CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

Destaque, Internacional, Lênin, Movimento operário, Teoria

Um século da morte de Lênin. Viva o marxismo-leninismo!

Lênin foi a maior liderança da Grande Revolução Socialista Russa de 1917. Mesmo após um século de sua morte, as contribuições teóricas e políticas desse comunista exemplar continuam vivas e fundamentais para a luta proletária de hoje.

Cem Flores

21.01.2024

No dia 21 de janeiro de 1924, há exatos 100 anos, morreu Vladimir Ilitch Ulianov, conhecido como Lênin, na hoje extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A saúde de Lênin estava deteriorada desde 1921, quadro agravado em função dos tiros que levou num atentado em 30 de agosto de 1918, um dos quais no pulmão. Em 1922, sofreu um acidente vascular cerebral, que o obrigou a se afastar das tarefas políticas. Morreu aos 53 anos de idade, após ter servido por mais de três décadas e de forma integral à causa revolucionária do proletariado contra a escravidão assalariada e toda forma de opressão!

Naquele janeiro, faleceu um dos maiores nomes do comunismo, cujas contribuições marcaram definitivamente a ciência e a história do proletariado. Portanto, um dos maiores inimigos dos capitalistas, latifundiários, colonialistas, reacionários e reformistas de todo tipo. O corpo do líder da Grande Revolução Socialista Russa e da Internacional Comunista foi velado por multidões de trabalhadores e trabalhadoras da União Soviética, em Moscou. Foi também homenageado por organizações revolucionárias ao redor do mundo. No jornal peruano Claridad, o comunista José Carlos Mariátegui lamentou a morte de Lênin e enumerou seus feitos fundamentais:

“O proletariado revolucionário perdeu mais um de seus grandes condutores e líderes. Um que com maior eficácia, maior acerto e maior capacidade serviu a causa dos trabalhadores, dos explorados e dos oprimidos. […] Lênin conduziu o proletariado russo à conquista do poder, aboliu a exploração capitalista em um povo de cento e vinte milhões de homens, defendeu a revolução de seus inimigos internos e externos e organizou a Terceira Internacional [Comunista], que reúne hoje em suas seções numerosas, milhões de homens de todas as nacionalidades e de todas as raças em marcha à ‘luta final’.

“A morte de Lênin significa uma perda enorme para a Revolução”, concluiu Mariátegui, mas “milhares de colaboradores, milhões de discípulos prosseguirão, completarão e concluirão a sua obra”.

Prosseguir, completar e concluir a obra teórica e prática de Lênin, sem dúvida, continua sendo um gigantesco e fundamental desafio para o movimento comunista em crise. Façamos desse ano de 2024 um momento privilegiado para essa tarefa:

Resgatemos Lênin!

*          *          *

Resgatar Lênin hoje, resgatando suas formulações originais, põe-nos na contramão de todas as calúnias e deformações perpetradas pelas classes dominantes e pelos revisionistas ao longo do último século. Esse esforço, para ser consequentemente revolucionário, não pode ser uma busca por conhecimento acadêmico ou dogmático, sem relação prática com a realidade atual. Deve ser uma busca pelas lições que nos auxiliam a construir nossas próprias formulações e nossos próprios combates em defesa da causa proletária e socialista na atual conjuntura. Resgatar Lênin enquanto uma arma teórica imersa na luta de classes hoje, não esquecendo do núcleo vivo do marxismo-leninismo: a análise concreta da realidade concreta e a intervenção revolucionária em uma determinada conjuntura.

Em seu livro O Estado e a Revolução, Lênin afirma que os/as revolucionários/as não hesitam em “entrar na escola dos grandes movimentos da classe oprimida”. Sem dúvida, o leninismo é testemunho vivo dessa grande escola que foi a luta do proletariado e do campesinato russo e de demais povos no início do século 20. Escola sem a qual não seremos capazes de responder aos sérios problemas postos hoje no movimento revolucionário.

