CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

Cem Flores, Conjuntura, Imperialismo, Internacional, Teoria

A crise do imperialismo expressa o agravamento de todas as suas contradições

A crise do imperialismo expressa o agravamento de todas as suas contradições, principalmente da contradição entre a burguesia e o proletariado, da luta de classes, manifesta/expressa na dificuldade da retomada da taxa média de lucro, implicando/desdobrando-se no agravamento da contradição do imperialismo com os povos dos países dominados e, cada vez mais, da contradição interimperialista.

Estamos vivendo nos primórdios da barbárie capitalista, de um mundo que não se parece em nada com a sociedade sem classes, o “reino da liberdade”, apontada por Marx e Engels e que a classe operária iniciou a construir, na luta de classes, iluminada pelo marxismo-leninismo, construindo o socialismo, lutando pelo comunismo.

Vimos afirmando que o imperialismo 1 vem vivendo uma longa crise, crise de sobreacumulação de capitais e superprodução de mercadorias que, diferente das outras vezes, vem se estendendo continuamente – com períodos cada vez mais curtos de recuperação e mais longos de recessão – a partir da grande crise que atingiu toda a economia mundial capitalista nos inícios dos anos 1970. Processo de crise e integração da economia mundial que se dá em meio a tais antagonismos que agravam todas as contradições do sistema.

A alternativa encontrada pelo imperialismo para sua crise foi de, por um lado, produzir uma gigantesca máquina de especulação nos “mercados financeiros” para remunerar os capitais sobreacumulados e, ao lado disto e num mesmo movimento, reconfigurar a estrutura produtiva da economia mundial.

A especulação nos «mercados financeiros»

Podemos constatar o fantástico crescimento dos “mercados financeiros” a partir da crise de 1973/1975 nos gráficos 1, 2 e 3 que nos mostram a evolução do Índice Dow Jones Industrial Average (DJIA), da Bolsa de Nova Iorque. Esse índice é o mais utilizado por “analistas” e se refere ao desempenho das 30 principais ações negociadas nesta bolsa. Essa amostra é atualizada periodicamente, sendo uma das expressões do processo que vimos apontando: uma permanente e contínua sobreacumulação na esfera financeira de capitais que não encontram aplicação no setor produtivo à taxa média de lucro.

O Gráfico 1 mostra a evolução do Índice Dow Jones desde 1896 até 17 de agosto de 2006. Podemos observar (com o uso de uma lupa), talvez por volta de 1924 ou 1925, o início do processo especulativo que leva à formidável crise na economia mundial de 1929. A subida lenta e a queda brusca em 1929. Da mesma forma com a crise de 1973/1975-76. Os níveis de 1973 só vão ser retomados em 1976, portanto após três anos de crise, de queda da bolsa. E também o início da escalada especulativa atual, no começo dos anos 1980, com seus trancos e barrancos, como em 1987 e 2001-2003. Estes movimentos são incomparavelmente maiores que aqueles de 1929, pelo ritmo e volume de capitais jogados na especulação.

Gráfico 1. Evolução do índice Dow Jones Industrial Average desde 1896 até agosto de 2006

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O Gráfico 2, com dados de 1900 a 1954, mostra, até 1922, um período cheio de altos e baixos, com as ações chegando a 100 pontos, depois caindo a 50 (metade do valor anterior!), depois indo a 100 novamente. A partir de 1924 e até 1929, uma escalada especulativa até então sem precedentes. De setembro de 1929 a julho de 1932, as ações caem para um oitavo do valor anterior, de quase 400 para 50. Novamente aos trancos e barrancos (escalada até 1936, queda em 1937-38, subida entre 1942 e 46, queda e estagnação até 1949, e subida posterior) vemos que o índice atingido às vésperas da crise de 1929 só será alcançado ao final de 1954, um quarto de século depois.

Gráfico 2. Detalhe da evolução do índice DJIA entre 1900 e 1954

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Em seguida, o Gráfico 3 com dados de 1990 até 2006, mostra a atual escalada da especulação. Percebe-se que o gráfico é bastante diferente do anterior. Os movimentos de “correções” das quedas são muito menores e mais curtos. Não obstante, há uma queda em 1998 2, um período de muita volatilidade e sem tendência definida de 1999 a 2001, crise até o final de 2002 e início de 2003 e depois crescimento.

É importante notar que o pico atingido pela bolsa em 2000 só foi retomado em maio de 2006, um intervalo de seis anos, após um período de quedas que vai até meados de 2003 e uma escalada oscilante de três anos.

Gráfico 3. Detalhe da evolução do índice DJIA entre 1990 e agosto de 2006

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É a possibilidade de fuga e valorização do capital na especulação, sem que as crises nesta esfera financeira afetem de modo determinante o setor produtivo, como em 1929, o que vem permitindo que não se torne explosiva a permanente e contínua sobreacumulação de capitais que não encontram aplicação no setor produtivo à taxa média de lucro.

É o processo de construção e sustentação de uma máquina de valorização financeira – e vamos aqui avançar uma tese: a construção de Aparelhos Internacionais a serviço da reprodução do sistema imperialista, tradução na superestrutura do processo de formação de uma economia capitalista mundial cada vez mais integrada, o imperialismo –, que vem permitindo o processo que analisamos de valorização de capitais no “mercado financeiro”. Aparelhos para executar aquilo que os economistas burgueses chamam de “governança” na economia mundial.

