04.09.2020
Apresentação (Cem Flores)
Ao menos desde o Manifesto Comunista, de 1848, os comunistas se veem obrigados a se defender das mais absurdas acusações das classes dominantes e dos reacionários no que se refere à moral e à conduta ética. Eles acusam, até hoje, o comunismo de ser, dentre outras barbaridades, o fim dos valores e dos princípios, sendo sinônimo de amoralidade. Com tais calúnias, tentam afastar as massas exploradas e oprimidas da perspectiva revolucionária, ao mesmo tempo em que se colocam, cinicamente, na posição de supostos defensores de valores caros às mesmas.
A resposta dos comunistas, em primeiro lugar, dá-se no combate ao idealismo na ética, demonstrando que não há valores e ideais eternos, mas sim valores e ideais concreta e historicamente determinados, e sempre relacionados à luta de classes. Sendo assim, a moral é um fator nessa luta. O Manifesto Comunista, por exemplo, nos diz:
“A história de toda a sociedade até aqui moveu-se em oposições de classes, as quais nas diversas épocas foram diversamente configuradas. Mas fosse qual fosse a forma assumida, a exploração de uma parte da sociedade pela outra é um fato comum a todos os séculos passados. Não é de admirar, por isso, que a consciência social de todos os séculos, a despeito de toda a multiplicidade e diversidade, se mova em certas formas comuns, em formas de consciência que só se dissolvem completamente com o desaparecimento total da oposição de classes. A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações de propriedade legadas; não admira que no curso do seu desenvolvimento se rompa da maneira mais radical com as ideias legadas.”
Por integrar a luta de classes, os comunistas também buscaram, ao longo de sua história, compreender o papel da moral na luta do proletariado, buscando sintetizar e desenvolver o que deve ser uma verdadeira moral comunista. De forma geral, uma moral nova, provinda da ideologia proletária e das formulações científicas do marxismo, e em luta constante com a moral das classes dominantes e com o regime de exploração que esta ajuda a reproduzir.
No discurso do III Congresso União da Juventude Comunista da Rússia, em 1920, Lenin defende não só a existência de uma moral comunista, como também sua extrema relevância para se “aprender comunismo”, tornar-se um comunista.
“Tendes que fazer, de vós próprios, comunistas. A tarefa da União da Juventude consiste em organizar a sua atividade prática de modo que, estudando, organizando-se, unindo-se, lutando, esta juventude faça a sua educação de comunista e a de todos os que a reconhecem como guia. Toda a educação, toda a instrução e todo o ensino da juventude contemporânea devem desenvolver nela a moral comunista. Mas existe uma moral comunista? Existe uma ética comunista? É evidente que sim. Pretende-se muitas vezes que nós não temos uma moral própria, e a burguesia acusa-nos com frequência de nós, os comunistas, negarmos toda a moral. Isto não é mais que uma manobra para adulterar os conceitos e deitar poeira nos olhos dos operários e dos camponeses. Em que sentido negamos nós a moral, a ética? Negamo-la no sentido que lhe dava a burguesia, que punha na base da moralidade os mandamentos divinos. A este respeito dizemos, naturalmente, que não cremos em Deus, e sabemos multo bem que o clero, os proprietários de terras e a burguesia falavam em nome de Deus para defenderem os seus interesses de exploradores. Ou então, em vez de deduzir esta moral dos preceitos da ética, dos mandamentos de Deus, deduziam-na de frases idealistas ou semi-idealistas que, definitivamente, se pareciam sempre muito aos mandamentos de Deus. Nós negamos toda a moralidade dessa índole, tomada de concepções à, margem da sociedade humana, à margem das classes. Dizemos que isso é enganar, iludir os operários e camponeses e embolar a sua consciência em proveito dos proprietários de terras e capitalistas. Dizemos que a nossa moralidade está por completo subordinada aos interesses da luta de classe do proletariado. A nossa tem por ponto de partida os interesses da luta de classe do proletariado.
A base da moralidade comunista está na luta para reforçar e levar a cabo a edificação do comunismo. Essa é a base do estudo, da educação e da instrução comunistas. Tal é a resposta à pergunta de como há que aprender o comunismo.”
