CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

Cem Flores, Conjuntura, Destaque, Lutas, Movimento operário, Nacional

Não há solução para as classes trabalhadoras no capitalismo. O caminho é destruí-lo.

A única alternativa é organizar a necessária resistência coletiva e independente da classe operária e das massas trabalhadoras no Brasil.

Garis do Rio protestando por vacina e aumento salarial.

 

Cem Flores

09.07.2021

 

A crise econômica, sanitária e social que avança mais profundamente desde o início de 2020, atinge a nós, trabalhadores/as, de todas as formas. A pandemia já ceifou mais de 4 milhões de vidas em todo o mundo, sendo mais de meio milhão no Brasil. Nada indica que será superada no curto prazo. Quem mais está morrendo é a nossa classe, sem a possibilidade de isolamento social e sem acesso a serviços médicos de qualidade.

O desemprego, a fome e a miséria estão muito mais presentes em nossos lares e de nossos irmãos e irmãs de classe. A ilusão que o capitalismo sempre tentou nos vender, de que com o trabalho duro a vida iria melhorar, mais do nunca está descartada. Quanto mais se trabalha, menos se ganha! E o pouco que ganha, a carestia corrói!

O avanço na exploração capitalista é o “novo normal” aos que ainda têm emprego. Essa ofensiva burguesa se expressa, entre outros, nas alterações nas relações de trabalho, iniciadas com os acordos dos pelegos da CUT e de outras entidades sindicais pelegas na década passada (negociado sobre o legislado, redução de jornada com redução de salário, layoff etc.), referendadas pelos governos do PT, institucionalizadas com a reforma trabalhista no governo Temer e “normalizadas” a partir do avanço da crise no ano passado.

Para a outra grande parte dos/as trabalhadores/as sobrou a instabilidade constante do trabalho informal, com suas jornadas intermináveis e pouquíssimo remuneradas ou o sofrimento cotidiano do desemprego e da falta de perspectivas de renda para sustentar suas famílias.

À brutalidade da pandemia, da fome, do desemprego e da miséria se somam a violência da repressão e o avanço das hordas fascistas. A repressão das classes dominantes e do seu estado (seja legal, ou seja, forças armadas, polícias e seguranças privadas, ou ilegal, mas cumprindo a mesma função, milícias, crime organizado, grupos paramilitares, jagunços etc.) mata e reprime mais do que nunca, buscando nos deixar intimidados/as e com medo de reagir a esse avanço brutal da burguesia pela retomada de seus lucros e para manutenção de sua vida de luxo e ócio.

As crises capitalistas, como a que estamos vivendo, são sempre oportunidades para maior concentração e centralização do capital e aprofundamento da exploração e da miséria que caem sobre a classe operária e os/as trabalhadores/as em todo o mundo. Todas as nossas pequenas conquistas, obtidas nos momentos conjunturais de expansão capitalista, são rapidamente destruídas e a sanha assassina do capital avança ainda mais sobre nós.

A lição que tiramos dessa batalha é uma lei férrea do capitalismo: mesmo as pequenas reformas, resultado de nossa luta – e não de dádivas da burguesia, de seu estado e governos – serão transitórias se o capitalismo não for destruído.

Não há solução possível para nós dentro do sistema que vivemos. Não há reforma capitalista possível que possa alterar o aprofundamento da exploração, da miséria, da fome. A solução para o povo está na revolução contra esse regime de exploração, contra os patrões e seus lacaios.

Essa revolução só pode ser construída pela luta das massas, a partir do estágio realmente existente em cada conjuntura. Hoje, no Brasil, essa luta tem ocorrido em diversas formas de resistências coletivas e independentes.

Mutirões, ações de solidariedade, de ajuda mútua, movimentos coletivos de organização e resistência pela sobrevivência (saúde, alimentação, cuidados aos idosos e às crianças…) surgiram em vários pontos do país e são um importante exemplo disso. Mesmo ainda embrionários, demonstram a capacidade e o poder que o povo tem para enfrentar seus inimigos e construir seu próprio caminho, de forma coletiva e autônoma, sem depender das falsas soluções apresentadas pela burguesia, pelo estado ou seus instrumentos políticos. “Soluções” que sempre buscam substituir a ação organizada das massas pela atuação dos ditos “representantes”, na verdade burocratas imbuídos da missão de paralisar esses movimentos e deixá-los inofensivos frente ao Estado e aos patrões.

As poucas, mas importantes, resistências nos locais de trabalho também mostram que a indignação da classe operária está viva. A dificuldade de ampliar essa indignação provém da posição oportunista ainda hegemônica no movimento sindical, posição de nosso inimigo de classe. Superar essas posições na classe operária e fortalecer a posição revolucionária é tarefa imprescindível para mudarmos esse quadro.

