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Internacional

Che Guevara: Ser um Jovem Comunista

O Che na palestra para a União de Jovens Comunistas (UJC), em 1962.

Cem Flores

08.10.2021

Neste 8 de outubro de 2021 se completam 54 anos da queda em combate de Ernesto Guevara, o Che. O Che é um personagem múltiplo: militante e dirigente comunista, guerrilheiro, internacionalista, anti-imperialista, construtor do socialismo, teórico marxista, médico etc. Um dos maiores revolucionários latino-americanos do século 20.

Como homenagem ao Che e estímulo ao resgate e ao debate crítico de suas ideias – e também como instrumento de formação teórica e estímulo militante para a juventude comunista – o Cem Flores traduziu e publica o que achamos ser os trechos mais relevantes de seu famoso discurso de 20 de outubro de 1962, “Ser um Jovem Comunista”, pronunciado em cerimônia da União de Jovens Comunistas (UJC), comemorativa do segundo aniversário da integração do movimento da juventude revolucionária de Cuba.

Nessa palestra, o Che destaca os seguintes pontos fundamentais para nós, militantes comunistas, em especial para os jovens:

  • Buscarmos constituir a vanguarda, buscarmos ser os primeiros em tudo: para o Che, o comunista deve ser o exemplo, tanto para nossos próprios camaradas, quanto para a classe operária e a massa trabalhadora.
  • Trabalharmos cotidianamente pela Revolução, mesmo nas menores tarefas: para o Che, o comunista não se caracteriza apenas pelos grandes sacrifícios, às vezes pontuais. Além disso, o comunista precisa se dedicar às “tarefas reais e concretas”, às “tarefas de trabalho cotidiano”.
  • Compartilharmos a vida das massas trabalhadoras e aprendermos com elas: o Che destaca o trabalho dos comunistas em todos os cantos do país, a troca de experiências com os camponeses e com os demais trabalhadores. Nessas experiências, os comunistas “recebem – posso afirmá-lo – mais ainda do que dão, e o que dão é muito!”.
  • Evitarmos o sectarismo e a separação da base e das massas: essa crítica do Che está dirigida às decisões meramente formais ou que sejam meras cópias; à aceitação de decisões prontas, recebidas sem discussão. Ao contrário, é preciso ser questionador e criativo.
  • Estudarmos: além dos conhecimentos gerais, da história da luta de classes no nosso país e no mundo e da formação técnico-científica, o comunista também deve estudar (coletivamente) a teoria marxista-leninista, para sermos capazes de aplicá-la à nossa realidade concreta.
  • Termos uma grande sensibilidade para os problemas e diante das injustiças: esse espírito inconformado do comunista diante da realidade do mundo capitalista – e dos problemas da construção socialista – sempre foi uma das características marcantes do pensamento e da ação do Che.

Mesmo que a Revolução e a construção socialista estejam muito longe do horizonte das lutas de classe atuais, muito mais longe do que pareciam estar em 1962, é importante reafirmar que esse é o horizonte dos comunistas. Reafirmar não apenas nossa característica revolucionária, mas a tarefa de construção socialista, rumo ao comunismo, são temas também presentes no discurso do Che que trazemos ao debate e à crítica dos camaradas e leitores:

Assim, em um dado momento, em um dia qualquer dos próximos anos – depois de passar muitos sacrifícios, sim, depois de havermos visto, talvez muitas vezes, à beira da destruição –, depois de havermos visto talvez como nossas fábricas são destruídas e de tê-las reconstruído novamente, depois de assistir ao assassinato, à matança de muitos dos nossos e de reconstruir o que tiver sido destruído, ao fim de tudo isso, num dia qualquer, quase sem nos darmos conta, teremos criado, junto com os outros povos do mundo, a sociedade comunista, nosso ideal”.

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A tradução foi realizada a partir da íntegra do discurso Ser un Joven Comunista, publicado no livro Che Guevara Presente. Una antología mínima, editado por María del Carmen Ariet Garcia e David Deutschmann pela Ocean Sur, em 2006, páginas 168-179.

A íntegra da nossa tradução está disponível no Arquivo Marxista na Internet em português, aqui. O áudio de parte do discurso também se encontra em vídeo no youtube, com legendas em português.

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Ser um jovem comunista

Ernesto “Che” Guevara

20 de outubro de 1962

 

Queridos companheiros:

[…]

A União de Jovens Comunistas tem quase os mesmos anos da nossa Revolução, através dos distintos nomes que já teve, através das distintas formas de organização. No princípio foi uma emanação do Exército Rebelde. Daí, talvez, tenha surgido também seu nome. Era uma organização ligada ao exército para iniciar a juventude cubana nas tarefas de massas da defesa nacional, que era o problema mais urgente e o que precisava de uma solução mais rápida.