Visando aprofundar essa discussão, sobretudo indicando de forma mais concreta quais valores formam essa nova moral, traduzimos trechos de Krupskaia que estão presentes em uma coletânea soviética da década de 1960 sobre a moralidade comunista. Sobre a ética comunista contém reflexões da dirigente comunista soviética do período de 1924 a 1936, todas tratando sobre aspectos da moral e da conduta pessoal dos comunistas essenciais à luta revolucionária e à construção de novas relações sociais.
Como fica nítido nas teses de Krupskaia, revolucionária que teve um relevante papel na construção de uma educação em prol do comunismo, a ética comunista se baseia em uma disciplina consciente e decidida em prol da luta proletária. Apesar de envolver sacrifícios inerentes à luta, estes não são as características predominantes. Na realidade, tal disciplina possibilita uma vida muito mais rica e superior àquela baseada na mentalidade burguesa e pequeno burguesa, individualista e mesquinha. Uma vida que não separa o individual do coletivo; o prazer do trabalho; a teoria da prática, mas sim unifica esses “opostos”. Vida na qual não vê sentido em uma suposta felicidade egoísta, mas só se torna completa na construção concreta e coletiva de um bem comum maior.
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Sobre a ética comunista
Nadezhda K. Krupskaia
Do Discurso no Sexto Congresso da Liga da Juventude Comunista Leninista Russa
12 de julho de 1924
…nós devemos tentar unir nossas vidas pessoais com a causa pela qual lutamos, a causa de construir o comunismo.
Isso, claramente, não significa que devemos renunciar nossas vidas pessoais. O Partido do comunismo não é uma seita, e tal asceticismo não deve ser defendido. Numa fábrica, uma vez ouvi uma mulher que se dirigia a sua colega de trabalho dizer: “camaradas trabalhadoras, vocês devem lembrar que uma vez que vocês entrem no partido, vocês devem abrir mão de marido e filhos.”
Claramente, essa não é a forma correta de abordar esse assunto. Não é uma questão de negligenciar marido e filhos, mas de treinar as crianças para se tornarem combatentes pelo comunismo, de arranjar as coisas de modo que os maridos tornem-se lutadores também. É preciso saber como unificar a vida pessoal e a vida social. Isso não é asceticismo. Pelo contrário, o fato dessa unificação, o fato de a causa comum a todo o proletariado se tornar um assunto pessoal, torna a vida pessoal ainda mais rica. Isso não a empobrece, isso oferece experiências mais profundas e cheias de cor as quais a vida familiar nunca poderia prover. Saber como unificar a vida pessoal com o trabalho pelo comunismo, com o trabalho e a luta do povo trabalhador para construir o comunismo, é uma das tarefas que enfrentamos. Vocês, a juventude, estão apenas começando suas vidas, e vocês podem construí-las de modo que não haja barreiras entre suas vidas pessoais e a aquela da sociedade…
Do artigo “Lenin como um Homem”
Lenin era um marxista revolucionário e um coletivista até o âmago de seu ser. Toda sua vida e trabalho foram devotados a um único objetivo: a luta pela vitória do socialismo. Isso estava impresso em todos os seus pensamentos e sentimentos. Ele não tinha nada da mesquinharia, inveja, raiva, vingança e vaidade muito comumente encontradas na mentalidade individualista pequeno burguesa.
Em luta, Lenin colocava as questões de forma ríspida; quando argumentava, ele não introduzia nada pessoal, mas abordava as questões do ponto de vista do assunto em questão, e por conta disso, camaradas dificilmente se ofendiam com suas maneiras ríspidas. Ele observava as pessoas atentamente, ouvia o que elas tinham a dizer, tentava compreender o ponto essencial, e então era capaz a partir de uma série de insignificâncias, capturar a natureza da pessoa, ele era capaz de abordar as pessoas com uma sensibilidade memorável, e descobrir nelas tudo o que era bom e de valor e que poderia ser posto a serviço da causa comum.