Durante todo este ano, buscando homenagear Lênin e suas incontornáveis contribuições ao marxismo e à causa proletária, o Cem Flores irá publicar e analisar um conjunto de textos leninistas. Nossos objetivos com esse resgate são: aprofundar nosso conhecimento de sua obra; analisar o contexto e as lições políticas da luta de Lênin contra as classes dominantes e as posições oportunistas no movimento das classes trabalhadoras; retomar elementos fundamentais para a reorganização revolucionária do proletariado hoje. Em suma, trazer os ensinamentos teóricos e práticos de Lênin para a luta de classes de hoje, contra a burguesia e seus defensores reformistas; pela organização própria, independente e classista do proletariado e das massas trabalhadoras; pela derrubada do regime do capital e pela construção do socialismo!

Assim como disse Mao sobre o marxismo, a imensa obra de Lênin é formada por inúmeras e complexas teorias, em diversas áreas do conhecimento; pesquisas e formulações geniais que exigem sérios estudos. No entanto, toda essa imensa obra, pode ser resumida em poucas palavras, em uma mensagem muito simples. Tal resumo consta no poema de Maiakovski, quando da morte de Lênin:

Abaixo / o poder / dos conciliadores e capitalistas!

Nós somos / a voz / da vontade dos de baixo,

Dos operários de baixo / do mundo todo!

*          *          *

Lênin nasceu em 22 de abril de 1870, na cidade russa de Simbirsk (atual Ulianovsk). Naquela época, a Rússia era uma país pouquíssimo industrializado, sendo a maioria absoluta da população camponesa. Apesar de ser um enorme e antigo império, sua economia era muito atrasada se comparada a potências da Europa Ocidental. Após muitas revoltas camponesas, o regime de servidão na Rússia tinha sido abolido no papel, em 1861, mas a exploração no campo continuava violentíssima, com muitos resquícios feudais. O latifúndio arrancava boa parte do fruto do trabalho do campesinato, que vivia sob intensa opressão e miséria.

Completando a brutal exploração das classes trabalhadoras de várias etnias, do campo e da cidade, havia o estado russo. Esse estado era o instrumento político de dominação da nobreza e dos latifundiários. Há séculos, a Rússia vivia em um regime extremamente autoritário, sem qualquer liberdade política. Protestos e oposições eram reprimidos de forma violenta. O poder era concentrado na figura do imperador, o czar. Não havia nem parlamento.

Camponeses russos no final do século 19.

A família de Lênin pertencia à camada média e vários de seus familiares foram opositores do czarismo. Com apenas 17 anos, Lênin perdeu um irmão executado pelo regime czarista. Nesse ambiente, desde muito cedo, entrou em contato com as obras revolucionárias de Marx e Engels e com a causa do proletariado, em crescimento na Europa (em 1871, ocorreu a Comuna de Paris). No mesmo ano da morte do irmão, Lênin foi preso pela primeira vez, por sua atuação no movimento estudantil. A partir de então, passou a ser vigiado e perseguido pelo estado russo, tendo uma vida de muitos exílios políticos.

O jovem Lênin aprofundou seus estudos de economia e de política em círculos revolucionários clandestinos, destacando-se pela sua inteligência e disciplina. Em sua juventude, o movimento revolucionário russo tinha forte influência do chamado populismo – corrente socialista utópica que subestimava a mobilização das massas e o papel do operariado em ascensão na Rússia. Lênin se chocou contra essa corrente, ao mesmo tempo em que se apropriava do marxismo. Essa última corrente dava apenas seus primeiros passos na Rússia, por meio do grupo Emancipação do Trabalho, dirigido por Plekhánov.

No início de seus 20 anos, Lênin iniciou sua análise sobre a sociedade russa, focando a situação do campesinato. A emergência do capitalismo e a diferenciação de classes no campo, em oposição às teses do populismo, eram questões fundamentais para Lênin. Para tal análise, ele combinava as contribuições teóricas do marxismo com rigorosas pesquisas e dados empíricos, provindos inclusive da convivência direta com o campesinato.

