CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

Cem Flores, Conjuntura, Destaque, Lutas, Movimento operário, Nacional

Retomar as lutas operárias e de massas em todo o Brasil!


Carreatas pelo impeachment de Bolsonaro nos dias 23 e 24 de janeiro.
É preciso não cair nas ilusões “institucionais” da “esquerda” eleitoreira e das camadas médias. É preciso tornar o crescente descontentamento operário e das massas dominadas em organização e luta, nas ruas, nos locais de trabalho e de moradia.

Cem Flores

29.01.2021

A crise continua pesando sobre as classes trabalhadoras

A sequência sem fim de crises do capitalismo brasileiro na última década piorou muito significativamente as condições de vida da maioria trabalhadora. E o que já era ruim se agravou ainda mais com a nova crise econômica e a pandemia que estouraram no ano passado. Como em todo o mundo, foram e ainda são as massas trabalhadoras as mais atingidas pela covid-19 e pelos violentos impactos da crise.

No Brasil, os números diários de contaminados e mortos pelo coronavírus nunca foram tão altos como agora. Embora os/as trabalhadores/as do SUS lutem incansavelmente e em situação cada vez mais difícil, o sistema público de saúde, há muito golpeado pela burguesia, colapsa em diversas partes do país sob o peso da pandemia e de mais sabotagens do governo. Com isso, a morte invadiu a casa de centenas de milhares de famílias trabalhadoras. Tais famílias, além do péssimo acesso à saúde, não possuem o privilégio de seguir à risca a quarentena e se proteger na pandemia: precisam sair em busca do pão, enfrentando transportes coletivos lotados e trabalhar sem a segurança sanitária necessária.

O desemprego e o desalento, sempre muito altos, aumentaram ainda mais. Somos 14 milhões de desempregados/as, 10 milhões que não têm carteira assinada, outros 23 milhões que se viram por conta própria, além de outros milhões que não conseguem ânimo sequer para procurar o emprego, pois sabem que não vão achar.

Nessa última crise – que ainda não acabou! – mesmo quem tinha apenas bicos para sobreviver se viu com menos ou nenhum serviço. Quem conseguiu segurar seu emprego, teve seu salário corroído ou rebaixado pelo patrão com o estímulo do governo. Com isso, a fome voltou com força na mesa de milhões, ainda mais devido à explosão do preço dos alimentos, do aluguel, do gás e outras contas.

A educação, o transporte, o lazer, tudo sofreu forte piora em 2020. A violência, dentro e fora de casa, em nada melhorou. As mulheres trabalhadoras viram seu trabalho doméstico se multiplicar.

Durante alguns meses, no segundo semestre do ano passado, o auxílio emergencial, diante do imenso caos social no qual o país mergulhou, amenizou a situação de muitos trabalhadores/as e pobres. Logo que pôde, o governo cortou o auxílio pela metade. Neste começo de ano, cortou o resto que faltava. Assim, boa parte dos domicílios do país se viram quase que sem nenhuma fonte de renda: nem auxílio, nem emprego.

Este é, pura e simplesmente, o capitalismo que a maioria trabalhadora sempre conheceu. A crise continua pesando sobre as classes trabalhadoras, enquanto os lucros da burguesia são cada vez maiores e sua vida luxuosa em nada mudou. E, se depender dos patrões e do seu governo, 2021 será mais um ano de arrocho, fome, exploração e morte para nós. Lutar é preciso!

Agravamento da crise política: queda na popularidade de Bolsonaro e disputas entre as facções burguesas

Diante dessa difícil realidade eleva-se o ódio de classe e o descontentamento das classes trabalhadoras contra o governo e o Estado, que nada mais são do que representantes dos patrões, dos ricos, daqueles que estão se protegendo em suas casas, com suas rendas e lucros.

As pesquisas de opinião do início do ano têm mostrado uma significativa elevação na rejeição contra Bolsonaro. Neste mês, o ruim/péssimo subiu de 32% para 40%, enquanto o ótimo/bom caiu de 37% para 31%, segundo o Datafolha. A maior parte dessa rejeição veio dos mais pobres, da massa trabalhadora. A reprovação do governo entre aqueles que recebem até 2 salários mínimos passou de 26% para 41%.

Esse descontentamento voltou a estimular algum nível de mobilizações, mas ainda centradas basicamente nas camadas médias, inclusive seus setores conservadores, de direita. Como exemplo, os panelaços voltaram. No último final de semana ocorreram carreatas em várias cidades do país.

Motivos não faltam para o retorno dos protestos e das greves, nas periferias e nos locais de trabalho! As classes trabalhadoras precisam de empregos, salários, saúde e do fim da carestia!

