Uma “esquerda” subordinada ao capital e a seu governo burguês
Boletim Que Fazer – março de 2024
Reforça-se a tendência de cooptação da dita “esquerda”, que aceita de bom grado seu papel de correia de transmissão do governo burguês de Lula-Alckmin.
Cem Flores
22.03.2024
Mais um governo burguês do PT, agora ainda mais à direita
O governo Lula-Alckmin é um governo burguês, assim como foram os governos anteriores do PT, mas agora com características ainda mais à direita, com um “programa” ainda mais rebaixado e com uma composição mais conservadora, a começar pela vice-presidência do ex-PSDB Geraldo Alckmin.
Sua principal função tem sido a consolidação da ofensiva burguesa em curso no país, que visa a manutenção dos altos lucros do patronato dos últimos anos. Lula-Alckmin deixam intocadas as contrarreformas trabalhista e da previdência, apenas ajustam para que funcionem melhor o teto de gastos e a reforma do ensino médio, além de avançar em novas demandas dos patrões, como a reforma tributária, o PL da “regulamentação” dos motoristas de aplicativo e novas privatizações.
Nem mesmo um combate efetivo ao fascismo que cresceu dentro do aparelho de estado, o novo governo realiza. O ministro da defesa foi indicado pelos próprios militares, as forças armadas, enquanto instituição, continuam intocadas e com mais investimentos, mesmo após participação no movimento golpista do bolsonarismo, e a violência policial continua muito elevada.
Para respaldar essa política burguesa de continuidade de sua ofensiva de classe, para paralisar a resistência das classes dominadas, o governo petista age também por meio de uma política de cooptação de amplos setores da “esquerda”.
O avanço da política de cooptação
Como nos governos petistas passados, tenta-se iludir as massas trabalhadoras com muitos discursos e algumas poucas migalhas. Falam de um fajuto e ilusório desenvolvimento capitalista “inclusivo” e um estado burguês “democrático”, comprando movimentos e lideranças para auxiliarem nessa enrolação. E quando as massas se levantam para lutar, tais governos reprimem da mesma forma!
O petismo cumpre assim uma função extremamente nefasta, iludindo e desorganizando o proletariado e as demais classes exploradas. A política do PT e seus aliados subordina os interesses de tais classes aos interesses da burguesia, coloca a luta sob o controle das instituições burguesas. O verdadeiro objetivo dessa canalha é a manutenção do capitalismo, a legitimação desse estado, com a miséria minimamente sob controle e os pelegos enchendo os bolsos.
Grupos de discussão e espaços consultivos, envolvendo “representantes” de trabalhadores/as e patrões, foram usados amplamente nos governos petistas anteriores. E agora voltaram a funcionar a todo vapor. Esses mesmos pelegos e movimentos populares vendidos estão ganhando cargos e tendo novas perspectivas de financiamento.
Correia de transmissão
Tal “esquerda” que volta a ter cargos e financiamento e a frequentar reuniões nos palácios de Brasília, não à toa, tem servido novamente de uma verdadeira correia de transmissão do governo e dos patrões. Seu papel é ser um representante do governo e da sua agenda dentro das bases de trabalhadores/as. Em vez de representar os interesses dessas bases, fortalecendo sua autonomia e luta, age para domesticá-las e amarrá-las ao governo burguês de plantão.
Recentemente dois casos gritantes comprovaram essa realidade. A fala de Lula crítica à política de Israel logo se tornou em uma campanha em defesa do governo e de Lula, e não no fortalecimento da campanha em defesa da resistência palestina. Como se, para além dos discursos, o governo não mantivesse as relações diplomáticas e de cooperação com Israel, inclusive negociando armas com esse estado genocida.
Após mais uma manifestação bolsonarista na Avenida Paulista, sob total passividade das direções sindicais e de movimentos populares, tais pelegos marcaram para 23 de março um dia de protestos. Mais uma vez, em vez da luta ser claramente contra as forças fascistas que estão retomando às ruas, as direções do ato pretendem tornar o dia 23 em mais um dia de defesa do governo e de Lula. Uma espécie de desculpa para dar palco ao governo, como foi no último primeiro de maio e na Marcha das Margaridas de 2023.
Nem mesmo a nojenta diretriz de Lula para não se protestar contra os 60 anos do golpe militar, em 31 de março, mudou a linha dos organizadores do ato, que engolem a agenda governista servilmente, apenas resmungando aqui ou ali.
Romper com a servidão governista
Não existe solução burguesa, dentro do sistema, para a gigantesca crise que vivemos no mundo e no Brasil nos dias de hoje. Só a destruição do sistema capitalista permitirá o fim das guerras, da fome, da miséria e da exploração. O capitalismo deve ser destruído e não consertado ou gerenciado em favor dos/as trabalhadores/as, como se isso fosse possível. E para isso precisamos avançar, com unidade, força e organização, a luta com nossas posições.
Para avançar na luta e na independência do proletariado e das demais classes trabalhadoras, é preciso denunciar e romper de forma decisiva com essa dita “esquerda” e sua verdadeira servidão aos governos do PT. Estes são governos burgueses, cada vez mais recuados, que em nada servem aos/às trabalhadores/as. Não estão em “disputa”: a presença de lideranças e movimentos pelegos servem sim para legitimar sua política burguesa e paralisar a luta e a organização das massas. Por isso, precisam ser denunciados e combatidos, juntamente com suas ilusões e enrolações.
Combater de fato o fascismo que persiste no país só será possível com avanço da luta proletária, que é prejudicada pelo petismo. O atual governo inclusive protege as forças armadas e de segurança, cada vez mais politizadas e repressivas. Não são aliados sequer nessa luta!
Nossa luta deve ter independência frente aos patrões e aos seus governos. Isso significa que devemos focar na organização, mobilização e em estar junto das massas, em suas lutas concretas nos locais de trabalho e moradia. Significa que devemos resistir com nossas próprias forças e romper qualquer ilusão com esses lobos em pele de cordeiro!