Em uma de suas primeiras obras, Lênin afirma:

“A intelectualidade socialista só poderá pensar num trabalho fecundo quando acabar com as ilusões e passar à busca de uma base no desenvolvimento efetivo da Rússia e não em seu desenvolvimento desejável, nas relações econômico-sociais efetivas e não nas prováveis. Seu trabalho teórico deverá orientar-se para o estudo concreto de todas as formas do antagonismo econômico existentes na Rússia, para o estudo de sua conexão e de seu desenvolvimento consequente; deverá descobrir tal antagonismo sempre que estiver encoberto pela história política, pelas particularidades do regime jurídico, pelos preconceitos teóricos estabelecidos. Deverá fornecer um quadro completo de nossa realidade como um sistema determinado de relações de produção, apontar a necessidade da exploração e da expropriação dos trabalhadores sob este sistema, apontar a saída desta ordem de coisas indicada pelo desenvolvimento econômico.”

Essa aplicação concreta do marxismo, construindo uma teoria de uma situação concreta e em prol da luta das classes exploradoras, será uma característica central da atuação de Lênin ao longo de toda sua vida. Muito precocemente, o revolucionário russo compreendeu o marxismo como uma arma de combate na luta de classes e a necessidade da teoria se unir e se alimentar com a prática revolucionária das massas.

Na última década do século 19, houve um ascenso do movimento operário na Rússia. Buscando unir a teoria à prática, e fortalecer ambas para desenvolver uma alternativa revolucionária na Rússia, Lênin se transferiu para um grande centro operário russo, São Petersburgo (depois chamada Petrogrado e, após a morte de Lênin, de Leningrado). Lá, entrou em contato com vários núcleos operários de várias fábricas, destacando-se como organizador e liderança política. Juntamente com outros militantes, esforçou-se em construir um embrião de um partido proletário revolucionário. Em 1895, ajudou a fundar a União de Luta pela Emancipação da Classe Operária.

A posição de Lênin sobre a estratégia e o programa revolucionários para a Rússia, desenvolvida e ampliada nos anos seguintes, defendia uma aliança operário-camponesa, uma ampla luta de massas, com bandeiras democráticas e socialistas, organizada por um partido revolucionário. Para ele, não se tratava de aguardar uma revolução dirigida pela burguesia emergente contra o czarismo e a servidão restante no campo. Ou então construir uma mera revolta camponesa contra o latifúndio. Mas sim combinar, de forma organizada e sob a hegemonia do proletariado, as lutas contra o czarismo e a servidão e as lutas contra o capital, tendo como perspectiva estratégica a construção do socialismo, o fim de toda forma de exploração no país.

Fábrica Putilov, em São Petersburgo, no início do século 20.

Por conta de suas atividades revolucionárias em São Petersburgo, Lênin foi preso novamente e deportado para o norte da Rússia, na isolada Sibéria. No exílio, intensificou o trabalho teórico e a correspondência política. Também se uniu à sua companheira de toda vida, outra revolucionária da União de Luta pela Emancipação da Classe Operária presa e deportada, Nadejda Krupskaia.

Apesar da intensa repressão do czarismo aos núcleos revolucionários russos, os esforços de construção de um partido proletário continuaram. Nos últimos anos da década de 1890, com Lênin e Krupskaia ainda presos, houve o primeiro congresso do Partido Operário Social-Democrata Russo (na época, os partidos marxistas se denominavam “socialdemocratas”). Lênin via com muito entusiasmo tal iniciativa, pois significava um salto organizativo, a unificação de vários grupos revolucionários dispersos pela Rússia. Nesse contexto, ele esboçou diretrizes da tática, da estratégia e do programa da socialdemocracia russa para aquela conjuntura. Assim como finalizou, em 1899, seu monumental livro sobre o desenvolvimento capitalista na Rússia.

