CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

Cem Flores, Conjuntura, Destaque, Lutas, Nacional

Contra mais um brutal assassinato, ampliar a luta contra a opressão racista no Brasil!

Manifestantes se concentram no vão do MASP, na tarde de 20/11/2020, em repúdio ao assassinato de João Alberto.

Cem Flores 
21/11/2020

Na noite de 19/11/2020, às vésperas do dia da consciência negra, João Alberto Silveira Freitas foi espancado e asfixiado até a morte no Carrefour próximo à sua casa, em Porto Alegre. Beto, como era conhecido João, tinha apenas 40 anos. Um trabalhador negro, pai de família e muito querido pelos amigos.  

Quem cometeu tal atrocidade, cujas imagens rapidamente circularam pelos meios de comunicação, foram seguranças (um deles policial militar) do Grupo Vector, que atua no supermercado. O assassinato aconteceu na frente de várias testemunhas, inclusive de sua companheira, a cuidadora de idosos Milena Borges Alves.

O fato aconteceu depois dos seguranças não terem gostado de uma brincadeira feita por João, que já estava de saída do supermercado, muito frequentado por ele e sua família. Tanto o temperamento brincalhão dele, quanto a postura agressiva e discriminatória dos seguranças do local, eram conhecidos. Os amigos de Beto relatam que havia ali um ambiente hostil, sobretudo com os torcedores do time popular da região, o São José. 

Mas Beto não era apenas um torcedor de um time popular. Ele era um trabalhador, pobre e negro: fazia parte da população mais brutalmente explorada e oprimida de nosso país.

A morte de Beto é mais uma morte ocasionada pelo violento racismo brasileiro e executada pelas forças repressivas (públicas e privadas) da dominação burguesa. Não se trata de um crime aleatório. A covardia e a brutalidade contra Beto são mais uma expressão da estrutura racista e de classe da sociedade capitalista brasileira que age contra as massas todos os dias!

O Estado nega tal obviedade. Afinal, ele é um dos principais responsáveis pela chacina enfrentada diariamente pela população negra e pobreA delegada responsável pelo caso nega enquadrar o assassinato como racismo. O vice-presidente Mourão, foi além: negou a existência de racismo em nosso país, repetindo o discurso governamental em defesa de uma fajuta “democracia racial”. Sendo seguido, nas redes sociais, por outros membros da extrema-direita, que rejeitam a suposta “politização” da morte de Beto e qualquer paralelo com outros assassinatos racistas, como o de George Floyd, cuja asfixia, por policiais nos EUA, também foi filmada e gerou uma onda de revolta pelo mundo.

A empresa capitalista multinacional Carrefour e o Grupo Vector, por sua vez, tentam mostrar que se trata de um caso isolado e de responsabilidade individual dos assassinos. Mas são inúmeros os casos recentes de discriminação e violência racista, repressão, tortura e até assassinato envolvendo supermercados e empresas privadas de segurança (cujas relações com o aparelho de repressão estatal são inúmeras) em nosso país. Inclusive envolvendo o próprio Carrefour e outros mercados atendidos pelo Grupo Vector, como o Extra. 

Em 2018, Luís Carlos Gomes, negro e deficiente físico, foi brutalmente espancado por um gerente e um segurança do Carrefour em São Bernardo do Campo por ter aberto uma lata de cerveja que ele ia pagar.  Ano passado, Pedro Gonzaga, um jovem negro de 19 anos também foi asfixiado até a morte no Extra do Rio de Janeiro.

Diante de tamanha violência e da contínua indiferença das classes dominantes, que mantêm há muito seu luxo e riqueza sob o suor e sangue de Betos e Pedros, só nos restou, mais uma vez, o caminho da luta e da revolta.

E foi isso o que ocorreu no dia 20 de novembro, em mais um dia da consciência negra de resistência. Incialmente, o descontentamento se alastrou pelas redes sociais. Depois, tomou as ruas em vários locais do país. São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Brasília foram algumas cidades que registraram protestos. Os atos também adentraram unidades do Carrefour, que foram objeto de ódio e revolta por parte dos manifestantes. Rebelar-se é justo!

Contra mais um brutal assassinato, por justiça a Beto, é preciso intensificar tais protestos pelo país, construir uma nova onda de atos como a que vivenciamos recentementeApenas ampliando a luta contra a opressão racista no Brasil, avançando na organização independente dos explorados e oprimidos, as classes dominadas e povos oprimidos farão seus algozes recuarem.

Nosso luto não é feito de silêncio, mas de toda uma vida de luta!

Beto presente!

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- 21/11/2020