Sem estes Aparelhos, a valorização do capital no “mercado financeiro” não poderia se dar sem uma crise que se generalizasse para a economia como um todo e para toda a economia mundial. O que quer dizer, crise que inviabilizasse a “máquina financeira” enquanto espaço de valorização e que estendesse seus efeitos ao setor produtivo, a indústria.

Processo de construção e sustentação de uma máquina de valorização financeira, de Aparelhos Internacionais a serviço da reprodução do sistema, da mesma forma que o período da passagem da livre concorrência ao monopólio levou a que trustes, cartéis se fundissem 3 com o Estado, permitindo, assim, que agora o Estado, diretamente a serviço desses mesmos monopólios, passe a construir instrumentos, Aparelhos Internacionais, capazes de, momentaneamente, intervir na economia para contrarrestar a queda da taxa de lucro, sem, contudo conseguir se sobrepor às contradições do sistema.

Processo que toma corpo a partir de Bretton-Woods, em julho de 1944, onde foram constituídos Aparelhos Internacionais a serviço do sistema da economia capitalista mundial, como o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (International Bank for Reconstruction and Development – BIRD), conhecido também como Banco Mundial, e o Fundo Monetário Internacional (FMI), ao que se somam a ONU com seu pequeno clube de membros permanentes, o Conselho de Segurança, a OEA, a OCDE, a OMC, a OTAN e uma série de acordos militares e, por fim, o G-7 que, com seus encontros semestrais, chegou a ambicionar regular e harmonizar a economia capitalista global.

A reestruturação do setor produtivo

Aprofundamento da crise

Somada à especulação financeira, para contrarrestar sua crise, inicia-se na economia mundial um processo de reestruturação que se desdobra em três movimentos: primeiro, com as políticas neoliberais tenta-se rebaixar o preço da força de trabalho tanto nos países imperialistas quanto nos dominados; depois, inicia-se a redistribuição das estruturas produtivas dos países dominantes, mantendo os setores intensivos em tecnologia nos países capitalistas imperialistas, transferindo os intensivos em força de trabalho para países dominados onde seu preço compensasse os custos de transferência; e, por fim, depois da experiência no México, inicia-se o processo de transferência da indústria dos países imperialistas para a China, processo liderado pelos EUA. Movimento que Delfim Netto define em artigo à revista Carta Capital 4 como, “… uma revolução no processo produtivo mundial…” e que, mesmo tendo proporcionado, segundo ele, “um maior crescimento da economia mundial nos últimos anos…”, representa somente uma solução momentânea que, ao mesmo tempo em que permite um “maior crescimento” da economia capitalista, no mesmo e único movimento faz crescer os fatores que levarão ao aprofundamento da crise: o aumento da composição orgânica do capital, a queda da taxa de lucro, a sobreacumulação e a superprodução.

O aumento da composição orgânica do capital, a queda da taxa de lucro, a sobreacumulação e a superprodução levam a um agravamento das contradições do sistema imperialista: da contradição fundamental – burguesia/proletariado; contradição imperialismo/classes dominantes aliadas e povos dos países dominados; contradição interimperialista e finalmente contradição capitalismo e socialismo. Assim, vejamos:

Agravamento da contradição fundamental

A solução encontrada agrava a contradição fundamental do sistema capitalista, a contradição capital/trabalho, a contradição burguesia/proletariado na China, nos países dominados, nos países imperialistas. Agudização da luta de classes por todo o mundo, contradição que tem como uma de suas expressões a tendência à queda da taxa média de lucros.

Agrava a contradição burguesia/proletariado nos países imperialistas porque esse movimento para a China representa o encerramento de indústrias, a “deslocalização”, o aumento do desemprego, o recurso à força de trabalho barata dos imigrantes para realizar as tarefas indispensáveis em setores da produção ou circulação que, por diversas razões, não podem ser transferidos dos países imperialistas.

E nos países dominados porque se constitui em alavanca no processo de rebaixamento do valor da força de trabalho, não só pela concorrência de mercadorias fabricadas na China, mas também pelos efeitos da reorganização na estrutura econômica, social e política dos demais países dominados, alterando a posição das classes e frações de classes no bloco de classes no poder com a ascensão das frações ligadas objetivamente aos interesses do imperialismo.

Agravamento da contradição entre imperialismo/classes dominantes aliadas e povos dos países dominados

Como desdobramento do agravamento da contradição fundamental do sistema, processo que vai levar à necessidade de reconfigurar a economia mundial, se agrava a contradição entre a burguesia dos países imperialistas e seus aliados – as classes dominantes dos países dominados – frente aos povos destes países.

Expressão de suas tendências intrínsecas – o agravamento da luta de classes, queda da taxa média de lucro, etc. – o imperialismo busca resolver sua crise aumentando a exploração da classe operária e dos povos dos países dominados, nas condições internas que lhes são próprias, daí as diferenças no processo em relação ao Brasil e à China.

Exemplos desta segunda tendência – tendência para o aumento da exploração da classe operária e dos povos dos países dominados –, na América Latina, são as tentativas de aplicar a política neoliberal, como nos casos que levaram à crise na Argentina e no Brasil as políticas de Collor, FHC e hoje Lula.

E também a exploração da força de trabalho barata, quase escrava, na China, Índia, Ásia, etc., movimento que hoje se coloca no centro do processo de reconfiguração da economia mundial, daí porque vamos nos estender em analisá-lo, buscando a comprovação empírica para nossa análise.

