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Conjuntura, Internacional, Lutas, Movimento operário

Cinco lições deixadas pela greve do metal de Cádiz

Marcha em apoio à greve de Cádiz. “Contra a repressão, o povo responde”. “Uma só classe, uma só luta”.

Cem Flores

16.02.2022

Em 14 de janeiro, o Cem Flores republicou um artigo sobre a importante luta dos operários metalúrgicos de Cádiz, Espanha, publicado inicialmente pelos camaradas do Bandeira Vermelha. Essa greve metalúrgica, que ocorreu no final do ano passado, é uma das lutas operárias de maior destaque recente. Juntamente com os/as operários/as do sul da África, da Grécia, dos EUA, a greve demonstra que a ofensiva dos patrões sobre os nossos salários, nossas condições de trabalho e de vida, não ocorre sem resistência.

Traduzimos e publicamos agora outro artigo, de autoria de Hugo Carrasco, com um resumo das principais lições que podem ser tiradas dessa luta. O autor apresenta cinco lições deixadas pela greve dos operários metalúrgicos de Cádiz:

1ª) Os trabalhadores são os únicos indispensáveis na produção. Sem a nossa força de trabalho, não há lucro para os capitalistas”.

2ª) O Estado não é um árbitro neutro na luta de classes. Sua função é a de “garantir a todo custo que a máquina capitalista continue funcionando, ou seja, que a classe operária produza para que a burguesia se aproprie do fruto de seu trabalho”.

3ª) A classe operária, precisamente por causa de seu papel central na produção capitalista, tem o potencial de se tornar um núcleo mobilizador que arrasta importantes setores populares para trás dela.

4ª) A solidariedade que a luta da classe operária pode gerar entre os trabalhadores em geral.

5ª) “Diante de um horizonte de ataques, cortes e privações, só podemos organizar e lutar sob a confiança de que serão nossas próprias forças que nos permitirão vencer.

Como o próprio autor indica:

“Se Cádiz demonstrou mais uma vez o enorme potencial do movimento operário, a história nos ensina que um último elemento é necessário para que toda essa torrente leve ao fluxo correto e é a necessidade de uma organização política revolucionária, independente tanto política-ideológica quanto organizacionalmente, que possa direcionar toda a força da classe trabalhadora para sua completa libertação e, junto com ela, a de todo o povo trabalhador: o Partido Comunista”.

 

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Cinco lições deixadas pela greve do metal de Cádiz

Hugo Carrasco

Em 16 de novembro, as redes sociais pegaram fogo com imagens de barricadas, fumaça e ataques policiais nos estaleiros de Cádiz; a classe operária metalúrgica de Cádiz estava em greve por tempo indeterminado contra salários miseráveis.

A adesão maciça à greve, especialmente nas terceirizadas de grandes empresas do setor, como Navantia, Dragados ou Acerinox, colocou em cheque a produção desses grandes monopólios, que viram a continuidade de seus contratos comerciais ameaçada. Esta é a primeira lição deixada pelos metalúrgicos de Cádiz e é que, não importa o quanto os porta-vozes dos patrões insistam em demonstrar o contrário, os trabalhadores são os únicos indispensáveis na produção. Sem a nossa força de trabalho, não há lucro para os capitalistas.

É nesse ponto que o estado entra no jogo. Diante da impossibilidade de os patrões realizarem a produção, são as forças e os órgãos de segurança do estado que são responsáveis por quebrar a greve, disciplinar com violência e medo os trabalhadores e forçá-los a retornar aos seus postos de trabalho. Não há espaço para meias medidas aqui e a polícia nacional, comandada pelo ministério do interior e pela subdelegação do governo, se esmerou em sua tarefa: cassetetes, balas de borracha, gás lacrimogêneo, ataques policiais pelos bairros operários e até mesmo um tanque invadindo o bairro do Rio San Pedro, em Puerto Real. Tudo para garantir os lucros de um punhado de capitalistas.

Essa é a segunda lição que nos foi legada pelos proletários metalúrgicos de Cádiz: que o Estado não é um árbitro neutro na luta de classes, como alguns falsos amigos pretendem nos fazer acreditar. Independentemente da cor das poltronas do conselho de ministros, o papel do estado na luta de classes é garantir a todo custo que a máquina capitalista continue funcionando, ou seja, que a classe operária produza para que a burguesia se aproprie do fruto de seu trabalho.

Apesar da intensa repressão desencadeada pelos órgãos socialdemocratas, atravessada pelos vergonhosos apelos à desmobilização pelos chefes do oportunismo em nosso país, o povo de Cádiz saiu às ruas em massa em apoio à greve. Manifestações multitudinárias vagaram pelas ruas das principais cidades da província, demonstrando que, juntamente com a vontade dos grevistas de não ceder em suas reivindicações, havia um povo digno disposto a lutar e enfrentar a repressão. Como em outros conflitos operários relevantes em nosso país, foi demonstrado que a classe operária, precisamente por causa de seu papel central na produção capitalista, tem o potencial de se tornar um núcleo mobilizador que arrasta importantes setores populares para trás dela. Esta é a terceira lição que devemos tirar das jornadas de Cádiz.

A quarta lição que podemos destacar tem a ver precisamente com a solidariedade. À medida que os dias de conflito se seguiram, centenas de milhares de trabalhadores em toda a Espanha começaram a levantar a voz em apoio aos grevistas e contra a repressão do governo. As ações de solidariedade começam a ser organizadas em diferentes partes da Espanha, outros conflitos operários nesse mesmo período são delineados, os partidos e líderes políticos responsáveis pela repressão são criticados, o respeito pelo direito à greve é exigido… O que começou como um conflito provincial sobre a melhoria dos salários começa a se espalhar como uma mancha de óleo por todo o país.

Todo esse processo, em seu conjunto, é uma lição que revela como as lutas de resistência da classe operária têm o potencial de se desenvolver até o grau de conflitos políticos e, ao longo do caminho, elevar a consciência de toda a classe que começa a se perceber como um sujeito coletivo no reconhecimento das lutas empreendidas por seus pares. Se Cádiz demonstrou mais uma vez o enorme potencial do movimento operário, a história nos ensina que um último elemento é necessário para que toda essa torrente leve ao fluxo correto e é a necessidade de uma organização política revolucionária, independente tanto política-ideológica quanto organizacionalmente, que possa direcionar toda a força da classe trabalhadora para sua completa libertação e, junto com ela, a de todo o povo trabalhador: o Partido Comunista.

Em Cádiz, verificou-se que a prática é o critério da verdade. O governo do PSOE e Unidas Podemos não vacilaram quando se trata de reprimir os trabalhadores, ao mesmo tempo em que os convidam a desistir em nome da confiança no mesmo governo que enviou tanques para seus bairros. É a polícia sob seu comando que, uma vez alcançado o acordo que encerrou a greve, foi de casa em casa para prender os grevistas, tentando se vingar da dignidade demonstrada na luta. O pau e a cenoura, esse é o papel que a socialdemocracia historicamente desempenhou.

Essa é a última lição deixada pela greve do metal em Cádiz: um aviso do que nos espera em um futuro cada vez mais presente. Diante de um horizonte de ataques, cortes e privações, só podemos organizar e lutar sob a confiança de que serão nossas próprias forças que nos permitirão vencer.


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- 16/02/2022