Os focos de resistência coletiva e independente nas fábricas, nas concentrações operárias, na periferia das cidades e no campo, de fato, são ainda pequenos exemplos, muito aquém do necessário para sairmos dessa dura situação. Mas as lições que eles trazem devem ser desenvolvidas e estimuladas. A classe operária, trabalhadores/as, moradores/as da periferia, camponeses/as estamos todos/as aprendendo na conjuntura atual uma lição fundamental na luta de classes: ninguém irá lutar por nós! Façamos nós, com nossas mãos, tudo o que a nós nos diz respeito!

Essa é a postura e o sentido das ações que os comunistas devem adotar na conjuntura atual. Encontrar na crise, que expos todas as contradições insuperáveis do capitalismo, o caminho da organização independente do proletariado e romper as ilusões com o estado, os partidos e movimentos burgueses. Seguir o rumo que a classe operária e as classes trabalhadoras sabem por instinto, o do enfrentamento ao inimigo de classe e da construção dos instrumentos políticos para esse enfrentamento.

Esse instinto da classe operária na luta de classes, se estiver integrado ao marxismo, ciência que é resultado da luta do proletariado, pode iluminar nossa marcha, transformar essa rebeldia ainda espontânea e pontual em ação organizada e generalizada de enfrentamento ao inimigo, já que nos permite analisar concretamente a realidade atual e identificar as ações para a transformação revolucionária.

Todas as tentativas de fazer os/as trabalhadores/as desviarem desse objetivo só servem aos inimigos de classe. As falsas soluções de que essa horrível conjuntura em que vivemos se resolveria elegendo outro representante burguês, que se apresenta como salvador da pátria, nós já conhecemos. Ela foi aplicada neste país várias vezes, e por muitos anos, e nos levou para onde estamos hoje! Na verdade, essa ilusão com as soluções ofertadas pelos inimigos só serviu para reforçar os grupos da extrema-direita e nos desarmar no enfrentamento a eles.

Na conjuntura atual, de desgaste desse governo de extrema-direita e de seu presidente fascista e corrupto (corrupto como todos os governos burgueses), de ofensiva dos patrões e aprofundamento da podridão capitalista, o caminho não pode ser o de acreditar nas ilusórias mudanças do “gestor de plantão” do capital. O caminho só pode ser o de avançar na organização e na consciência das formas de resistência reais, concretas, que a classe operária e os/as trabalhadores/as devem desenvolver para se apropriar e se constituir como força independente.

Sabemos que o caminho é longo, mas isso não pode ser uma justificativa para a escolha de um “atalho” que na verdade nos afasta de nosso objetivo real: a destruição do capitalismo. O longo caminho deve ser a base que indica a necessidade de construir desde já, junto à classe operária e aos/às trabalhadores/as, os alicerces políticos, teóricos, ideológicos e organizativos que façam com que nosso objetivo se aproxime cada dia mais. Trabalhar no sentido da revolução e não no sentido que nos afasta dela!

A rendição aos interesses burgueses, colocando nas mãos deles a solução dos problemas que afligem nossa classe, situação que eles criaram para garantir seus lucros e sua existência como capital, não é uma saída e sim uma falsa alternativa para nos paralisar e nos desarmar, novamente, no combate que devemos travar.

As “frentes amplas” propostas pela dita “esquerda” nos colocam a reboque de interesses políticos oportunistas, interesses burgueses daqueles que acham que é possível prolongar ainda mais esse sistema apodrecido. Grupos que querem voltar aos espaços de poder para, mantendo e garantindo a exploração capitalista, retomarem seus privilégios, perdidos com o crescimento da extrema-direita. Essas propostas de “frentes amplas” nos paralisam e impedem de ver a realidade objetivamente, o que é necessário para enfrentar essa situação.

A frente ou a unidade que devemos construir é aquela que une a classe operária e os/as trabalhadores/as, os criadores de toda a riqueza existente, na luta contra os patrões e seu estado, aquela unidade que aponte como único caminho objetivo a superação do modo de produção capitalista, a substituição dessa sociedade pelo socialismo, onde quem produz a riqueza possa desfrutar dessa riqueza.

Não há alternativa fora do enfrentamento na luta de classes. E quanto mais cedo conseguirmos entender e agir a partir desse princípio central, mais rapidamente conseguiremos construir as condições que nos libertarão dessa maldita escravidão que é a sociedade capitalista.

Cem Flores

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- 09/07/2021