CEM FLORES

QUE CEM FLORES DESABROCHEM! QUE CEM ESCOLAS RIVALIZEM!

Cem Flores, Conjuntura, Destaque, Nacional

Prossegue a violência brutal do capitalismo brasileiro

Protesto de moradores da Cidade de Deus (RJ) logo após o assassinato de Thiago Menezes, 13, pela polícia militar no dia 7 de agosto (fotos de Rene Silva).

Cem Flores

18.08.2023

Nas últimas semanas, um conjunto, aparentemente organizado, de operações policiais militares nas periferias de grandes cidades de vários estados do país resultou em um verdadeiro morticínio. Dezenas de assassinatos provocados pelas polícias militares, inclusive de crianças e adolescentes, tomaram as manchetes dos jornais e resultaram em protestos em algumas comunidades.

Tais fatos comprovam, mais uma vez, que a violência brutal do capitalismo no Brasil prossegue, ceifando as vidas de milhares de pessoas anualmente. Esse é o “normal” de um país formado por séculos de colonização e de extermínio de povos indígenas e escravidão dos povos negros trazidos para cá; de um país capitalista profundamente desigual, violento e racista, com enormes índices de miséria.

Tais assassinatos demonstram também a real natureza de classe burguesa, o caráter fundamental desse estado, dessa democracia e desses governos capitalistas: ser uma máquina de guerra contra as massas exploradas e de periferia, sobretudo negras, mantendo-as violentamente oprimidas como condição da exploração burguesa.


Algumas publicações sobre violência e repressão no Brasil dos últimos anos:

A repressão do estado capitalista continua a chacinar a população trabalhadora, negra e pobre, de 03.06.2022.

O genocídio das massas oprimidas pela violência e repressão do estado capitalista se agrava!, de 23.07.2021.

Além da pandemia e do desemprego, as classes trabalhadoras enfrentam ainda mais violência e repressão, de 23.10.2020.

Para a violência crescente do capitalismo brasileiro a proposta das classes dominantes é ainda mais violência e repressão!, 10.06.2019.

Aumento da repressão à população pobre e trabalhadora como necessidade do capital em crise: programa do governo Bolsonaro, 28.04.2019.


 O cenário de crises e estagnação econômica e de avanço da força política de extrema-direita, fascista, nos últimos anos, tem impulsionado o caráter repressivo do estado capitalista no Brasil, elevando sua letalidade, assim como aumentado a violência contra vários setores das massas exploradas.

 

Recentes casos do morticínio policial: uma guerra de classe!

No dia 7 de agosto, um jovem de apenas 13 anos de idade foi executado a tiros pela polícia militar na zona oeste do Rio de Janeiro. A polícia comandada pelo fascista Cláudio Castro alega ter ocorrido tiroteio no local. Mas o fato é que o jovem, Thiago Menezes, estava apenas passeando em uma moto com um amigo quando foi atingido na perna e depois executado pela polícia militar, quando se encontrava já ferido, no chão. Após a covarde execução, familiares, amigos e a população local protestaram, sofrendo também a repressão da mesma pm que tentou dispersar a massa. O caso gerou revolta e indignação nas redes sociais.

No mesmo dia, Guilherme Lucas, frentista de 26 anos de idade, comemorava seu aniversário com três amigos em um baile funk no morro do Santo Amaro, também na cidade do Rio de Janeiro. Na volta para a casa, a mesma polícia militar realizou disparos contra o carro no qual Guilherme e seus amigos estavam. Guilherme morreu no local e os outros três ficaram feridos. O trabalhador morava com sua mãe e seu filho.

Cinco dias depois, na zona norte do Rio, Eloah, uma criança de 5 anos de idade, e um adolescente de 17 anos morreram baleados após uma operação policial na Ilha do Governador. Os dois entraram no macabro número de 601 crianças e adolescentes baleados nos últimos sete anos no Rio de Janeiro. Moradores da comunidade do Dendê protestaram e, revoltados, queimaram ônibus, sendo novamente reprimidos pela pm.

Ônibus incendiado em protesto após mortes na Ilha do Governador (RJ), 12 de agosto.

