A COP dos patrões e dos poderosos é uma farsa!
Boletim Que Fazer – Abril de 2025
A real alternativa frente ao colapso ambiental já em curso está na luta independente dos explorados contra o sistema capitalista que destrói a natureza.
Cem Flores
25.04.2025
Mais uma cínica conferência sobre o clima
Em novembro ocorrerá em Belém, capital do Pará, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30). Trata-se de um encontro global anual que reúne milhares de representantes dos organismos internacionais do capital, políticos burgueses do mundo inteiro, patrões, cientistas, movimentos sociais e ONGs para debater, definir financiamentos (que nunca se concretizam) e tomar deliberações (nunca implementadas) sobre o combate às mudanças climáticas.
A preparação dessa conferência está a cargo dos governos federal e locais e conta com investimentos bilionários em Belém. Pela propaganda e promessas governamentais, a COP 30 seria tanto uma oportunidade para melhorias de infraestrutura na cidade como também um evento de importância histórica, pois ocorrerá em plena Amazônia, floresta central para a regulação do clima no planeta.
Mas todo trabalhador e toda trabalhadora sabe que por trás dos belos discursos da burguesia se encontra uma realidade completamente diferente!
A COP é um espaço construído, controlado e financiado pelos capitalistas e seus governos, totalmente incapaz de reverter o colapso ambiental em curso no mundo. Apesar de propor algumas medidas para mitigar as mudanças climáticas, que nunca são implementadas, ao longo de três décadas, tal conferência em nada alterou o caráter destrutivo do capitalismo. Pelo contrário, o ritmo da destruição ambiental capitalista tem se acelerado, tanto na temperatura global recorde quanto nos eventos extremos (secas, enchentes, incêndios) cada vez mais frequentes.
Diante dos sucessivos descumprimentos de tratados e acordos internacionais sobre o clima, a ilusão em torno da COP é denunciada hoje por vários especialistas, como é o caso do professor Luiz Marques da Unicamp. A real solução não passará por esse espaço burguês falido!
A COP 30, em plena Amazônia, também ocorre em um contexto de contínua destruição ambiental do Brasil, promovida principalmente pelos capitais da indústria extrativista e do agronegócio. Esses capitais são fartamente apoiados, protegidos e financiados pelos governos e suas instituições – os mesmos que estão cinicamente organizando a COP de Belém!
Tal destruição ambiental é concomitante aos sistemáticos ataques e à repressão aos povos tradicionais e camponeses. Lideranças populares continuam sendo ameaçadas e mortas em todo o país, sendo a Amazônia um dos locais mais violentos.
Como se não bastasse, as obras e contratos da COP 30 possuem diversos indícios de corrupção. A exploração dos operários nas obras de Belém está brutal, inclusive com dezenas de casos de intoxicação alimentar por causa de comida podre. Moradores da periferia estão sendo removidos de suas casas ou prejudicados de diversas formas.
A velha tática da cooptação
Até para disfarçar todo o cinismo de mais uma COP e esconder sua construção às custas do suor e sangue das massas exploradas, os governos e capitalistas têm estimulado a participação de alguns movimentos e representantes populares na conferência em novembro. Um exemplo são algumas organizações dos povos indígenas, que integrarão o chamado “círculo dos povos” da conferência.
Isso nada mais é do que a velha tática de cooptação dos nossos inimigos de classe. Um verdadeiro teatro arcado com o dinheiro do estado e dos capitalistas para iludir o real caráter e impactos da COP.
Os movimentos e representantes populares não possuem poder de voto e nem qualquer influência de fato na COP, servem apenas para legitimar aquele espaço falido, para que pareça “democrático”. Por isso, aqueles que realmente se comprometem com os interesses das massas exploradas e lutam contra as verdadeiras causas do colapso ambiental não podem compactuar com essa farsa.
Mesmo grupos e mobilizações que buscam alguma autonomia frente à COP ainda caem na armadilha da cooptação ao tentar apresentar propostas à conferência ao invés de denunciá-la de forma aberta e direta. Ali não é o nosso espaço!
Nosso lugar é na luta, sem ilusões com as conferências do inimigo!
A COP dos patrões e dos poderosos é uma farsa montada por esses inimigos de classe e não pode ser um verdadeiro instrumento de combate ao colapso ambiental que atinge sobretudo as massas exploradas de todo o mundo. Não podemos ter ilusões com tal espaço nem compactuar com movimentos e grupos cooptados que legitimam essa farsa.
Nosso lugar é na luta, o único caminho capaz de transformar radicalmente esse sistema de devastação da natureza! Luta que precisa ter um corte de classe, separando bem quem são nossos inimigos e quem são nossos amigos: do outro lado, os governos e os políticos burgueses e os patrões; do nosso, trabalhadores e povos oprimidos. Não há conciliação possível entre explorador e explorado; entre opressor e oprimido; entre aquele que devasta o planeta e aquele que sofre na pele as consequências do colapso ambiental!
Nessa COP 30, nosso lugar é do lado dos movimentos indígenas independentes que dobraram o governo do Pará em seu intento de retirar conquistas educacionais; do lado dos operários de Belém que têm paralisado as obras por salários e condições de trabalho; do lado dos corajosos moradores da Vila da Barca que se recusam a receber o esgoto dos ricaços e dos demais bairros da periferia de Belém que resistem aos impactos da conferência!