Eu testemunhei com frequência como as pessoas mudavam depois de um encontro com Ilyich, e por isso os camaradas amavam Ilyich e ele mesmo aprendia tanto de seus encontros com eles quanto poucas pessoas poderiam fazer. Nem todo mundo aprende com a vida, com outras pessoas. Ilyich sabia como. Ele nunca usava artifícios ou diplomacia ao lidar com as pessoas, nunca as ludibriava, e as pessoas sentiam sua sinceridade e integridade.
A preocupação com seus camaradas era uma característica dele. Ele estava preocupado com eles quando ele estava na prisão, em liberdade, no exílio, quando estava emigrando e quando ele se tornou Presidente do Conselho do Comissariado do Povo. Ele se preocupava não só com seus camaradas, mas também com completos estranhos que precisavam de sua ajuda. A única carta para mim de Ilyich que eu preservei contém a seguinte frase: “As cartas de pedidos de ajuda que às vezes chegam a você eu li e tento fazer o que for possível.” Isso foi no verão de 1919, quando Ilyich tinha preocupações mais que suficientes. A guerra civil estava no auge. Na mesma carta ele escreveu: “Parece que os brancos controlam a Criméia novamente”. Havia coisas mais que o suficiente para se ater, mas eu nunca ouvi Ilyich dizer que ele não tinha tempo, quando o assunto era ajudar os outros.
Ele sempre me dizia que eu deveria me preocupar mais com os camaradas com os quais eu trabalhava e uma vez, durante um expurgo do partido, quando um dos meus trabalhadores do Comissariado do Povo para a Educação foi injustamente atacado, ele encontrou tempo para procurar inúmeras publicações antigas com o objetivo de encontrar material confirmando que o trabalhador, mesmo antes de outubro, quando ainda era membro do Bund (partido socialista judeu), havia defendido os bolcheviques.
Lenin era gentil, algumas pessoas dizem. Mas a palavra “gentil”, vinda da antiga palavra para “virtude” dificilmente cabe a Ilyich, e é de alguma forma inadequada e imprecisa.
A falta de clareza da família ou do grupo, tão característica dos velhos tempos, era estranha a Ilyich. Ele nunca separou o pessoal do social. Com ele, tudo era uma coisa só. Ele nunca poderia amar uma mulher cuja visão diferisse da dele, que não fosse sua camarada no trabalho. Ele tinha o hábito de se apegar as pessoas. Sua relação com Plekhanov, de quem ele aprendeu muito, era típica nesse caso, mas nunca o impediu de lutar arduamente contra Plekhanov quando ele notadamente estava errado, que seu ponto de vista causava danos à causa; não o impediu de romper completamente com ele quando Plekhanov se tornou um defensor da burguesia russa na guerra.
Trabalho bem sucedido encantava Ilyich. Trabalhar pela causa era o centro de sua vida, o que ele amava e o que lhe dava forças para prosseguir. Lenin tentou se tornar tão próximo quanto possível das massas e foi bem sucedido. Sua ligação com os trabalhadores deu a ele um real entendimento das tarefas da luta do proletariado em cada estágio. Se estudarmos atentamente como Lenin trabalhou como estudioso, propagandista, homem de correspondência, um editor e organizador, nós poderemos entendê-lo enquanto homem…
Do artigo “Lenin sobre a Moralidade Comunista”
Lenin foi da geração que cresceu sob a influência de Pisarev, Shchedrin, Nekrasov, Dobrolyubov e Chernyshevsky, dos poetas democratas revolucionários dos anos sessenta. Os poetas do Iskra ridicularizaram sem misericórdia o que subsistia da antiga servidão, esfolaram a depravação, a servidão, a bajulação, as negociatas, o filistinismo e os métodos burocráticos. Os escritores da década de 1860 defendiam um estudo mais próximo da vida e revelavam as sobras do antigo sistema feudal. Desde os anos de juventude, Lenin detestava filistinismo, fofocas, perda de tempo inútil e vida familiar “separada dos interesses sociais”, que tornava a mulher em objeto, em divertimento ou em escrava submissa. Ele desprezava o tipo de vida cheia de falsidades e de fácil adaptação às circunstâncias. Ilyich gostava particularmente do romance de Chernyshevsky, “O que fazer?”; ele amava a forte sátira de Shchedrin, amava os poetas de Iskra, muitos dos quais ele conhecia de cor, e amava Nekrasov.
