As lições da luta popular da Favela do Moinho (SP)
Boletim Que Fazer – Maio de 2025
Somente a luta independente das massas pode fazer frente aos pactos entre os governos burgueses petistas e bolsonaristas.
Cem Flores
30.05.2025
Mais uma remoção urbana contra a massa trabalhadora
A Favela do Moinho é um bairro de trabalhadores no centro da cidade de São Paulo. São 850 famílias que vivem há décadas em uma localização cobiçada por governos e capitalistas do mercado imobiliário. Sob constante disputa de interesses das classes dominantes, repressão e condições precárias, os moradores do Moinho são um símbolo de resistência. Em 2013, por exemplo, sua organização derrubou a marretadas um muro que cercava e prejudicava a Favela. Com isso, “a comunidade viu que a força está no povo, não está no poder”, segundo uma líder comunitária.
No final de abril, o governo estadual lançou uma violenta ofensiva contra essa última favela que ainda resiste no centro da cidade. Como acontece com frequência no país, o estado voltou toda sua máquina repressiva para expulsar trabalhadores de suas casas. Utilizando-se de incursões policiais e demolições, em pleno processo de negociação com os moradores, o governo estadual pretende destruir a Favela do Moinho para concretizar a transferência da sede do governo, por meio de uma parceria bilionária com empresários. Eis a tal democracia da burguesia: para abrigar os ditos “representantes do povo” (sic!) no centro da cidade, expulsar para bem longe o povo, como se fosse lixo!
A postura cínica do governo Lula e seus serviçais
Frente a essa ação arbitrária e violenta do bolsonarista governo estadual de São Paulo e sua polícia, o campo político petista, com objetivos meramente eleitoreiros, fingiu oposição. Políticos lulistas, como Boulos, criticaram publicamente o governador Tarcísio de Freitas. Representantes do governo Lula, ligados a movimentos de moradia vendidos, chegaram a ir para a Favela do Moinho. Iludidos, alguns moradores e grupos reivindicaram intervenção do governo federal como solução para barrar a ofensiva de Tarcísio sobre o território, legalmente pertencente à união.
Mas essa oposição, no fundo, escondia mais um pacto entre bolsonaristas e petistas para atacar os trabalhadores. Como dois auxiliares do presidente contaram, a expulsão dos moradores da Favela do Moinho foi algo amplamente debatido e pactuado, com a participação de Lula. Aliás, é a própria união que está arcando com a maior parte dos valores propostos aos moradores expulsos de suas casas. As “divergências”, secundárias, que surgiram no processo de expulsão foram mais de método, e não de meta: atacar os trabalhadores para que o governo bolsonarista e seus aliados empresários lucrem com mais um negócio!
A resistência dos moradores
Diante da forte ofensiva dos governos burgueses, parte das famílias aceitou o subsídio para a compra de um imóvel, o aluguel social de R$ 1.200 e está saindo da favela. Mas outra parte não quer sair diante dos vários prejuízos e incertezas de se mudar para outra região. Além disso, desconfiam do acordo, já descumprido mais de uma vez.
De toda forma, essas propostas, mesmo limitadas e duvidosas, não caíram do céu, nem foram uma dádiva do governo federal e seus movimentos vendidos ou do governo estadual. Elas só existem hoje por conta do longo histórico de luta da Favela do Moinho e da atual resistência dos seus moradores. Sem essa luta, as migalhas seriam menores (o aluguel social, inicialmente proposto, era de R$ 800) ou simplesmente removeriam os trabalhadores da “ocupação”, como já ocorreu com tantas famílias da capital paulista.
No dia 12 de maio, revoltados com as demolições e o ataque da polícia em um local com idosos e crianças, os moradores montaram barricadas e interromperam a circulação de trens das linhas 13, 8 e 7. Outros protestos aconteceram em maio e uma campanha de denúncia foi realizada na internet. Movimentos e grupos demonstraram solidariedade frente ao covarde ataque coordenado entre os governos.
Foram dias de duro embate que demonstraram a coragem e a capacidade dos trabalhadores reagirem caso estejam organizados. Como dizia uma faixa dos moradores: a Favela do Moinho resiste!
Lições da Favela do Moinho
Mesmo após várias batalhas, a Favela do Moinho não pode, neste momento, dizer que foi vitoriosa, como cinicamente afirmam os apoiadores do governo federal para iludirem e paralisarem a resistência. A destruição da Favela, símbolo de resistência, está em curso. As conquistas parciais, como todo trabalhador sabe, não são garantias e podem ser reduzidas pelo inimigo em outra correlação de forças.
Mas o fato é que a favela lutou mais uma vez, e arrancou melhorias mesmo em contexto difícil. E essa luta, que continua, também revelou e reforçou várias lições importantes para as classes exploradas nesta conjuntura. Assim é a luta dos explorados, na maioria das vezes arranca muito pouco ou nada, mas sem ela os ataques do inimigo seriam maiores e não se acumularia experiência para avançar.
Nesta luta, mais uma vez ficou nítido o caráter de classe do governo burguês Lula-Alckmin e como este se alia a bolsonaristas sempre que for necessário para atacar os trabalhadores.
Por isso a luta dos moradores da Favela do Moinho e demais resistências no país reforçam a necessidade de uma firme posição independente frente aos governos e aos patrões. Sem ilusões, sem cair nas enrolações dos inimigos, centraremos todas as nossas forças no que realmente dá resultados e pode nos fazer um dia sair dessa vida de opressão: nossa luta e nossa organização, em prol dos nossos interesses próprios de classe!