Esse enfraquecimento de Bolsonaro possibilitou também várias outras facções e alas políticas burguesas criticarem o governo, em uma nova rodada de disputas típicas da crise política que se desenrola no país nos últimos anos. O STF impôs algumas mínimas derrotas ao governo na gestão da pandemia. O presidente da Câmara e seu grupo continuam buscando, sem muito sucesso, se mostrar mais úteis à burguesia do que Bolsonaro. Setores da direita e da imprensa burguesa puxam de forma mais intensa e direta a bandeira do impeachment para avançar nas “reformas” capitalistas.

O descontrole da pandemia e a gestão caótica e sabotadora do Ministério da Saúde, que acabam impactando os patrões e seus lucros, também têm gerado algumas poucas críticas abertas ao governo por parte desses mesmos patrões. Como bom funcionário do capital, Bolsonaro tem recuado em vários pontos, buscando manter o apoio essencial das classes dominantes. Assim como tem reagido calculadamente à nova rodada de pressões e ameaças do judiciário, legislativo, imprensa e direita.

O fato de o governo ter se enfraquecido não significa um governo sem forças. Em primeiro lugar, a burguesia continua fechada com Bolsonaro praticamente em bloco. Afinal, ele continua a ser fiel ao programa de “reformas”, um instrumento útil à atual ofensiva de classe contra os trabalhadores, disposto a usar todos os instrumentos necessários para reprimir e aprofundar a exploração sobre os trabalhadores. Em segundo lugar, com seu acordo com o centrão, Bolsonaro pode ter neste ano uma base parlamentar mais consolidada, inclusive com as presidências da câmara e do senado, além de certa blindagem institucional (incluindo a Procuradoria-Geral da República).

Nossa solução não virá do programa da burguesia ou de outro governo burguês: construir o caminho independente das massas exploradas!

Os partidos oportunistas de “esquerda”, em sua crença no estado capitalista e num capitalismo utópico, têm buscado canalizar essa revolta e esse descontentamento popular exclusivamente em termos de soluções burguesas contra a figura de Bolsonaro, jogando todas as lutas para debaixo do comando das instituições burguesas.

De fato, todo o ódio de classe e todo combate à figura do fascista Bolsonaro e de seu governo de extrema direita se justificam.

Mas a política da “esquerda” reformista e oportunista e de seus aliados das camadas médias conservadoras, de direita, é outra, totalmente diferente de uma política da classe operária e dos/as trabalhadores/as. Na realidade, esses grupos querem usar o movimento de massas para a velha ilusão do desenvolvimento capitalista, o qual seria possível sem mudar as estruturas desse sistema e que atenderia a “todos” (sic!), independente de classe, além de seu velho cretinismo parlamentar e eleitoreiro. Na realidade, sua política busca aumentar as ilusões burguesas e enfraquecer as massas exploradas na luta de classes.

Eles não pretendem resistir concretamente à ofensiva de classe burguesa, ao programa hegemônico da burguesia que tem piorado a situação das classes trabalhadoras. Esses grupos de “esquerda”, inclusive, quando estavam no governo, eram os que coordenavam os ataques aos/às trabalhadores/as. Pretendem agora se fortalecer no espaço institucional para mais uma vez iludir as massas de que seus problemas serão resolvidos nos limites desse sistema apodrecido em que vivemos. Eles são a posição burguesa no seio de nossa classe!

Não podemos cair nessa ilusão. Assim como não podemos ser ingênuos e acreditar que se trata apenas de uma questão de troca de governo (ou pior, de pessoa: Bolsonaro por Mourão? Maia por Lira ou Rossi?). A barbárie atual vivenciada pelas massas exploradas não se resolveu com as últimas trocas de governo e nem se resolverá com mais uma. Na realidade, estamos diante de uma profunda crise do capital, de uma ofensiva burguesa violenta.

Esse ataque da luta da classe burguesa só pode ser revidado na luta de classe proletária, na retomada das nossas lutas concretas e das organizações das massas, em seus locais de trabalho e moradia. Aí está o único e verdadeiro poder das classes trabalhadoras, nossa força na qual precisamos confiar, e não nas instituições e nas propostas do inimigo!

É preciso incentivar que esse crescente descontentamento operário e de massas e esse enfraquecimento do governo se convertam em fortalecimento da resistência contra o ataque dos patrões e suas reformas como um todo; em fomento das organizações e lutas concretas que têm estourado no último período. Mesmo sendo inevitável travar algumas das lutas com os/nos aparelhos de estado, se faz necessário entender que, o determinante é a autonomia das massas e a construção de seus instrumentos de luta independentes e classistas.

Vários são os exemplos recentes no mundo de que é a mobilização das massas, além e contra o oportunismo da “esquerda” eleitoreira, o caminho principal para reverter a continuidade dos ataques a nós; e esse é também o caminho para, a longo prazo, destruirmos essa sociedade e construirmos outra na qual nossos problemas de fato poderão encontrar solução.

Contra o governo de extrema-direita e a ofensiva burguesa, reforçar as lutas concretas das massas e a independência de classe!

Cem Flores

Janeiro de 2021

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- 29/01/2021