– A exploração da força de trabalho chinesa –

É possível comprovar, a partir dos dados coletados por Maurício Mesquita Moreira em seu estudo, “O desafio chinês e a indústria na América Latina” 5, que a queda da participação da indústria no PIB não é uma questão especificamente brasileira, mas representa um processo de ajuste, por diferentes razões, dos países dominados e mesmo em alguns países dominantes, às determinações resultantes da reorganização da economia mundial.

Moreira, depois de ressaltar para a América Latina:

… que após mais de uma década de liberalização comercial, aproximadamente 20% do PIB da região ainda é produzido no setor manufatureiro e que países como Brasil e México são exportadores expressivos de produtos manufaturados. (p. 24).

Vai constatar que, apesar do peso ainda significativo da indústria, vivemos um processo que os economistas vão chamar de “desindustrialização” e que denominamos de regressão:

É verdade que a participação da indústria no PIB tem declinado rapidamente, que produtos intensivos em recursos naturais ou trabalho ainda dominam as pautas de exportação e que a América Latina tem tido enormes dificuldades de competir com o Leste Asiático. (p. 24).

A partir do trabalho de Moreira verificamos que, mesmo para economias como as da Argentina, Brasil e México, as que alcançaram maior índice de industrialização na América Latina, depois de um longo processo em que se dá um aumento da participação da indústria no PIB seguido de período de estabilização, se inicia em todas elas, em datas diferentes, um processo de queda contínua desta participação, expressão do processo de transferência das filiais das indústrias dos países dominantes para a Ásia.

No caso dos países dominados é a indústria dos países imperialistas que se desloca em busca de força de trabalho barata e maior taxa de lucro, deixando nestes só o desemprego e os vazios.

No Gráfico 4, retirado do mesmo trabalho, podemos constatar a diferença do valor da força de trabalho – na economia mundial expresso em dólares – entre países da América Latina, entre eles o Brasil, e a China. Podemos também observar, o crescimento do valor da foça de trabalho no México, crescimento contínuo de 1996 a 2002; e a queda contínua deste valor no Brasil e, por fim, o crescimento também contínuo do preço da força de trabalho também na China.

Gráfico 4. Salário médio anual na indústria, em US$1000, correntes

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Nota-se ainda, pelo mesmo gráfico, que o salário médio anual na indústria, que em 1996 correspondia no Brasil a mais de sete vezes este valor na China, se reduz em 2002 a praticamente três vezes tal valor, levando-se ainda em conta que no mesmo período o valor do salário médio anual na indústria na China quase dobrou.

Moreira, respondendo à seguinte questão “Por que a China é um desafio para a indústria na América Latina?”, afirma:

Com uma população de 1,3 bilhão de pessoas e uma força de trabalho de 640 milhões, vivendo e trabalhando em um ambiente com recursos naturais limitados, a China tem imensas vantagens comparativas em produtos intensivos em mão-de-obra. Tal abundância de trabalho se traduz em salários que se situam em níveis bem abaixo daqueles praticados na América Latina. O gráfico 4 [2 em seu trabalho], por exemplo, compara os salários das indústrias chinesa, brasileira, mexicana e colombiana. Como se pode ver, mesmo em um ano favorável como 2002, momento de expressiva desvalorização cambial, os salários no Brasil eram o triplo dos praticados na China. No caso do México, os salários chegavam a ser cinco vezes mais altos. (p. 27)

O que nos permite levar em conta as afirmações de uma fonte improvável como a revista Veja 6, afirmações que podemos cotejar com outras fontes 7:

Nos Estados Unidos, uma hora de trabalho de um operário custa 37 dólares. Na indústria automobilística chinesa sai por menos de 2 dólares (no Brasil é o triplo disso)… há também vários prédios de dormitórios, onde moram 70% dos 15.000 funcionários. É o que há de comum nas fábricas chinesas: como quase todos os operários são migrantes, eles moram nesses quartos de graça [sic]. (Veja p. 150).

E mais:

Em outras fábricas pelo país [China], mesmo nas que produzem para multinacionais de ponta, encontram-se operários que recebem 50 dólares por mês e enfrentam um batente de 15 horas diárias (Veja p. 151).

O mesmo se dá quando se trata da produtividade.

Gráfico 5. Produtividade do trabalho na manufatura – China, Brasil, Colômbia e México (valor adicionado por trabalhador: 1992=100)

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Como se pode ver, no Gráfico 5, num período de dez anos, enquanto a produtividade do Brasil vai do índice 100 a 130, da mesma forma como para o México, na China a produtividade mais do que triplicou.

Buscando explicação para o processo, Moreira afirma que:

É verdade que isso pode ser simplesmente o reflexo dos elevados níveis de investimentos chineses (em média 40% do PIB na última década), os quais elevam a relação capital-trabalho. (p. 29).

É esclarecedor ver, pelo Gráfico 6, o crescimento da participação da China nas exportações mundiais de manufaturados. Ao mesmo tempo em que cai a participação da América Latina e do Caribe.

Puxada pelo México, a América Latina tenta iniciar uma recuperação de suas exportações na década de 1990 e, como podemos observar, seu desempenho fica muito aquém do chinês, que já em 2002 atinge uma participação do mercado mundial duas vezes maior que a mexicana.

Outro ponto importante a observar é a distância crescente entre a participação da Ásia e da América Latina nas exportações.