[…]

Depois, quando a Revolução foi se consolidando e pudemos nos colocar as tarefas novas que se veem no horizonte, o companheiro Fidel sugeriu a mudança do nome desta organização. Uma mudança de nome que é toda uma expressão de princípios. A União de Jovens Comunistas está diretamente orientada para o futuro. Está vertebrada com vistas ao futuro luminoso da sociedade socialista, depois de atravessar o difícil caminho em que estamos agora da construção de uma nova sociedade, no caminho da consolidação total da ditadura de classe, expressa através da sociedade socialista, para chegar finalmente à sociedade sem classes, à sociedade perfeita, à sociedade que vocês serão encarregados de construir, de orientar e de dirigir no futuro.

Para isso, a União de Jovens Comunistas levanta seus símbolos, que são os símbolos de todo o povo de Cuba: o estudo, o trabalho e o fuzil.

E suas medalhas mostram dois dos mais altos expoentes da juventude cubana, ambos mortos tragicamente, sem poderem chegar a ver o resultado final desta luta em que todos estamos empenhados: Julio Antonio Mella e Camilo Cienfuegos.

Neste segundo aniversário, nesta hora de construção febril, de preparativos constantes para a defesa do país, de preparação técnica e tecnológica acelerada ao máximo, deve-se colocar sempre, e antes de tudo, o problema do que é e do que deve ser a União de Jovens Comunistas.

A União de Jovens Comunistas tem que se definir com uma só palavra: vanguarda. Vocês, companheiros, devem ser a vanguarda de todos os movimentos. Os primeiros a estarem dispostos para os sacrifícios que a Revolução demande, qualquer que seja a natureza desses sacrifícios. Os primeiros no trabalho. Os primeiros no estudo. Os primeiros na defesa do país.

E colocar-se esta tarefa não apenas como a expressão total da juventude de Cuba, não apenas como uma tarefa de grandes massas vertebradas em uma instituição, mas como as tarefas diárias de cada um dos integrantes da União de Jovens Comunistas. Para isso, é necessário colocar-se tarefas reais e concretas, tarefas de trabalho cotidiano que não podem admitir o menor desânimo.

A tarefa da organização deve estar constantemente unida a todo o trabalho que se desenvolva na União de Jovens Comunistas. A organização é a chave que permite fortalecer as iniciativas que surgem dos líderes da Revolução, as iniciativas colocadas em reiteradas oportunidades por nosso Primeiro-Ministro [Fidel Castro], e as iniciativas que surgem no seio da classe operária, que também devem se transformar em diretrizes precisas, em ideias precisas para ação subsequente.

Se não existe a organização, as ideias, depois do primeiro momento de impulso, vão perdendo eficácia, vão caindo na rotina, vão caindo no conformismo e acabam por ser simplesmente uma lembrança.

Faço esta advertência porque muitas vezes neste curto e, não obstante, tão rico período de nossa Revolução, muitas grandes iniciativas fracassaram, caíram no esquecimento pela falta do aparato organizativo necessário para poder sustentá-las e levá-las a bom termo.

Ao mesmo tempo, todos e cada um de vocês devem ter presente que ser jovem comunista, pertencer à União de Jovens Comunistas, não é uma graça que alguém lhes concede, nem é uma graça que vocês concedem ao Estado ou à Revolução. Pertencer à União de Jovens Comunistas deve ser a mais alta honra de um jovem da sociedade nova. Deve ser uma honra pela qual lutem a cada momento de sua existência. E, além disso, a honra de manter-se e manter no alto o nome individual dentro do grande nome da União de Jovens Comunistas. Deve ser um empenho constante também.

[…]

Depois de dois anos podemos recapitular e observar quais foram os resultados desta tarefa. E há enormes conquistas na vida da União de Jovens Comunistas. Uma das mais importantes, das mais espetaculares, foi a da defesa.

[…]

O estudo, em todos os níveis, é também hoje uma tarefa da juventude. O estudo misturado com trabalho, como no caso dos jovens estudantes que estão colhendo café no [na província] Oriente, que utilizam suas férias para colher um grão tão importante em nosso país, para nosso comércio exterior, para nós, que consumimos uma grande quantidade de café todos os dias. Esta tarefa é similar à da alfabetização. É uma tarefa de sacrifício que se faz alegremente, reunindo-se os companheiros estudantes – mais uma vez – nas montanhas de nosso país para levar ali sua mensagem revolucionária.

