AVANÇAR NA ORGANIZAÇÃO E NA INDEPENDÊNCIA DAS MASSAS EXPLORADAS!
Cem Flores
18.09.2020
Os efeitos da crise econômica mundial, amplificados pela pandemia do coronavírus, atingiram fortemente as massas trabalhadoras de todos os países. Os quase 1 milhão de mortos no mundo, vítimas da Covid-19, são a expressão de um sistema falido, que só gera e amplia destruição e sofrimento por toda a parte, principalmente aos/às trabalhadores/as e aos/às mais necessitados/as.
A pandemia encontrou a economia mundial estagnada, com gigantescos monopólios avançando violentamente na ampliação da exploração sobre a classe operária, concorrendo entre si por áreas de expansão para seus capitais, na busca desesperada de retomar as taxas de lucro em queda. Somada à paralisia imposta pelo contágio do vírus em parte da produção e do comércio, aprofundou uma crise mundial de enormes proporções, aumentando ainda mais o impulso desses monopólios para arrancar a riqueza que os/as trabalhadores/as produzem.
Os efeitos são visíveis por toda parte: ampliação do desemprego, aumento da exploração sobre quem continua de alguma forma empregado, abjeta dependência das tais “políticas sociais” como principal (ou mesmo única) forma de renda dos/as mais pobres, ampliação da violência repressiva e ideológica contra trabalhadores/as e povos em todo o mundo, acirramento da concorrência entre blocos imperialistas. Ou seja, o avanço de toda as contradições que caracterizam a economia mundial hoje, o imperialismo em crise.
Em quase todos os países do mundo, no enfrentamento aos efeitos dessa crise, são bem semelhantes as políticas implementadas pelos Estados e organismos internacionais, aparelhos centrais para garantir a reprodução da dominação capitalista:
– recursos à vontade para salvar os monopólios, tanto o seu braço produtivo, quanto o especulativo, à custa de uma gigantesca expansão da dívida pública, aumentando a já colossal bolha de capital fictício que mais cedo ou mais tarde explodirá;
– ampliação da exploração capitalista sobre os reais produtores de valor: os/as trabalhadores/as, seja com a mudança regressiva nas legislações que regem as relações de trabalho, seja com a ampliação e a intensificação do controle e da extração de mais-valia nos processos de trabalho;
– políticas de auxílio à renda dos/as mais pobres como elemento de contenção à provável ampliação da luta proletária e, ao mesmo tempo, de estímulo ao consumo e ao movimento da economia interna desses países, com manutenção de um gigantesco exército industrial de reserva (pressionando para baixo o valor da força de trabalho);
– ampliação da concorrência interimperialista e dos elementos políticos e ideológicos que expressam esse fato (crescimento das ideologias nacionalistas e fascistas, maior agressividade política, avanço na disputa armamentista pelo controle dos espaços e das rotas estratégicas à reprodução do capital, aumento da repressão à classe operária e aos/às trabalhadores/as em geral).
A identidade dessas políticas deixa claro que, independente do gestor estatal de plantão dos interesses do capital, ao povo muito pouco muda quem seja esse governante. No capitalismo, o Estado é o comitê central da burguesia e aos/às trabalhadores/as é uma ilusão oportunista achar possível usá-lo em outro sentido, sem uma verdadeira revolução.
No Brasil, com a economia estagnada há anos, a crise econômica ampliada pela pandemia fez o PIB cair em um nível nunca antes visto no país. Os/as trabalhadores/as, que já viviam na corda bamba do desemprego, dos bicos ou dos empregos precários, da falta de estrutura básica de saúde e educação, da violência imposta pelo crime organizado (fardado ou não), da miséria rondando sempre suas portas, tiveram que enfrentar a pandemia sem sequer a ação organizada do Estado para reduzir os danos. Resultado: quase 140 mil mortos oficiais até agora (por conta da subnotificação foram muito mais).