Por longos anos Ilyich precisou viver em imigração na Alemanha, Suíça, Inglaterra e França. Ele ia a reuniões de trabalhadores, observava de perto suas vidas, via como eles viviam em suas casas e passavam suas horas livres em cafés ou caminhando…
… No exterior, vivemos precariamente, na maioria das vezes alojados em quartos baratos, onde todos os tipos de pessoas viviam; comíamos em restaurantes baratos. Ilyich gostava muito dos cafés de Paris, onde em canções democráticas os cantores criticavam fortemente a democracia burguesa e o aspecto cotidiano da vida. Ilyich gostou particularmente das músicas de Montegus, filho de um comunardo, que escreveu bons versos sobre a vida nos subúrbios. Uma vez, Ilyich se encontrou e conversou com Montegus em uma festa noturna e conversaram muito depois da meia-noite sobre a revolução, o movimento operário e como o socialismo criaria um novo modo de vida socialista.
Vladimir Ilyich sempre associou as questões de moralidade (interna) com aquelas do mundo exterior…
… em seu discurso de 2 de outubro, 1920, no terceiro congresso da liga da Juventude Comunista, Vladimir Ilyich tratou da moralidade comunista, dando exemplos simples e concretos para explicar a essência da moral comunista. Ele disse à plateia que a moralidade feudal e burguesa é pura decepção, enganando e levando trabalhadores e camponeses ao interesse dos proprietários e capitalistas; e que a moralidade comunista deriva dos interesses da luta de classes do proletariado. Ele disse que a moral comunista deveria mirar em elevar a sociedade humana a um nível superior, se livrando da exploração do trabalho. A raiz da moral comunista reside na luta por fortalecer e finalmente atingir o comunismo. Lenin deu exemplos concretos para mostrar a importância da solidariedade, a habilidade de ter disciplina, de trabalhar incessantemente pelo que for necessário para consolidar o novo sistema social, a necessidade da gigantesca e consciente disciplina para este fim, a necessidade de forte solidariedade no cumprimento das tarefas atribuídas. Ilich disse aos jovens que era necessário que eles devotassem todo o seu trabalho, todos os seus esforços ao bem comum.
E a própria vida de Lenin era um modelo de como isso deveria ser feito. Ilich não podia viver de outra maneira, ele não sabia como. Mas ele não era um asceta; ele adorava patinar e andar de bicicleta rapidamente, escalar montanhas e caçar; ele amava a música e a vida em toda a sua beleza multifacetada; ele amava seus camaradas, amava as pessoas em geral. Todo mundo conhece sua simplicidade, seu riso alegre e contagiante. Mas tudo nele estava subordinado à uma única coisa – a luta por uma vida brilhante, iluminada e próspera de significado e felicidade para todos. E nada o alegrou tanto quanto os sucessos alcançados nessa luta. O lado pessoal dele se fundiu naturalmente com sua atividade social …
De uma carta a A. M. Gorky
1 de setembro de 1932
… Construir o socialismo significa não apenas construir fábricas gigantescas e moinhos de farinha. Isso é essencial, mas não o suficiente para a construção do socialismo. As pessoas devem crescer em mente e coração. E com base nesse crescimento individual de cada um em nossas condições, um novo tipo de poderoso coletivo socialista será formado a longo prazo, onde “eu” e “nós” se fundirão em um todo inseparável. Esse coletivo só pode se desenvolver com base em profunda solidariedade ideológica e uma aproximação emocional igualmente profunda, entendimento mútuo.
