CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

Conjuntura, Imperialismo, Internacional

Panorama da conjuntura internacional, por Ana Barradas

Cem Flores

04.02.2023

No final de 2022, o blog Bandeira Vermelha divulgou um panorama da conjuntura internacional escrito por Ana Barradas. “Não acreditem se vos falarem de paz” destaca os inúmeros acirramentos políticos e militares que perpassam o imperialismo hoje. As contradições interimperialistas, cada vez mais belicosas, só ver o gasto militar crescente entre os países, ano após ano, se soma à piora das condições de vida das massas exploradas no mundo todo. A fome tem voltado com força, diante da chamada crise do custo de vida, pouco tempo depois da brutal crise da pandemia em escala planetária. Em meio à guerra e à fome crescentes, os grandes capitalistas esbanjam sua concentração de trilhões de dólares!

Frente esse cenário de barbárie, próprio do capitalismo em sua fase imperialista, que tende a se agravar com os eventos climáticos de um meio ambiente em colapso, Barradas denuncia as falaciosas saídas por dentro desse sistema de morte e de fome para a maioria. Segundo a camarada: “o único verdadeiro plano de ação será o programa marxista, que compreende e explica o que é o imperialismo e como combatê-lo. É Lenine (mais uma vez) quem aponta o objetivo: ‘Unir estes elementos marxistas – por pouco numerosos que eles sejam a princípio -, recordar em seu nome as palavras agora esquecidas do autêntico socialismo, chamar os operários de todos os países a romper com os chauvinistas e a colocarem-se sob a velha bandeira do marxismo – tal é a tarefa do momento.’”

Ou seja, a tarefa do dia, e a mais urgente, é superar a crise do movimento comunista, recolocar a perspectiva da revolução no horizonte de nossa ação política. O que chamamos de futuro, cada vez mais, depende disso.

Segue o texto completo de Ana Barradas.

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Não acreditem se vos falarem de paz

Ana Barradas

Bandeira Vermelha, 30.12.2022.

Nesta semana final do ano de 2022, as notícias anunciando os tambores da guerra põem-nos arrepiados de consternação:

Drones norte-coreanos violaram o espaço aéreo sul-coreano, voando sobre a fronteira ocidental intercoreana. Os sul-coreanos destacaram caças e helicópteros de ataque após identificação do primeiro drone norte-coreano. Um caça KA-1 sul-coreano caiu na área fronteiriça com Coreia do Norte. Os militares sul-coreanos acreditam que a Coreia do Norte é responsável pela queda do avião.

O chefe do Estado-Maior do Exército sérvio anunciou o destacamento de tropas para a fronteira com o Kosovo, onde as tensões permanecem elevadas devido aos bloqueios de estradas pela minoria sérvia kosovar. A situação é complexa e o exército sérvio está disposto ao longo da linha de fronteira.

A China admitiu ter realizado “exercícios de ataque” no mar e no espaço aéreo em torno de Taiwan. 47 aviões chineses cruzaram o Estreito de Taiwan, fronteira não oficial que já foi tacitamente aceite por ambos os lados.

A Índia aprovou a compra de 120 novos mísseis de superfície Parlay para implantá-los ao longo das fronteiras do país com o Paquistão e a China. Estes mísseis podem atingir alvos a uma distância de até 500 quilómetros e são difíceis de interceptar devido à sua capacidade de mudar de trajetória.

Mais inquietante entre todas as notícias da desgraça: os Estados Unidos aprovaram a entrega de 45 mil milhões de dólares de pacote de ajuda a Kiev, depois da visita de Zelensky a Washington.

A fome e a pobreza extremas, avivadas ainda por cima pelas crescentes rupturas climáticas, ameaçam sobremaneira as regiões mais vulneráveis do globo, em especial África e o Sul da Ásia.

E estamos nisto. Sem falar na guerra da Ucrânia, que dura há quase um ano, com ambas as partes a dizerem que querem a paz e a prosseguirem uma guerra que se prolonga sem saída.

Por isso, se vos falarem de paz não acreditem. E tomem nota: vem aí uma guerra a sério, porque esta é a única maneira de as grandes potências tentarem livrar-se do atoleiro em que estão metidas… conosco lá dentro, claro.