São muito importantes essas tarefas porque nelas a União de Jovens Comunistas, os jovens comunistas não apenas dão. Recebem, e em alguns casos mais do que dão: adquirem experiências novas, uma nova experiência do contato humano, novas experiências de como vivem nossos camponeses, de como é o trabalho e a vida nos lugares mais distantes, de tudo o que é preciso fazer para elevar aquelas regiões ao mesmo nível dos lugares mais habitáveis do campo e das cidades. Adquirem experiência e maturidade revolucionárias.

Os companheiros que passam por aquelas tarefas de alfabetizar ou colher café, em contato direto com nosso povo, ajudando-o longe de seus lares, recebem – posso afirmá-lo – mais ainda do que dão, e o que dão é muito!

Esta é a forma de educação que melhor se ajusta a uma juventude que se prepara para o comunismo: a forma de educação na qual o trabalho perde a categoria de obsessão que tem no mundo capitalista e passa a ser um gratificante dever social, que se realiza com alegria, que se realiza ao som de cantos revolucionários, em meio à camaradagem mais fraternal, em meio a contatos humanos que dão vigor a uns e outros, e a todos elevam.

[…]

O avanço organizativo deve também ser considerado também como uma conquista importante da União de Jovens Comunistas.

Contudo, companheiros, neste difícil caminho houve muitos problemas, têm havido grandes dificuldades, têm havido erros grosseiros, e nem sempre temos podido superá-los. É evidente que a União de Jovens Comunistas, como organismo inferior, como irmão menor das Organizações Revolucionárias Integradas, tem que beber aí das experiências dos companheiros que mais têm trabalhado em todas as tarefas revolucionárias, e deve escutar sempre – com respeito – a voz dessa experiência.

Mas a juventude tem que criar. Uma juventude que não cria é uma anomalia, realmente. E à União de Jovens Comunistas tem faltado um pouco de espírito criador. Tem sido, através de sua direção, demasiado dócil, demasiado respeitosa e pouco decidida a colocar-se problemas próprios.

[…]

Mas é que nós, e nossa juventude como todos nós, estamos convalescentes de uma doença que, felizmente, não foi muito longa, mas que influiu muito no atraso do desenvolvimento do aprofundamento ideológico de nossa Revolução. Estamos todos convalescentes deste mal, chamado sectarismo.

A que conduziu o sectarismo? Conduziu à cópia mecânica, às análises formais, à separação entre a direção e as massas. Inclusive na nossa Direção Nacional, e o reflexo direto se produziu aqui, na União de Jovens Comunistas.

Se nós – também desorientados pelo fenômeno do sectarismo – não conseguíamos ouvir a voz do povo, que é voz mais sábia e mais orientadora, se não conseguíamos perceber as aspirações do povo para poder transformá-las em ideias concretas, em diretrizes precisas, mal poderíamos dar essas diretrizes à União de Jovens Comunistas. E como a dependência era absoluta, como a docilidade era muito grande, a União de Jovens Comunista navegava como pequeno barco sem rumo, dependendo do grande barco: nossas Organizações Revolucionárias, que estas também, navegavam sem rumo.

[…]

Essa falta de iniciativa própria se deve ao desconhecimento, durante um bom tempo, da dialética que move os organismos de massa e ao esquecimento de que os organismos como a União de Jovens Comunistas não podem ser simplesmente de direção, não podem ser algo que constantemente mande diretrizes às bases e que não receba nada delas.

Pensava-se que a União de Jovens Comunistas e todas as organizações de Cuba eram organizações de uma só linha. Uma só linha que ia desde a cabeça até as bases, mas que não tinha um cabo de retorno que trouxesse a comunicação das bases. Um duplo e constante intercâmbio de experiências, de ideias, de diretrizes, que vêm a ser as mais importantes, as que fizeram centrar o trabalho de nossa juventude.

Ao mesmo tempo, podiam ser observados os pontos onde o trabalho esteve mais frouxo, os pontos em que fraquejara mais.

Nós vemos como os jovens, quase heróis de novela, que podem entregar sua vida cem vezes pela Revolução, se os chamamos para qualquer tarefa concreta e esporádica marcham em massa até elas. Porém às vezes faltam ao seu trabalho porque tinham uma reunião da União de Jovens Comunistas, ou porque se deitaram tarde na noite anterior, discutindo alguma iniciativa dos Jovens Comunistas, ou simplesmente não vão ao trabalho porque não, sem causa justificada.