E aqui, arte e literatura em particular, podem desempenhar um papel bastante excepcional. Em Capital, Marx tem um capítulo maravilhoso, que quero traduzir para a linguagem mais simples que até os semi-alfabetizados possam entender, o capítulo sobre cooperação, onde ele escreve que o coletivo dá à luz uma nova força. Não é apenas a soma total de pessoas, a soma total de suas forças, mas uma força completamente nova, muito mais poderosa. Em seu capítulo sobre cooperação, Marx escreve sobre a nova força material. Mas quando, em sua base, a unidade de consciência e vontade surge, ela se torna uma força indomável…
Carta aos trabalhadores e às trabalhadoras das fábricas de Trekhgornaya Manufaktura
Deve ser elogiado de todas as formas o fato de a Trekhgornaya Manufaktura ter levado a sério a questão da educação das crianças. É uma pergunta altamente importante.
Recentemente, muita atenção foi dedicada à educação universal, fortalecendo as escolas e melhorando os métodos de ensino. Mas nem tudo, de longe, foi feito. Homens e mulheres que trabalham precisam se aproximar da escola para ter um interesse mais profundo em seu trabalho. Eles podem ajudar muito no trabalho de ensino e na educação comunista.
As crianças passam a maior parte do tempo fora da escola. Aqui eles estão sob a influência da rua e frequentemente de elementos delinquentes hostis. As questões relativas à organização do horário fora da escola das crianças, ao movimento dos jovens pioneiros, ao fornecimento de bibliotecas e oficinas e trabalho social para as crianças são de enorme importância. Aqui, homens e mulheres que trabalham podem fazer muito. Confio firmemente que esta discussão sobre educação escolar e extraescolar pelos trabalhadores das fábricas de Trekhgornaya Manufaktura dará um impulso a este trabalho.
N. Krupskaya
De uma carta ao Partido e aos Membros do Komsomol, o Comitê de Fábrica, a Gerência e todo o coletivo da Fábrica Clara Zetkin
1935
… A mulher hoje não é simplesmente a esposa de um homem, ela é uma trabalhadora social, ela quer educar seus filhos de uma nova maneira, ela quer que seu dia-a-dia seja reorganizado em novas diretrizes. A cada passo, ela sente que não tem conhecimento suficiente.
É necessário que em sua fábrica, que leva o nome da grande revolucionária Clara Zetkin, uma mulher que lutou apaixonadamente pela emancipação das trabalhadoras, seja uma questão de honra para todas as organizações da fábrica garantir que nem uma única pessoa permaneça analfabeta na fábrica, que toda mulher que trabalha deva se tornar mais erudita.
Não são apenas os jovens que estudam hoje; todos por quem a causa de Marx, Engels e Lenin são caros estão estudando. Todos os trabalhadores politicamente conscientes de nosso País dos Sovietes, que percorreram um caminho tão difícil de luta e se tornaram combatentes que se sacrificam e alcançaram tremendos sucessos, estão estudando muito…
Carta a um escritor iniciante
3 de julho de 1936
Caro camarada!
Parece-me que você não está no caminho certo. Se você deseja se tornar um poeta de verdade, um escritor, a quem as massas amariam e apreciariam, você tem um longo caminho a percorrer. Aqui nenhuma universidade, nenhum sindicato de escritores ajudará.
Não consigo ver em sua carta o que aflige seu coração, o que – além de sua própria carreira literária – o perturba. Quem olha com indiferença para a vida ao seu redor “da janela da carruagem do escritor” nunca se tornará um escritor de verdade. Você esteve no Instituto de Mineração, mas tem alguma ideia sobre a vida dos mineiros, sobre o estado de espírito deles? Eles são uma das principais seções do proletariado, e você não está interessado nela… até agora, espero.
Na minha opinião, você não deve fazer engenharia, você precisa de um toque diferente, um treinamento diferente.
Eu o aconselharia a ir trabalhar em uma escavação, a usar o conhecimento que adquiriu, a trabalhar lado a lado com os trabalhadores comuns, a dar uma olhada no modo de vida e nas condições de moradia. Então os temas dos poemas se tornarão realidade, e haverá algo que mexerá com você.
Muitas vezes há uma grande presunção esnobe nos escritores iniciantes – e até mesmo nos filhos dos trabalhadores, mas [isso] precisa ser completamente extirpado.
Com saudações camaradas,
N. Krupskaya