Gráfico 6. Participação nas exportações mundiais de manufaturados. Países e regiões selecionados, 1981-2002, em porcentagem

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Daí que a China venha tomando, cada vez mais, espaços no mercado mundial antes ocupados pelos países da América Latina.

E é importante notar que a cada ano as perdas da América Latina no mercado mundial aumentam em proporção ao crescimento das exportações chinesas. Como podemos ver, 0,6% em 2000, 0,8% em 2001 para 1,5% em 2002, quase dobrando a participação da China, para em 2003 atingir 2,3% (Gráfico 7).

Gráfico 7. Perdas anuais da América Latina para a China, em percentual das exportações do ano corrente, entre 1990 e 2003

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Agravamento da contradição interimperialista

Como desdobramento do agravamento de sua contradição fundamental, se acirra a contradição interimperialista.

Agravamento da contradição entre os países dominantes como resultado do acirramento da luta de classes, da resistência da classe operária na luta de classes, da queda da taxa de lucro, dos limites encontrados para aumentar a exploração dos povos dos países dominados.

De outro modo, o que estamos dizendo é que diante:

  1. da tendência ao aguçamento da contradição burguesia/classe operária, contradição fundamental do modo de produção capitalista, da luta de classes;
  2. da tendência à queda da taxa média de lucro;
  3. da dificuldade cada vez maior de recorrer ao “comércio exterior”, ao mercado externo, ao aumento da exploração dos países dominado;
  4. para aumentar ou manter a taxa média de lucro, os países imperialistas só tem à sua frente uma nova partilha do mundo “… «segundo a força»;…” de cada país imperialista “… qualquer outro processo de partilha é impossível no sistema da produção mercantil e no capitalismo.”, como já mostrava Lenin.

O acirramento da contradição interimperialista se expressa na radicalização da concorrência/contradição entre a burguesia dos diversos países imperialistas, entre frações ou setores dos diversos ramos da produção e circulação de mercadorias, trustes e cartéis. Concorrência para manter mercados e áreas de influência, controle sobre fontes de energia e matérias-primas. Concorrência na disputa de vida e morte por manter a taxa de lucro, garantindo novas esferas de valorização do capital. Repetindo Lenin4:

Os capitalistas não partilham o mundo levados por uma particular perversidade, mas porque o grau de concentração a que se chegou os obriga a seguir esse caminho para obterem lucros;… (p. 631).

Agravamento da contradição capitalismo/socialismo

Como manifestação da contradição fundamental burguesia/proletariado se coloca e agrava a contradição capitalismo/socialismo expressa nas tentativas de destruir todas as experiências que hoje buscam construir o socialismo.

Na tradição marxista, já é clássica esta enumeração das contradições do imperialismo, da economia capitalista mundial. Contradições que têm de ser compreendidas em sua especificidade e unidade, suas interações recíprocas como desdobramentos da luta de classes, da contradição fundamental do capitalismo: a contradição burguesia/proletariado, que ainda mais se desdobra em concorrência/contradição entre as diversas frações da burguesia.

Conjuntura: o agravamento da contradição do imperialismo com os povos dos países dominados e, cada vez mais, da contradição interimperialista

Buscando fazer a análise concreta da conjuntura concreta da crise do sistema imperialista, poderíamos dizer que a longa crise estrutural que o imperialismo vem vivendo é profunda e generalizada e se torna mais aguda ao golpe de cada crise conjuntural, crise num país, num setor da economia, numa Bolsa, levando o sistema, em busca de contrarrestar sua crise, a aprofundá-la.

Parodiando o Manifesto, podemos dizer que além do fantasma do comunismo, da luta de classes, outro fantasma percorre hoje a economia capitalista mundial, o fantasma da sobreacumulação de capital e da superprodução de mercadorias, levando a crise aos “mercados financeiros” e ao setor produtivo, consequência e causa da queda da taxa média de lucro.

Porque, como dissemos, o desenvolvimento do imperialismo desde a crise de meados dos anos 1970 vem resultando em:

  1. Uma permanente sobreacumulação de capitais – expressa na subida das Bolsas, como no exemplo da Bolsa de Nova Iorque mostrado acima, e em sucessivas crises controladas até agora pela intervenção dos Aparelhos Internacionais do imperialismo: FMI, Banco Mundial e pelos governos e bancos centrais dos países imperialistas, (G-7).
  2. Na diminuição das possibilidades de aplicação desses capitais no setor produtivo, mantendo-se a taxa média de lucro, levando a que esses capitais se refugiem no “mercado financeiro” ou busquem aplicação em qualquer rincão do mundo onde seja possível diminuir o custo da força de trabalho, como no momento atual “os formidáveis investimentos físicos…” realizados na China, como os classifica Delfim em seu artigo à Carta Capital 8.

E também porque há uma superprodução de mercadorias, expressão da sobreacumulação de capitais e limite à sua aplicação no setor produtivo. E, pressionados pela superprodução de mercadorias, pelos limites de seu próprio mercado e do mercado externo, os monopólios – que vêm agravar a concorrência – tendem a fazer cair seus preços, disputando entre si por todas as formas, inclusive a guerra, uma parte maior dos mercados e, constrangendo os países dominados, em sua área de influência, a reorganizar sua estrutura produtiva (Brasil – China) para atender às novas circunstâncias da economia mundial e a consumir seus produtos.

