Retrospectiva 2019 – Cem Flores
Cem Flores
Para nós, trabalhadores, lutadores e comunistas brasileiros, o ano de 2019 será lembrado não só como o primeiro ano do odioso Governo Bolsonaro, que representa mais um passo de uma ofensiva burguesa existente há vários anos no país. Será lembrado também como um ano de importantes resistências e lutas dos dominados, seja a nível nacional, seja (e sobretudo) a nível internacional, com uma nova onda de protestos e levantes populares que percorreu países de diversos continentes.
2019 foi um ano em que, mais uma vez, as massas exploradas e oprimidas de todo mundo lutaram para sobreviver em meio à barbárie capitalista; para superar seus atuais e profundos limites políticos e teóricos; experimentaram e tentaram formas e meios para sair dessa condição. Assim, o ano que se passou nos mostrou, acima de tudo, a validade da máxima: onde há exploração e opressão, ocorrerá luta e resistência! Nem todo o imenso trabalho ideológico da burguesia e seus agentes, nem sua repressão sanguinária conseguem fazer com que as contradições desse sistema não aflorem e, em algum momento, explodam.
Defendendo o caminho da emancipação do proletariado e a construção de uma nova sociedade, a comunista, o Coletivo Cem Flores, em 2019, esforçou-se para ser um veículo de propagação dessas lutas. Buscou também colaborar com elas através da polêmica e crítica política das forças e posições atrasadas em seu meio.
Por fim, formulamos análises de conjuntura o mais qualificadas e científicas possíveis, exigindo assim, de nós, o resgate teórico e histórico dos pilares do marxismo e da política comunista. Afinal, tal é a imensa e desafiadora tarefa que nos colocamos há cerca de uma década: fazer avançar o marxismo, torná-lo de novo um instrumento atual para os dominados e suas lutas.
Abaixo, resgatamos algumas das 67 publicações do site no ano passado. Essa retrospectiva foi organizada através dos temas e debates mais relevantes a nosso ver.
Aproveitamos o momento para, mais uma vez, convidar o camarada e leitor para criticar, debater e compartilhar nosso trabalho e nossas teses. Esse também é o nosso desejo para as publicações que se avizinham nesse novo ano que se inicia. Ano no qual redobraremos nossos esforços para colaborar com as lutas que continuarão e outras que certamente virão.
Que cem flores desabrochem! Que cem escolas rivalizem!
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Governo Bolsonaro
Em maio de 2019, lançamos um livro digital com um conjunto de artigos sobre o governo Bolsonaro. Com o título O Governo Bolsonaro: Ofensiva burguesa e Resistência proletária, o livro analisa diversos aspectos de tal governo através de uma perspectiva marxista, proletária, ou seja, do ponto de vista da classe operária, dos trabalhadores, das classes dominadas.
Os artigos do livro foram publicados individualmente antes de seu lançamento, assim como foram atualizados e complementados ao longo do ano com novas postagens, das quais destacamos:
– A Conjuntura Econômica no Começo do Governo Bolsonaro: continuidade da crise do capital, estagnação e aumento do desemprego, de 24 de maio, apresenta e analisa os principais dados da conjuntura econômica brasileira, demonstrando a continuidade da crise do capital no país e os sinais claros do seu agravamento no começo de 2019. Uma parcela dessa análise foi atualizada no artigo O mercado de trabalho brasileiro hoje: a real face de sua “recuperação” para as classes trabalhadoras, de 30 de outubro.
– Aumentar a Informalidade para Aumentar a Exploração do Trabalho: a reforma trabalhista e sindical de Bolsonaro, de 19 de abril, atualiza a análise do cenário de avanço da burguesia contra os trabalhadores (continuando os governos petistas e de Temer) visando reformular o mercado de trabalho brasileiro para ampliar a exploração dos trabalhadores, tentando assim retomar as taxas de lucro e de acumulação de capital em nosso país através da redução dos salários e o aumento da exploração capitalista. Os patrões e seu governo preparam mais um ataque aos trabalhadores!, de 02 de setembro, é uma atualização sobre as ações do governo nessa esfera.