Quando se observa uma brigada de trabalho voluntário, onde se supõe que estejam os jovens comunistas, em muitos casos eles não estão. Não há nenhum. O dirigente tinha que ir a uma reunião, o outro estava doente, um terceiro não havia sido bem informado. E o resultado é que a atitude fundamental, a atitude de vanguarda do povo, a atitude de exemplo vivo que comove e empurra todo mundo para frente – como fizeram os jovens da Praia de Girón –, essa atitude não se repete no trabalho. A seriedade que deve ter a juventude de hoje para enfrentar os grandes compromissos – e o compromisso maior é a construção da sociedade socialista – não se reflete no trabalho concreto.

Há grandes debilidades e é preciso trabalhar nelas. Trabalhar organizando, trabalhar marcando o lugar onde dói, o lugar onde há debilidades a corrigir, e trabalhar sobre cada um de vocês para deixar bem claro em suas consciências que não pode ser bom comunista aquele que somente pensa na Revolução quando chega o momento do sacrifício, do combate, da aventura heroica, do que sai do vulgar e do cotidiano e, no entanto, no trabalho é medíocre ou menos que medíocre.

Como pode ser isso, se vocês já recebem o nome de jovens comunistas, o nome que nós, como organização dirigente, partido dirigente, ainda não temos? Vocês que têm que construir um futuro no qual o trabalho será a dignidade máxima do homem, o trabalho será um dever social, um prazer que o homem se dá, onde o trabalho será criativo ao máximo e todo o mundo deverá estar interessado no seu trabalho e no dos demais, no avanço da sociedade, dia a dia.

Como pode ser que vocês que hoje já têm esse nome, desdenham do trabalho? Aí há uma falha. Uma falha de organização, de esclarecimento, de trabalho. Uma falha, além disso, humana. A todos nós – a todos, acredito – nos agrada muito mais aquilo que quebra a monotonia da vida, aquilo que de imediato, de vez em quando, faz alguém pensar no seu próprio valor, no valor que tem dentro da sociedade.

[…]

Mas nós temos que defender nossa Revolução, a que estamos fazendo todos os dias. E para poder defendê-la, é necessário ir construindo-a, fortalecendo-a com esse trabalho que hoje não agrada à juventude, ou que, ao menos, considera como o último de seus deveres, porque ainda conserva a mentalidade antiga, a mentalidade proveniente do mundo capitalista, ou seja, que o trabalho é, sim, um dever, é uma necessidade, mas um dever e uma necessidade tristes.

Por que isso ocorre? Porque ainda não temos dado ao trabalho seu verdadeiro sentido. Não temos sido capazes de unir o trabalhador com o objeto de seu trabalho. E, ao mesmo tempo, de transmitir ao trabalhador a consciência da importância que tem o ato criador que realiza dia a dia.

O trabalhador e a máquina, o trabalhador e o objeto sobre o qual se exerce o trabalho são duas coisas diferentes e antagônicas. E aí é necessário trabalhar, para ir formando novas gerações que tenham o máximo interesse em trabalhar e saibam encontrar no trabalho uma fonte permanente e em constante mudança de novas emoções. Fazer do trabalho algo criador, alvo novo.

Este é talvez o ponto mais fraco da nossa União de Jovens Comunistas. Por isso hoje enfatizo este ponto, e em meio à alegria de festejar esta data de aniversário, volto a pôr a pequena gota de amargura para tocar o ponto sensível, para chamar a juventude a reagir.

[…]

Quero colocar agora, companheiros, qual é a minha opinião, a visão de um dirigente nacional das ORI, sobre o que deve ser um jovem comunista, para ver se estamos todos de acordo.

Eu creio que a primeira coisa que deve caracterizar um jovem comunista é a honra que sente por ser jovem comunista. Esta honra que o leva a mostrar para todo o mundo sua condição de jovem comunista, que não o vira na clandestinidade, que não o reduz a fórmulas, mas que o expressa em cada momento, que lhe sai do espírito, que tem interesse em demonstrá-lo porque é seu símbolo de orgulho.

Junto com isso, um grande sentido de dever para com a sociedade que estamos construindo, com nossos semelhantes como seres humanos e com todos os homens do mundo.

Isso é algo que deve caracterizar o jovem comunista. Ao lado disso, uma grande sensibilidade frente a todos os problemas, grande sensibilidade frente à injustiça; espírito inconformado cada vez que surja algo que está mal, tenha sido dito por quem quer que seja. Questionar tudo o que não se entenda; discutir e pedir esclarecimentos do que não estiver claro; declarar guerra ao formalismo, a todos os tipos de formalismo. Estar sempre aberto para receber as novas experiências, para conformar a grande experiência da humanidade, que já leva muitos anos avançando pelo caminho do socialismo, nas condições concretas de nosso país, nas realidades que existem em Cuba: e pensar – todos e cada um – como ir mudando a realidade, como ir melhorando-a.