A invasão da Ucrânia pela Rússia é a aposta que Putin escolheu para neutralizar a Ucrânia e forçar a NATO a um acordo. Mas a economia russa ressente-se e os desenvolvimentos militares são incertos, pondo em risco o plano de obter a exploração de novos recursos significativos.

No lado contrário, o governo da Ucrânia tem vindo a privatizar e a entregar vastos recursos agrícolas a multinacionais estrangeiras, ao mesmo tempo que elimina direitos dos trabalhadores. Se ganhar a guerra, porá importantes lucros à disposição do imperialismo ocidental.

A subida da inflação e o forte aumento do custo de vida para grande parte da população mundial põem à vista a dificuldade da recuperação econômica depois da pandemia, a crise energética causada pela guerra Rússia-Ucrânia e o aumento da abastança das empresas e grandes fortunas, que encontram na especulação e no controle de produção e mercadorias uma forma de se compensarem da baixa tendencial das margens de lucro.

A conjugação de todos estes fatores conjunturais e o acirramento constante das contradições interimperialistas, que nesta conjuntura não parecem ter solução pacífica, apresentam-se como a tempestade perfeita para um conflito de dimensões mundiais.

Muitos reconhecem tudo isto mas nada se faz para evitar. Há uma espécie de anestesia coletiva, uma indiferença e recusa em aceitar a gravidade da situação, sintomas de um terror mais fundo pela incerteza do futuro, paralisando todas as consciências.

Contudo, existem meios necessários para combater a catástrofe e a fome. Só não se tomam medidas drásticas porque elas lesariam os lucros fabulosos de um punhado de parasitas. E acima de tudo porque seria necessário derrubar o sistema capitalista para instaurar uma planificação justa da economia. Mas é isto precisamente o que quase ninguém faz.

Nem as anunciadas “frentes contra a guerra” – que denunciam, e bem, a rivalidade das superpotências no conflito e os interesses econômicos ocultos que as movem – conseguem deslocar a opinião pública para uma posição ativa de “guerra à guerra” (à maneira de Lenine), de tão débeis, fracionadas e mesmo sectárias em certos casos. Soam mais como descargo de consciência de minúsculas entidades políticas sem força nem capacidade para organizarem protestos maciços. Nem mesmo conseguem demonstrar que as alegações de governos e bancos de que o aumento de salários seria causa da inflação, quando o que realmente acontece é o contrário: é o aumento dos preços e lucros que provoca a inflação que tanto massacra os mais explorados. Assim como não se preocupam em denunciar os recentes e escabrosos escândalos do capital e seus ajudantes, como o da dirigente da União Europeia regiamente subornada pelos oligarcas do Médio Oriente ou o esbulho da portuguesa estatal TAP com a alta conivência dos que supostamente a deviam proteger, já que foram buscar fortunas ao erário público com o alegado intuito de sanear a sua situação financeira.

Vivemos num mundo tão distópico que até os que se consideram revolucionários puseram de lado qualquer plano para a revolução. Poucos se importam com a luta contra o oportunismo no seu seio e próximo dele e por isso está arredada desses meios a ideia de que, apesar da crise e por baixo dela, tudo está em processo de fermentação para a possibilidade de formação de grandes reagrupamentos insurgentes. Falta a convicção de que no seio dos proletários haverá elementos resolutos capazes de se pôr à cabeça da luta pela sua emancipação quando a ocasião e a necessidade se fizerem sentir.

Contra o atual imobilismo e a inação paralisante, o único verdadeiro plano de ação será o programa marxista, que compreende e explica o que é o imperialismo e como combatê-lo. É Lenine (mais uma vez) quem aponta o objetivo: “Unir estes elementos marxistas – por pouco numerosos que eles sejam a princípio -, recordar em seu nome as palavras agora esquecidas do autêntico socialismo, chamar os operários de todos os países a romper com os chauvinistas e a colocarem-se sob a velha bandeira do marxismo – tal é a tarefa do momento.”

O velho bolchevique tinha razão. Esta é a única forma de nos livrarmos dessa guerra que aí vem.

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- 04/02/2023