Para Lênin, o novo partido deveria intensificar a união da atividade teórica com a atividade prática, dos círculos revolucionários com as massas exploradas, por meio de uma organização política de vanguarda de novo tipo, proletária. A vitória da revolução russa dependia da forja dessa direção disciplinada e centralizada, munida teoricamente e com vínculos profundos com as massas em um esforço contínuo e sistemático de articular e elevar politicamente as lutas concretas. Em 1897, afirmava:

“o objeto das atividades práticas dos Socialdemocratas é, como é bem conhecido, liderar a luta de classe do proletariado e organizar essa luta nas suas duas manifestações: a socialista (a luta contra a classe capitalista no rumo de destruir o sistema de classes e organizar a sociedade socialista) e a democrática (a luta contra o absolutismo rumo às liberdades políticas na Rússia e à democratização do sistema político e social da Rússia). […] Os Socialdemocratas Russos têm muito a fazer para atingir os requisitos do proletariado que desperta, para organizar o movimento da classe trabalhadora, para fortalecer os grupos revolucionários e seus laços mútuos, para suprir os trabalhadores com literatura de agitação e propaganda e para unir os círculos de trabalhadores e os grupos Socialdemocratas por toda a Rússia em um único Partido Operário Social-democrata!”

Após concluir sua pena, Lênin saiu do país para viver com outros revolucionários russos no exílio, em países como Suíça, Alemanha e Inglaterra. Depois, em outros exílios, também chegaria a viver na França, na Polônia e na Finlândia. Defendeu e ajudou a construir um jornal revolucionário para toda a Rússia, instrumento útil à construção de uma posição unificada para a luta e à organização de militantes em torno dessa posição. Nesse período, em 1902, lançou sua famosa polêmica Que Fazer?, na qual defende o caráter revolucionário do marxismo, as tarefas da socialdemocracia russa e a constituição de um partido de vanguarda.

Iskra (“Faísca”), jornal revolucionário editado por Lênin entre 1901 e 1903.

A linha política de Lênin foi predominante no segundo congresso do Partido, em 1903. A maioria a ele vinculada (chamada de bolchevique) iniciava ali uma longa e intensa luta contra a minoria do partido (menchevique), cujas posições oportunistas defendiam alianças com a burguesia e seus partidos, desprezavam o papel de vanguarda do proletariado, a relevância da luta camponesa e o caminho revolucionário a se seguir na Rússia. Na obra Um passo em frente, dois passos atrás, Lênin aborda essa luta interna do Partido e defende:

“O proletariado, na sua luta pelo poder, não tem outra arma senão a organização. Dividido pela concorrência anárquica que reina no mundo burguês, esmagado pelos trabalhos forçados ao serviço do capital, constantemente atirado ao abismo da miséria mais completa, do embrutecimento e da degenerescência, o proletariado só pode tornar-se, e tornar-se-á inevitavelmente, uma força invencível quando a sua unidade ideológica, baseada nos princípios do marxismo, é cimentada pela unidade material da organização que reúne milhões de trabalhadores num exército da classe operária. A esse exército não poderão resistir nem o poder decrépito da autocracia russa, nem o poder decrépito do capital internacional.”

Na Rússia, estourou a guerra imperialista contra o Japão. Uma situação revolucionária se desenvolveu e acabou por explodir em 1905, após o Domingo Sangrento – um massacre realizado pelo czarismo contra um protesto pacífico de trabalhadores/as. Os bolcheviques atuaram de forma incisiva junto à massa em greves, protestos e na construção de novos órgãos de poder (sovietes). Lênin voltou à Rússia, onde trabalhou incansavelmente nos levantes – até quando precisou, novamente, exilar-se, sem abandonar suas atividades teóricas e políticas, em função da derrota daquela revolução.

O Domingo Sangrento, 1905.

Em 1905, Lênin escreveu:

“é indubitável que a revolução nos ensinará, que ensinará as massas populares. Mas a questão, para o partido político em luta, consiste agora em ver se saberemos nós ensinar alguma coisa à revolução, se saberemos aproveitar-nos da justeza da nossa doutrina socialdemocrata, da nossa ligação com o proletariado, a única classe consequentemente revolucionária, para imprimir à revolução a marca proletária, para levar a revolução até à verdadeira vitória, decisiva, efetiva e não verbal, para paralisar a instabilidade, a ambiguidade e a traição da burguesia democrática”.