Ou, dizendo de outra forma, pressionado pela sobreacumulação de capital e pela dificuldade generalizada de sustentar a taxa média de lucro no setor produtivo e ganhos e juros correspondentes nos mercados financeiros, o imperialismo vem constrangendo os países dominados a criar mecanismos de remuneração de seus capitais, tanto no setor produtivo (no Brasil, reorganização da indústria e expansão do agronegócio; na China, transferência de indústrias – “deslocalização”), como financeiro, “mercados financeiros”. E/ou, ainda, vem desencadeando guerras por uma nova repartição das esferas de valorização do capital.

Assim, e de forma ainda mais intensa – como resultado do progressivo agravamento estrutural de sua crise – o imperialismo procura encontrar no aumento da exploração dos países dominados, na disputa, na guerra para repartir mercados, a solução para sua crise.

Acirramento do conjunto das contradições

É fundamental para os povos dos países dominados compreender esta conjuntura da crise do imperialismo. Levar em conta que se acirra o conjunto de contradições que compõem a economia capitalista mundial, se agrava a luta de classes, a resistência dos povos dos países dominados às tentativas de ampliar a exploração, a contradição entre o imperialismo e os povos dos países dominados, a dominação, no mesmo processo em que se agrava a contradição interimperialista, a disputa por mercados e áreas de influência. Hoje a guerra imperialista é uma realidade. Guerra para dominar mercados, ganhar zonas de valorização de seus capitais, queimar capitais e militarizar a economia.

É da maior importância que se compreenda o processo único no qual a crise do imperialismo se desdobra – com a queda da taxa de lucro resultando no acirramento de todas as suas contradições. Centralmente de sua contradição fundamental, a contradição burguesia/classe operária, levando a contradição entre o imperialismo e os países dominados à posição de contradição principal, ao mesmo tempo em que gradualmente agrava a contradição interimperialista.

É evidente que a crise do imperialismo agudiza todas as suas contradições, centralmente sua contradição fundamental, como também é evidente que esta contradição se agrava tanto nos países imperialistas como nos países dominados.

Contudo, objetivamente, dentro das condições da luta de classes na conjuntura concreta de hoje, o imperialismo enfrenta uma reação menor ao tentar resolver sua crise elevando a exploração da classe operária e do conjunto dos povos dos países dominados (caso da China 9 e a tentativa do México, e no Brasil hoje o exemplo da Volks em São Bernardo do Campo) 10, do que elevando a exploração de sua própria classe operária, apesar de que também se agrava a luta de classes nos países imperialistas (manifestações na França, Alemanha, Itália e EUA).

Da mesma forma enfrenta menos obstáculos ao tentar resolver a crise sobre os países dominados, ao invés de levar à guerra a disputa entre os países imperialistas (a contradição interimperialista) por esferas de valorização do capital.

O que não quer dizer que a lógica férrea do capital na realidade concreta da economia mundial não determine aos países imperialistas, no mesmo processo, que aprofundem, até onde lhes for possível, a exploração do povo de seu país e de sua classe operária, explorem até onde lhes for possível a classe operária e os povos dos países dominados, e de que não disputem por todas as formas, inclusive pela guerra, as áreas de valorização do capital, os mercados ocupados por outros países imperialistas e tentem destruir as experiências de construção do socialismo.

Resistência do povos

Se a crise do imperialismo impõe a este o aumento da exploração, a luta de classes impõe limites a esta. A ampliação da exploração da classe operária nos países imperialistas tem de se enfrentar com níveis mais elevados de organização e consciência e um patamar também elevado de conquistas, resultantes da luta de classes, expressa em condições de trabalho, salário e vida.

Nos países dominados a classe operária, os trabalhadores e o povo vêm de uma história de dominação e luta sob o colonialismo que transfere sua herança de sujeição ao imperialismo. Sujeição partilhada pela classe dominante destes países em sua subserviência atávica aos interesses dos dominadores, quaisquer que sejam.

Em toda parte é a reorganização da classe operária em seu partido, dirigido por sua teoria, o fator determinante.

Assim, para contrarrestar sua crise e, consequentemente, o agravamento de sua contradição fundamental diante da defensiva da classe operária, o imperialismo agudiza nesta conjuntura a exploração dos países dominados, a contradição que opõe os países imperialistas aos países dominados e cada vez mais a contradição interimperialista.

A acumulação, a concentração e centralização de capitais tende, inevitavelmente, ao monopólio em cada setor da economia mundial. E cada monopólio, truste, cartel, estado imperialista fará tudo, absolutamente tudo, da mera fraude à guerra, para vencer a disputa em cada setor.

Ora, o que dizemos é que quanto mais se agrava a crise estrutural do imperialismo mais este acirra a luta de classes por todo o mundo e de todas as formas. Temos de estar atentos ao realizar a análise concreta da conjuntura para perceber que a resistência dos povos árabes contribui mais para a luta anti-imperialista que toda a esquerda inglesa reunida no Partido Trabalhista Britânico de Tony Blair.

O que vemos hoje é que na unidade das contradições que estruturam o imperialismo, a contradição com os povos dos países dominados vai cedendo lugar à contradição interimperialista. Cedendo lugar, fundindo-se, uma levando à outra, processo no qual estas contradições vão se substituindo enquanto contradição principal, contradição que vai determinar a forma e a velocidade do agravamento das outras contradições.