Mas não bastasse a gigantesca violência das mortes pelo coronavírus, junto veio também a violência da estrutura de repressão do Estado, que mata mais do que nunca, a violência da redução dos salários para manter o emprego por mais alguns meses, a violência do desemprego de milhões expulsos do trabalho nesse período, a violência dos hospitais lotados e sucateados, do ensino remoto precário, das filas no INSS etc., etc., etc… Como já dissemos anteriormente: O “pacote” da burguesia e do seu Estado é um só: matar os trabalhadores de coronavírus, de fome, de exploração ou de fuzil!
Como “contrapartida” a toda essa calamidade, resultado direto do capitalismo podre em que vivemos, o Estado oferece 600 reais (agora 300!) por mês… 67 milhões de brasileiros/as e suas famílias obrigados, pela absoluta falta de alternativas, a ter que depender desse auxílio do governo. Dinheiro que é do povo, produzido pelo povo, roubado pelas classes dominantes e pelo seu Estado, e em migalhas devolvido como se fosse um auxílio deles ao nosso povo.
Esse auxílio emergencial do governo, resultado direto do pânico das classes dominantes com a possível reação de milhões de trabalhadores/as jogados na fome e na miséria, não é, e nem será, uma solução para os problemas do povo. Como também não será solução acreditar numa falsa alternativa dita “desenvolvimentista”, defensora do Estado e de um pretenso capitalismo (utópico) com distribuição de renda e melhoria social, discursos de uma “esquerda”, domesticada pelo inimigo de classe, que sempre camufla com essa conversa mole seus reais interesses eleitorais e mesquinhos.
Já vimos em várias experiências anteriores que esse papo só serve para nos enrolar. Mais uma vez, como em todas as eleições anteriores, o objetivo é levar os/as trabalhadores/as à armadilha de escolher qual posição burguesa é a melhor para nos explorar, nos desarmando enquanto classe para resistir à ofensiva burguesa. Como já dizia o Che, “não devemos confiar no imperialismo (e nem na burguesia, seus partidos e seu Estado) nem um tantinho assim, nada!”
O caminho para melhorar nossas condições de vida, trabalho, moradia passa por confiarmos em nossas próprias forças. Seremos nós, organizados em torno do enfrentamento aos problemas concretos existentes, que encontraremos as soluções necessárias. Essa maior organização e compreensão de nossos problemas nos garante arrancar do Estado as reformas possíveis e aponta no sentido de não acreditar nem um pouco no inimigo de classe para nos ajudar. O que vier de lá só virá por nossa força! Aponta ainda o horizonte que pode verdadeiramente alterar em definitivo essa podridão em que vivemos: a revolução proletária!
Nesse longo período de apodrecimento geral do capitalismo, a era imperialista, os povos de todo mundo têm dado valiosos exemplos de como devemos tratar nossos problemas e de como devemos enfrentar nossos inimigos. Mais recentemente, as manifestações contra o racismo e a violência do Estado nos EUA, as lutas dos trabalhadores como no caso da Renault e dos Correios, as ações de solidariedade e organização popular nas periferias das grandes cidades no enfrentamento dos efeitos dessa crise geral em que estamos são indicações, ainda embrionárias, do caminho proletário para as mudanças necessárias.
Em resumo, algumas lições gerais dessas lutas que servem como exemplo do caminho para conquistar nossa independência de classe:
– Confiar nas próprias forças;
– Organizar o enfrentamento dos problemas concretos existentes;
– Não depender dos falsos “representantes” da luta das massas;
– Não confiar nos instrumentos institucionais do inimigo de classe. Isso nos ajuda a saber se devemos e como devemos participar neles, além de identificar seus limites objetivos;
– Preparar-se para conhecer quem são nossos amigos e quem são nossos inimigos de classe, retirando o véu das posições burguesas que estão em nosso meio e que confundem nossa clara visão dos problemas.
E nesse processo, organizando e participando da resistência e da luta proletária e popular, reconstruir nossa ferramenta de combate: o partido comunista.
Resgatemos o lema da Internacional Comunista: façamos nós com nossas mãos tudo que a nós nos diz respeito! A independência política do proletariado, que significa lutar com nossa posição própria, é a maior conquista que nossa classe deve almejar. Sem isso, não há saída para mudar de vez a triste condição em que vivemos.
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Cem Flores
Setembro/2020