O jovem comunista deve propor-se a ser sempre o primeiro em tudo, lutar para ser o primeiro, e sentir-se incomodado quando em alguma coisa ocupa outro lugar. Lutar para melhorar, para ser o primeiro. Claro que nem todos podem ser o primeiro, mas sim estar entre os primeiros, no grupo de vanguarda. Ser um exemplo vivo, ser o espelho onde olhem os companheiros que não pertençam às juventudes comunistas, ser o exemplo onde possam se olhar os homens e as mulheres de idade mais avançada que tenham perdido certo entusiasmo juvenil, que tenham perdido a fé na vida e que diante do estímulo do exemplo sempre reagem bem. Essa é outra tarefa dos jovens comunistas.

Junto com isso, um grande espírito de sacrifício, um espírito de sacrifício não somente para as jornadas heroicas, mas para todo momento. Sacrificar-se para ajudar o companheiro nas pequenas tarefas, para que possa assim cumprir seu trabalho, para que possa cumprir com seu dever no colégio, no estudo, para que possa melhorar de qualquer forma. Estar sempre atento a toda a massa humana que o rodeia.

Quer dizer: se propõe a todo jovem comunista ser essencialmente humano, ser tão humano que se aproxime do melhor do humano, purificar o melhor do homem por meio do trabalho, do estudo, do exercício da solidariedade continuada com o povo e com todos os povos do mundo, desenvolver ao máximo a sensibilidade até se sentir angustiado quando se assassina um homem em qualquer canto do mundo e para sentir-se entusiasmado quando em algum canto do mundo se levanta uma nova bandeira de liberdade.

O jovem comunista não pode estar limitado pelas fronteiras de um território: o jovem comunista deve praticar o internacionalismo proletário e senti-lo como coisa própria. Lembrar-se, como devemos nos lembrar, aspirantes a comunistas aqui em Cuba, que somos um exemplo real e palpável para toda a nossa América Latina, e mais ainda que para nossa América, para outros países do mundo que lutam também em outros continentes por sua liberdade, contra o colonialismo, contra o neocolonialismo, contra o imperialismo, contra todas as formas de opressão dos sistemas injustos; lembrar-se sempre que somos uma tocha acesa, de que nós todos somos o mesmo espelho que cada um de nós é individualmente para o povo de Cuba, e somos esse espelho para que se olhem nele os povos da América Latina, os povos do mundo oprimido que lutam por sua liberdade. E devemos ser dignos desse exemplo. A todo momento e a toda hora devemos ser dignos desse exemplo.

Isso é o que nós pensamos que deve ser um jovem comunista. E se nos disserem que somos quase uns românticos, que somos uns idealistas inveterados, que estamos pensando em coisas impossíveis, e que não se pode conseguir que a massa de um povo seja quase um arquétipo humano, nós temos que responder, mil vezes que sim, que sim se pode, que estamos no certo, que todo o povo pode ir avançando, ir liquidando a mesquinhez humana, como fomos liquidando em Cuba nestes quatro anos de Revolução; ir se aperfeiçoando como nos aperfeiçoamos todos dia a dia, liquidando intransigentemente todos aqueles que ficaram para trás, que não são capazes de marchar no ritmo que marcha a Revolução cubana. Tem de ser assim, deve ser assim, e assim será, companheiros. Será assim porque vocês que são jovens comunistas, criadores da sociedade perfeita, seres humanos destinados a viver em um mundo novo do qual haverá desaparecido definitivamente tudo o que é caduco, todo o velho, tudo o que represente a sociedade cujas bases acabam de ser destruídas.

Para alcançar isso é necessário trabalhar todos os dias. Trabalhar no sentido interno de aperfeiçoamento, de aumento dos conhecimentos, de aumento da compreensão do mundo que nos rodeia. Inquirir e averiguar e conhecer bem o porquê das coisas e colocar-se sempre os grandes problemas da humanidade como problemas próprios.

Assim, em um dado momento, em um dia qualquer dos próximos anos – depois de passar muitos sacrifícios, sim, depois de havermos visto, talvez muitas vezes, à beira da destruição –, depois de havermos visto talvez como nossas fábricas são destruídas e de tê-las reconstruído novamente, depois de assistir ao assassinato, à matança de muitos dos nossos e de reconstruir o que tiver sido destruído, ao fim de tudo isso, num dia qualquer, quase sem nos darmos conta, teremos criado, junto com os outros povos do mundo, a sociedade comunista, nosso ideal.

[…]

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- 08/10/2021