Porém, a “verdadeira vitória” não é alcançada daquela vez. Apesar de importantes conquistas arrancadas pelas massas, o período revolucionário russo sofre um revés com a violenta investida reacionária e repressiva do czarismo em 1907. O movimento de massas reflui e uma grande repressão recai sobre o trabalho revolucionário. Isso não paralisou Lênin, que continuou suas atividades no exílio europeu. Ele se consolidou como uma das lideranças revolucionárias da Segunda Internacional, que unificava os partidos da socialdemocracia. Juntamente com Rosa Luxemburgo e outros, esteve à frente na luta contra o oportunismo crescente nessa Internacional. Concentrou seu trabalho também na reconstrução política das forças revolucionárias russas e no avanço do trabalho teórico.

Uma das grandes tarefas desse período de baixa do movimento foi o estudo das lições do período revolucionário de 1905-07. Para Lênin, esse período mostrou a capacidade política do proletariado de conduzir a revolução na Rússia, e, ao mesmo tempo, a incapacidade da burguesia. Mostrou também que o povo só consegue reformas e melhorias parciais pela via da política e das ações revolucionárias, demonstrando sua força independente na luta. Uma vitória definitiva das massas exigiria, portanto, o reforço da organização revolucionária do proletariado, em combate contínuo com as posições oportunistas em seu meio.

As lutas na Rússia, cujo capitalismo avançava ano após ano, voltaram a se intensificar em 1910. Internamente ao Partido, a luta contra os mencheviques continuava sob diversas formas. Em 1912, na Conferência de Praga, fortaleceu-se a ala bolchevique, liderada por Lênin, contra os mencheviques, que sofreram uma derrota definitiva.

Greve operária em São Petersburgo, 1912. A paralisação ocorreu em solidariedade aos trabalhadores mortos pelo estado no massacre do Lena, na Sibéria.

Em 1914, estourou a Primeira Guerra Mundial, com participação da Rússia. A maioria dos partidos e dirigentes da Segunda Internacional se degenerou por completo, abandonando de vez a posição proletária, em defesa da burguesia de seus respectivos países na guerra. Na Rússia, vários membros da socialdemocracia também se venderam ao chauvinismo. Lênin, novamente, saiu em defesa do marxismo e da política revolucionária proletária, lançando a palavra de ordem de transformar a guerra imperialista, injusta, em uma guerra revolucionária, em oportunidade para se derrotar o capitalismo em sua fase imperialista em toda a Europa. Apenas a revolução socialista é a saída para a barbárie dessa nova fase do capitalismo, o imperialismo!

Em 1914, Lênin afirma: “a transformação da atual guerra imperialista em guerra civil é a única palavra de ordem proletária justa”. Já em 1916, complementa: “A nossa palavra de ordem deve ser: armar o proletariado para vencer, expropriar e desarmar a burguesia. Esta é a única tática possível para a classe revolucionária, tática que decorre de todo o desenvolvimento objetivo do militarismo capitalista e é determinada por este desenvolvimento. Só depois de o proletariado desarmar a burguesia é que poderá, sem trair a sua tarefa histórico-universal, atirar para o ferro-velho todo o armamento em geral”.

Durante o período da guerra imperialista e da falência da Segunda Internacional, Lênin produziu obras fundamentais do marxismo, como os livros Imperialismo, fase superior do capitalismo e O Estado e a Revolução. Lênin sedimentava, assim, as bases do que viria a ser a atualização da teoria revolucionária do proletariado para o período da Terceira Internacional, a Internacional Comunista, fundada em 1919.

Com as consequências da guerra, uma nova situação revolucionária se desenvolveu na Rússia. O czarismo perdeu ainda mais força e a vida das massas se tornou insuportável. Os bolcheviques continuavam ativos em sua propaganda e agitação revolucionárias, firmando-se como uma liderança do operariado. Em fevereiro de 1917, ocorreu mais uma revolução. O czar caiu e um regime republicado e democrático burguês foi instituído. Nesse processo, havia tanto a atuação dos capitalistas e liberais, apoiado por potências imperialistas ocidentais, quanto a atuação dos operários, camponeses e soldados, experimentados pela revolução de 1905-07 e retomando seus sovietes.