Reordenamento das relações de exploração nos países dominados

Assim, depois de concentrar forças diante do inimigo comum – o socialismo e seus aliados – para destruí-lo, o imperialismo faz convergir suas forças em reordenar as relações de exploração dos países dominados, com os Estados Unidos utilizando sua supremacia militar e sua hegemonia sobre o sistema capitalista a fim de garantir as novas condições de exploração: intervenção na Iugoslávia, Afeganistão, Iraque, e a crescente intervenção nos países da América Latina, México, Colômbia, Peru, Venezuela, etc., ao mesmo tempo em que usa sua posição no processo de reestruturação da economia mundial (as novas condições de exploração) para reforçar sua hegemonia econômica e militar no sistema.

Com a continuação da crise, a contradição com a classe operária nos países capitalistas dominantes vai se agravando, levando à constituição de verdadeiros “terceiros mundos” internos, como também se agrava a contradição interimperialista na disputa por zonas de influência para valorização do capital, mercados e matérias-primas. Contudo, a contradição interimperialista se mantém ainda em segundo plano, enquanto for possível resolver a crise sobre os países dominados.

Primeiro, porque os Estados Unidos detêm larga hegemonia econômica e militar entre os países imperialistas, usando esta hegemonia e seus braços (Israel, por exemplo), para policiar o sistema e contornar suas crises através dos Aparelhos Internacionais do imperialismo, determinando a posição dos demais países imperialistas na economia mundial.

Segundo, porque ainda existem mercados a conquistar (a China, Índia, etc.) e se faz necessário quebrar a resistência dos povos de todo o mundo à “nova ordem mundial”.

Terceiro, porque a crise econômica ainda não chegou ao seu auge, o que implicará a radicalização da disputa feroz que já vem se travando pelo controle das “áreas de influência”, dos mercados, das matérias-primas, principalmente de petróleo e gás, e da força de trabalho, tendendo, como das outras vezes, a gerar uma nova guerra mundial.

Contudo, já se percebe no horizonte a tendência de que a crise da economia mundial pode vir a atingir novamente a economia dos EUA e, como dissemos, vários dos “intelectuais” integrados ao sistema apontam esta tendência.

Na revista Carta Capital, de agosto deste ano, n o. 408 11, Francisco Petrus nos diz, em sua coluna, “O Bolso e a Cabeça”, que:

Está generalizada a percepção de que a economia norte-americana entra em um processo de redução de atividades. Se esse processo resultará em recessão somente o tempo dirá. (p. 41)

Páginas atrás, Márcia Pinheiro começa afirmando, no artigo “A locomotiva pode parar”, que “… a locomotiva global dá sinais de cansaço.”, para em seguida se referir às análises de Paul Krugman, Stephen Roach (economista chefe do Banco Morgan Stanley) e Jared Bernstein (do Economic Policy Institute – EPI) entre outros:

Dos 11,4 trilhões de dólares do Produto Interno Bruto (PIB) americano, nada menos que 8,1 trilhões de dólares são gerados pelo consumo das famílias. Essa megaconcentração da economia dos Estados Unidos na mão dos consumidores é capaz de gerar movimentos ciclotímicos, da euforia à depressão. A má notícia é que, após quatro anos consecutivos de crescimento expressivo, a locomotiva global dá sinais de cansaço (p. 36).

De acordo com o professor da Universidade de Princeton Paul Krugman, o crescimento dos EUA desde a crise das empresas pontocom – com o crash da bolsa de tecnologia Nasdaq, em 2002 – deu-se basicamente pela supervalorização dos imóveis (p. 36).

Segundo o conceituado economista chefe do Banco Morgan Stanley, Stephen Roach, a palavra-chave que explica a ante-sala da recessão é o mercado de trabalho. O crescimento da oferta de empregos nos últimos quatro meses está 35% abaixo da média registrada desde 2004 (p. 36).

Um artigo de Roach, publicado no jornal britânico Financial Times em 14 de agosto, sustenta que o consumo já caiu 2,5% de abril a junho (p. 36).

O analista Jared Bernstein, do Economic Policy Institute (EPI), um centro de pesquisas norte-americano, também chama atenção para a redução constante da criação de novas vagas de trabalho (p. 36).

Na revista Forbes Brasil, de agosto deste ano 12, Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos, analisando “Cenários Econômicos” no artigo Perspectivas preocupantes para e a economia mundial, torcendo pelo sucesso do capitalismo, avalia:

… Tudo indica que a economia mundial, sob influência da economia americana, caminha para um suave processo de desaquecimento, sendo de se prever que o nível máximo das taxas de juros, se não tiver sido alcançado, será atingido no futuro imediato. Já existem indicações sobre o arrefecimento do crescimento da economia americana, às quais agora se juntam indicações sobre comportamento semelhante por parte da economia européia (p. 30).

Como observa o insuspeito defensor do capitalismo Delfim Netto, “A China e outras economias asiáticas, aproveitando o espírito da globalização, encontraram uma espécie de equilíbrio simbiótico com os Estados Unidos”. Da mesma forma que os repórteres da revista Veja: EUA e China estabeleceram “uma relação simbiótica” que resultou que “… a economia mundial se tornou dependente da corrente de riquezas que une China e EUA em fulgurante estrela binária”.

E prosseguem os articulistas da revista, o “modelo de crescimento” da China não pode se reproduzir por muito tempo sem que leve a uma cada vez mais acentuada sobreacumulação de capital e a inundar a economia mundial de milhões de gadgets made in China.