– O Governo Bolsonaro e a Ofensiva Reacionária na Educação, publicado em 17 de março, detalha a ofensiva do governo contra o sistema educacional brasileiro, buscando reformá-lo de maneira reacionária, restringindo-o e adaptando-o às necessidades políticas e econômicas da conjuntura atual de ofensiva burguesa contra os trabalhadores.
– Aumento da Opressão à População Pobre e Trabalhadora como Necessidade do Capital em Crise: programa do governo Bolsonaro, de 28 de abril, mostra o avanço neste governo das funções de violência/repressão, intrínsecas ao Estado, buscando manter as classes dominadas acuadas e amedrontadas em sua justa luta de resistência.
Restauração Capitalista na China
Desde outubro, o Cem Flores iniciou sua intervenção na atual polêmica sobre o caráter da China contemporânea, passados 70 anos de sua Revolução dirigida pelos comunistas. Nossa tese, resumidamente, é que a China hoje é um país não só capitalista, após décadas de restauração burguesa, mas tem se constituído enquanto uma força imperialista, com imensa exportação de capital para várias regiões do globo. A aparência de um “Partido Comunista”, supostamente representante da classe operária, no poder, esconde uma realidade de ampliação da exploração, opressão e desigualdade de classe, de reforço do setor privado, do sistema financeiro e das relações mercantis como um todo.
Pretendemos continuar tal debate em 2020, que já constam com as seguintes intervenções:
– A Restauração Capitalista na China: textos de Francisco Martins Rodrigues
– Debate sobre a Restauração Capitalista na China
– O Debate Bettelheim-Sweezy Sobre a Transição Para o Socialismo – 1ª parte e 2ª parte
Lutas no Brasil e no Mundo
Como dissemos acima, esse ano foi marcado por inúmeros protestos das classes dominadas no Brasil e no mundo.
No Brasil, as principais lutas ocorreram no setor da educação, com grandes atos e paralisações em todo o país, no primeiro semestre, e nas resistências mais locais, no segundo semestre, envolvendo, sobretudo, estudantes e professores. Esse setor, em todos os seus níveis, tem sido atacado diretamente pelo governo com cortes de verbas, militarização, censura e perseguição. Outras lutas também tiveram destaque no ano, como as marchas de mulheres e dos povos indígenas, em agosto, e também as paralisações de trabalhadores, como a do dia 14 de junho.
No mundo, também no segundo semestre, tivemos a greve dos caminhoneiros em Portugal, os levantes do povo equatoriano,chileno e tantos outros. Todos com as características fundamentais de protesto frente à piora contínua nas condições de vida das classes dominadas, contra as políticas econômicas (as “reformas” e tarifaços) que visam agravá-las ainda mais e, por fim, revolta contra a opressão a determinados setores sociais ou povos inteiros.
Todos esses exemplos nos indicam o caminho a seguir e reforçar; todos trazem como lição principal que é só com a luta que se pode parar a atual ofensiva das classes dominantes.
Resgate teórico e histórico da política comunista
A crise do marxismo e a hegemonia do reformismo e do oportunismo dos movimentos dos trabalhadores colocam como exigência a reconstrução da teoria e da prática comunista para a atual conjuntura. Um dos caminhos para isso é o resgate teórico e histórico da luta do proletariado enquanto uma classe independente.
Nesse sentido, no dia 12 de julho, publicamos mais uma aba no site, a de Formação, com um conjunto de textos clássicos e didáticos sobre o marxismo.
Reproduzimos ou realizamos diversas traduções ao longo do ano, algumas delas inéditas:
– Lenin: Mais uma vez sobre o Ministério da Duma.
– Louis Althusser: O “Que” de “Que Fazer?”.
– Bettelheim: Os Trabalhadores dos Países Ricos e Pobres Têm Interesses Solidários.
– Kollontai: Os Fundamentos Sociais da Questão Feminina.
Também houve traduções e textos específicos em homenagem ao Centenário da Terceira Internacional, a Comunista:
– Lenin: A Terceira Internacional e seu lugar na história.
– Manifesto do VI Congresso da Internacional Comunista.
– Teses do VI Congresso da Internacional Comunista.
Por fim, continuamos a divulgar no Brasil a obra de Francisco Martins Rodrigues, destacado dirigente comunista português, que agora possui um livro publicado no país, cujo lançamento participamos em 22 de junho.