Lênin voltou à Rússia nesse momento fundamental da luta de classes para impulsionar a tomada do poder pelos operários e camponeses, intensificando a revolução democrática em curso e caminhando para o socialismo. Em vez de apoiar o novo governo burguês democrático, Lênin defendia “um profundo movimento proletário e popular de massas (de toda a população pobre da cidade e do campo), com carácter revolucionário, pelo pão, pela paz, pela verdadeira liberdade”. E denunciava quem se alinhava com a burguesia com receio de mais uma reação do czarismo: “quem diz que os operários devem apoiar o novo governo no interesse da luta contra a reação do czarismo […] é um traidor aos operários, um traidor à causa do proletariado, à causa da paz e da liberdade”.

Defendendo tal linha política de firme independência de classe, Lênin conseguiu coesionar o Partido e dirigir levantes populares que culminaram na insurreição armada de outubro de 1917. Com isso, o jovem governo burguês foi derrubado e um governo operário e camponês se instaurou. Surgia assim, uma república soviética, uma ditadura do proletariado contra as classes dominantes. Os ricos e expropriadores foram expropriados; os explorados conquistaram terra, pão, paz, liberdade, trabalho e educação. A Revolução de Outubro seguia assim os passos da Comuna de Paris e mostrava ao mundo ser possível derrotar os poderosos, os patrões e os donos de terra. A derrocada do capitalismo e de séculos de exploração das classes trabalhadoras não era uma utopia, mas uma realidade construída pela ação organizada e revolucionária das massas!

Guardas vermelhos da fábrica Vulkan em Petrogrado (antiga São Petersburgo), 1917. Trabalhadores em armas em defesa de seus interesses, contra séculos de exploração!

De 1917 até a sua morte, em 1924, Lênin continuou tendo um papel decisivo e central na consolidação e expansão do poder soviético, na Rússia e em países vizinhos, na construção de uma nova Internacional e nas tentativas de transição para o socialismo. Todas essas novas tarefas, em novas fases da luta de classes, executadas em contextos extremamente difíceis e adversos: invasão estrangeira e devastadora guerra civil contra o poder soviético; derrotas nas revoluções dos países centrais, como no caso alemão; reação das antigas classes dominantes em uma economia destruída e desorganizada. Até o fim, Lênin se dedicou ao máximo para manter viva e vitoriosa a posição proletária no Partido, nas instâncias do poder soviético e na Internacional, contra os já presentes riscos de restauração capitalista.

Avaliando quatro anos de poder soviético, em 1921, Lênin afirma:

“Esta primeira vitória não é ainda a vitória definitiva […] Nós começamos esta obra. Quando precisamente, em que prazo os proletários de qual nação culminarão esta obra — é uma questão não essencial. O essencial é que se quebrou o gelo, que se abriu caminho, que se indicou a via.

Sem dúvida, o exemplo heroico e ousado da Grande Revolução Socialista Russa, liderada por Lênin, mostrou o caminho para vários outros povos de todo o mundo. Em 1922, o Partido Comunista foi criado no Brasil, sob direta influência soviética; em 1949, a Revolução Chinesa foi vitoriosa, guiada por um Partido marxista-leninista… Esses e tantos outros exemplos gloriosos inspirados no leninismo marcaram o século 20 e a história da luta de classes das classes exploradas.

Em 1960, o revolucionário vietnamita Ho Chi Minh chegou a dizer:

“existe uma lenda, tanto em nosso país como na China, sobre o milagroso ‘livro da sabedoria’. Ao se deparar com grandes dificuldades, pode-se abrir o livro e encontrar a solução. O leninismo não é apenas um milagroso ‘livro da sabedoria’, um compasso para nós revolucionários e cidadãos vietnamitas: é também o fulgurante sol iluminando nosso caminho para a vitória final, ao socialismo e ao comunismo”.

Que possamos, um século da morte de Lênin, reabrir o livro científico do leninismo para fazer avançar hoje a luta do proletariado. Pois, apesar da reação e do oportunismo reinantes, a causa da emancipação dos/as trabalhadores/as ainda está na ordem do dia.

VIVA O MARXISMO-LENINISMO!

Cem Flores

21 de Janeiro de 2024

Compartilhe
- 21/01/2024