As debilidades inerentes à economia chinesa, o sistema financeiro de alta vulnerabilidade e um modelo de crescimento que, dizem os especialistas, não pode durar para sempre assustam tanto quanto sua voracidade. O raciocínio é o seguinte: se a China desmoronar a economia mundial vai junto … (Veja, p. 108-109).

Interdependência entre países imperialistas e China

A interdependência entre EUA e China é muito grande, mas não é só. O conjunto de países imperialistas vêm estabelecendo relações de interdependência cada vez maiores com a China, começando por Alemanha e Japão. Como diz a revista Veja, os chineses tem “seis em cada cem dólares de títulos da dívida americana que estão no mercado”. Do 1 trilhão de dólares de reservas em moeda estrangeira nas mãos da China “60% estão aplicados em dólares e títulos do governo dos Estados Unidos”.

A transferência da indústria dos países imperialistas para as zonas de exportação chinesas destrói empregos não só nos países imperialistas como em países dominados onde se encontrava parte da indústria dos países dominantes.

Das 6000 fábricas pelo mundo que fornecem produtos à Wal-Mart, 89% estão na China. Isso mata empregos. (…) Das 500 maiores companhias americanas, 450 instalaram-se na China. (…) Um total de 72 bilhões de dólares foi investido lá no ano passado pelas companhias estrangeiras – a maior enxurrada de dólares do planeta (Veja, p. 158-159).7

Movimento contraditório do processo de rearranjo da economia mundial

O processo de rearranjo da economia mundial que descrevemos, como ensina Marx, ao mesmo tempo/movimento em que permite, momentaneamente, a retomada da acumulação capitalista levanta novas e maiores barreiras a ela. Tudo vai acirrar as contradições do sistema levando a que todos os países imperialistas acirrem sua luta por ampliar seu lugar na economia mundial.

Assim, da mesma forma que a agressão imperialista ao Afeganistão, agressão e partilha da Iugoslávia, guerra contra o Iraque, agressão à Palestina, ataque ao Líbano 13 e a “deslocalização” da indústria imperialista para China, fazem parte dos movimentos do imperialismo buscando retomar, aumentar a taxa de lucro na valorização do capital, com a ampliação de seu “espaço vital” na economia mundial.

De fato, o que os EUA têm como objetivo nesta guerra (no conjunto destes movimentos) para contornar a crise latente na economia mundial – partindo da convicção que Israel faz guerra como preposto dos EUA – pode ser resumido em um objetivo amplo, que se desdobra, um nos outros:

Primeiro, militarizar a economia: é só ver que Clinton aumentou em 70% os gastos militares dos EUA e que Bush vem radicalizando esta política.

Segundo, como desdobramento da militarização, principalmente controlar o petróleo e o gás natural na Ásia Central e Península Arábica – Médio Oriente – Arábia Saudita, Iraque, Irã e Kuwait etc., e não só petróleo, porém todas as fontes de energia e matérias-primas em todo o mundo;

Terceiro, e ainda, também impor e ampliar suas bases militares no centro da Ásia entre Rússia, China e Coréia e no Médio Oriente, não só impedindo uma coligação de interesses entre Rússia, China e Coréia como embargando os interesses da União Européia no Médio Oriente;

Quarto, assim, assumir uma posição de força para enfrentar a resistência e o ascenso da luta de classes.

Como dissemos, o imperialismo norte-americano, para manter sua hegemonia na economia global, tem sido empurrado a se sustentar cada vez mais pelo uso da força, isolando-se. Enfrentar tantos inimigos de uma vez pode parecer à primeira leitura um sinal de força, porém, o que fazem na realidade é mostrar, com mais esta guerra (neste momento o ataque e a resistência do povo do Líbano e a ameaça ao Irã), sua debilidade.

A militarização da economia e seus desdobramentos

Os EUA reagem para manter sua hegemonia por meio da guerra, enfrentando a tendência à queda da taxa média de lucro na economia mundial, a concorrência cada vez mais acirrada da União Européia, do Japão e do bloco de países que se organizam em seu entorno, a ameaça do enigma que representa o crescimento econômico da China, uma crescente oposição dos países dominados na OMC e da classe operária e dos povos do mundo todo.

Por outro lado, como mostramos acima, os Aparelhos Internacionais do imperialismo (FMI, etc.) e os “analistas financeiros”, temem a cada queda da bolsa que Wall Street e todo sistema mundial financeiro se vejam arrastados a uma crise catastrófica, muitos deles não excluindo que se reproduza um crash como o de 1929.

A tentativa de solucionar o problema, transferindo o peso da crise para os países dominados, cria um problema ainda maior: como poderão os trustes e os cartéis que montaram na Ásia (na China) uma indústria com o melhor da tecnologia e força de trabalho quase escrava vender mais aos povos que eles empobreceram?

Crescimento da pobreza e da miséria em todo o mundo é também um problema econômico insolúvel. Por um lado, existem capitais e capacidades de produção sem precedentes que crescem sem cessar, por outro, são cada vez maiores os números da pobreza e da miséria por todo o mundo e, portanto, menores os números dos que podem consumir.

A reação da economia norte-americana à crise de 2001, através do estímulo ao consumo privado como motor da economia, se mostra cada vez mais incapaz de relançar um período de crescimento econômico. Assim, a militarização é também uma tentativa de reanimar a economia. A este processo complexo, com vários desdobramentos, que significa muito mais do que recorrer a uma “corrida armamentista”, denominamos por militarização da economia.

