma prova do poder de voto do atual governo burguês de Lula-Alckmin e da força e composição do campo da direita após a saída do fascista Bolsonaro do poder (e sua tentativa de golpe fracassada). Os resultados do primeiro turno já nos permitem chegar a algumas conclusões: a direita avançou neste pleito, incluindo o campo bolsonarista, enquanto o governo petista ficou muito aquém do projetado.
O desempenho da direita e da extrema-direita
Em relação a prefeituras eleitas, o PSD de Kassab (secretário do governador bolsonarista de SP) foi o partido mais vitorioso, conquistando 878 prefeituras. O PSD superou o MDB, que há anos liderava nesse aspecto. O PP, a União Brasil, o PL (partido de Bolsonaro) e o Republicanos (partido de Mourão) também cresceram e, juntos, esses 4 partidos conquistaram mais de 2 mil prefeituras. Esses partidos de direita e extrema-direita tiveram desempenho muito mais expressivo do que o PSDB, principal rival eleitoral do PT nos anos 1990 e 2000. Os maiores partidos da “esquerda” – PSB, PT e PDT – ficaram com os 7º, 9º e 10º lugares, respectivamente, na lista de partidos que mais levaram prefeituras neste primeiro turno, com um pouco mais de 700 municípios.
Em capitais como Curitiba, Belo Horizonte, Goiânia, Belém, Manaus, João Pessoa, Campo Grande, o segundo turno será disputado apenas pela direita. Até o momento, o PT não elegeu nenhum prefeito nas capitais.
Entre os vereadores, a direita e a extrema-direita também se destacaram. O partido de Bolsonaro foi o que mais elegeu vereadores recordistas de votos nas capitais, alcançando o topo em dez capitais, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, as maiores regiões metropolitanas do país. Já o PT teve o vereador mais votado apenas em Vitória.
Houve também atritos no campo da direita e da extrema-direita, como a ascensão de Pablo Marçal em SP, que levou 1,7 milhão de votos, competindo com a candidatura apoiada por Bolsonaro. E derrotas importantes do bolsonarismo, como o caso da prefeitura do Rio de Janeiro, apesar de que mesmo com um candidato inexpressivo o PL conseguiu mais de 30% dos votos. Ou seja, é inegável a vitória eleitoral da direita no geral.
O desempenho do oportunismo de “esquerda”
Mesmo conquistando a presidência da república em 2022, com a máquina do governo federal nas mãos, além de dois anos de bom desempenho econômico pelo prisma dos economistas e da mídia burguesa, o campo petista e seus satélites amargaram importantes derrotas nesse primeiro turno.
O candidato do PSOL e do PT em São Paulo passou por pouco para o segundo turno, quase sendo superado por Marçal, da extrema-direita. Boulos fez uma campanha ainda mais à direita do que em 2020, e o ex-dirigente do MTST prometeu até repressão policial em caso de ocupações do movimento popular na cidade. Mesmo não sendo favorito nas pesquisas, caso ganhe, enfrentará dificuldades diante do crescimento da bancada bolsonarista na câmara municipal e do próprio governo estadual, também bolsonarista.
O MST também se institucionaliza cada vez mais e jogou peso nessas eleições, com 700 candidatos apoiados pelo movimento em todo o país. Conseguiu eleger 39, em 12 partidos diferentes – inclusive explicitamente de direita. Já grupos da esquerda do PT/PSOL mais uma vez jogaram toda sua militância para a disputa eleitoral, sendo arrastados na prática para o campo burguês-petista e tendo resultados quase nulos.
Nossas verdadeiras vitórias virão da luta
O oportunismo dessa “esquerda” tem se movido cada vez mais à direita. Em vez desse recuo significar uma tática efetiva para frear o crescimento da extrema-direita, tem favorecido a consolidação desta e a ofensiva burguesa geral. Em vez de “menos pior”, são, na realidade, corresponsáveis pelo crescimento da direita e uma barreira a ser superada na construção de uma resistência de fato ao fascismo e aos ataques burgueses que continuam eleição após eleição.
É preciso denunciar e não compactuar com esse jogo burguês de domesticação e institucionalização que mistura medo e oportunismo. Revidar politicamente a burguesia e combater a extrema-direita são tarefas que não serão realizadas na esfera limitada da política burguesa, mas sim no avanço das lutas reais, reforçando-as, independentemente do governo burguês de plantão.
O dever dos comunistas não é defender a democracia burguesa e seus líderes supostamente mais “humanos” como um caminho, uma falsa alternativa, mas sim estimular a verdadeira derrubada desse sistema. O ódio e a desilusão da massa contra esse sistema são bastante visíveis em vários casos e aspectos; cabe a nós organizar tal ódio em uma direção justa!