A militarização liderada pelo “complexo industrial-militar” tem gerado um sem número de efeitos na economia como:

  • forçar, com a produção de equipamento militar que vai desde os sofisticados mísseis a alimentação e botas, uniformes etc., o relançamento do crescimento econômico;
  • assegurar o controle dos EUA sobre mercados e matérias-primas, petróleo e gás, em detrimento e na concorrência com os demais países e blocos imperialistas;
  • provocar a queima forçada de capital.

Brasil

Todo este processo contraditório acima descrito implicou, em nosso país, uma reconfiguração de nossa formação econômico-social, aprofundando a dominação/exploração imperialista, que denominamos como uma regressão a uma situação colonial de novo tipo, que analisamos no texto Formação econômico-social brasileira: regressão a uma situação colonial de novo tipo.

Como já dissemos, desde o governo Collor até Lula, este lugar-tenente operário da classe dos capitalistas, nossas classes dominantes e seus gerentes embarcaram com deleite e, note-se bem, proveito, neste processo. Tanto Lula como Alckmin, que agora querem Geraldo, defendem a mesma política de submissão ao imperialismo e usarão todo o peso dos Aparelhos de Estado, repressivos e/ou ideológicos, para levá-la a cabo.

A diferença para a classe dominante, para seus setores hegemônicos, é a de que Lula tem se mostrado mais útil para continuar este processo. O nosso “operário” presidente pode recorrer à imagem de “pai dos pobres”, pai dos trabalhadores, que construíram para ele, para, como bom pelego, amortecer a luta de classes.

Portanto, nesta conjuntura, devemo-nos perguntar nos inspirando em Lenin: interessa à classe operária participar das eleições burguesas?

É Lenin quem nos diz em 1920 que,

… poderíamos assegurar sem vacilar que o parlamentarismo na Alemanha ainda não caducou politicamente, que a participação nas eleições parlamentares e na luta através da tribuna parlamentar são obrigatórias para o partido do proletariado revolucionário, precisamente para educar os setores atrasados de sua classe, precisamente para despertar e instruir a massa aldeã… 14

Uma questão fundamental que marca a diferença da conjuntura em que travaram sua luta os comunistas na Alemanha e na Rússia na época de Lenin e da conjuntura brasileira atual é que aqui não há partido revolucionário do proletariado, para, através de uma participação dirigida por uma linha política/ideológica justa, despertar, educar, instruir e organizar a classe operária, as classes dominadas, em meio às eleições ou aos parlamentos burgueses. Portanto, mais uma vez nos inspirando em Lenin – “… porque foi levado em conta, acertadamente, a situação objetiva,…” 15 – buscando fazer a análise concreta da situação concreta, é justo não participar das eleições a não ser denunciando-as.

Portanto, em nossa opinião, para a classe operária e para as classes dominadas só resta – denunciando a farsa das eleições, a política e ideologia imperialistas, o “metalúrgico presidente” e sua “oposição” –, combater, e, no fogo da luta de classes, construir o seu partido. Como diz Lenin: “o partido do proletariado revolucionário”.

1 Ver a definição de imperialismo no texto E agora?.

2 Quebra do fundo de hedge dos dois prêmios Nobel, o Long Term Capital Management, LTCM.

3 LENIN, V.I. O imperialismo, fase superior do capitalismo. Obras Escolhidas. Tomo 1. São Paulo, Editora Alfa Omega, 1979, p. 575.

4 Revista CARTA CAPITAL. Política, Economia e Cultura. Ano XII nº. 389, 19 de abril/2006.

5 MOREIRA, Maurício Mesquita. O desafio chinês e a indústria na América Latina. Revista Novos Estudos, CEBRAP, nº. 72, julho 2005, p. 21-38.

6 Revista VEJA. Reportagem Especial: CHINA. Edição 1968 – ano 39 – nº. 31, 9 de agosto de 2006.

7 VIEIRA, Flávio Vilela. China: crescimento econômico de longo prazo. Rev. Econ. Polit., v. 26, n o. 3, São Paulo July/Sept. 2006.

8 Revista CARTA CAPITAL. Política, Economia e Cultura. Ano XII nº. 389, 19 de abril/2006.

9 Uma ressalva à caracterização da China como país dominado é apresentada no texto Elementos para Discussão da Conjuntura [nota da edição].

10 INVERTIA. Metalúrgicos desafiam Volks e não aceitam acordo sobre demissões. Terça, 22 de Agosto de 2006. Disponível em http://economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=200608221857_INV_29879718.

11 Revista CARTA CAPITAL, Política, Economia e Cultura. Ano XIII nº. 408, 30 de agosto de 2006.

12 Revista FORBES BRASIL. Ano 6, n o. 138, 23 de Agosto, 2006.

13 Para realizar esta análise temos que ter em conta que Israel não é nada mais nada menos que a ponta de lança do imperialismo norte-americano no Oriente Médio, que Israel não se arriscaria a uma agressão de forma tão bárbara a um país desarmado como o Líbano se não tivesse recebido as ordens e a garantia de que os EUA os apoiaria diante de reação que não pudesse controlar.

14 LENIN, V.I. A doença infantil do «esquerdismo» no comunismo. Rio de Janeiro: Editorial Vitória, 1960. p. 62.

15 Ibid. p. 29.

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- 03/10/2006