Ao ver tais notícias bárbaras, quem não se lembra da pequena Ágatha, 8 anos, baleada pelo fuzil da mesma polícia militar carioca em 2019, quando estava com sua mãe, dentro de uma Kombi, no Complexo do Alemão? Ou do jovem João Pedro, 14 anos, assassinado em 2020 pela pm enquanto estava brincando dentro da casa dos primos em São Gonçalo? Ou da chacina do Jacarezinho de 2021, que matou 13 pessoas sem ficha criminal e sequer investigados pela operação policial em questão, e outras várias torturadas e executadas de forma sumária? A lista de mortos da guerra do estado capitalista contra o povo pobre, negro e trabalhador, no Rio de Janeiro, parece não ter fim.

Mas tal guerra é de norte a sul do país. No final de julho deste ano, vingando-se da morte de um policial, a polícia militar de São Paulo impôs dias de terror em Guarujá e Santos, resultando em 16 mortes, seja de pessoas com alguma passagem na polícia, seja de pessoas sem passagem alguma. Os assassinos usaram as redes sociais para comemorar a chacina, demonstrando toda sua perversidade. O governador bolsonarista, sob os cadáveres deixados por sua polícia militar, disse à imprensa estar “extremamente satisfeito”!

Entre julho e agosto, na Bahia, a polícia militar matou mais de 30 pessoas em operações na região metropolitana de Salvador. Tal polícia é comandada há 16 anos pelo PT. De 2015 a 2022, no governo de Rui Costa, atual ministro da casa civil, as mortes provocadas pela polícia baiana quadruplicaram. Em 2022, ela matou mais do que todas as polícias dos EUA, 1.464 pessoas! Já no início do governo de Rui Costa, quando a pm fez mais uma chacina, ainda impune, no bairro do Cabula, o petista disse que a polícia “é como um artilheiro em frente ao gol que tenta decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro do gol”. E é essa polícia que o PT também utilizou para militarizar inúmeras escolas civis do estado, política adotada amplamente por governos bolsonaristas nos últimos anos.

 

Violência e repressão em 2022

Por esses fatos das últimas semanas, tudo indica que 2023 será mais um ano de extrema violência no país, seguindo a tendência recente. Violência comandada pelo estado dos patrões e seus governantes, de direita e de “esquerda”.

No último relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com dados de 2022, temos um quadro geral e sistematizado da situação da violência e da repressão hoje no país.

No ano passado, foram 47 mil homicídios em todo o país, sendo 77% das vítimas negras. As regiões norte e nordeste tiveram as maiores taxas de homicídio, com destaque para os estados do Amapá, Bahia e Amazonas.

Esse gigantesco número de assassinatos, no entanto, já atingiu números maiores. De 2011 a 2017 houve um crescimento contínuo, chegando ao recorde de 64 mil assassinatos em 2017. Nos últimos quatro anos, incluindo a pandemia, essa média se estabilizou no patamar de 48,5 mil assassinatos por ano.

Segundo os pesquisadores, essa variação diz respeito a momentos distintos da atual guerra entre facções criminosas por controle de território e comércio, sobretudo entre o PCC e o Comando Vermelho. O crescimento dos assassinatos no período anterior é indício de uma intensa disputa entre essas facções. Já o atual patamar, “menor”, representa uma diminuição dos conflitos e maior domínio do PCC, que hoje possui cerca de 35 mil integrantes. Outros conflitos podem ser desencadeados a qualquer momento, com provável ampliação no número de homicídios. Tais facções e organizações criminosas possuem diversas relações com o aparelho repressivo de estado, quando não se integram a ele, como no caso das milícias, além de servirem de “força auxiliar” das classes dominantes no controle e coerção das massas exploradas.

Já a letalidade policial permaneceu nos níveis recordes no ano passado. Foram 6.429 mortes por intervenções policiais, uma média de 17,6 por dia – ou seja, uma nova chacina das pm em todo o país a cada dia! Segundo o relatório do Fórum, “negros […] chegam a 83,1% das vítimas de intervenções policiais”. Os estados com polícias mais letais foram: Amapá, Bahia, Rio de Janeiro, Sergipe, Pará e Goiás. No Amapá, em 2022, 1 a cada 3 mortes foi provocada por um policial!

Em 2012, o número de mortos pela polícia no Brasil era 2.332. Ou seja, em uma década, os assassinatos provocados por intervenções policiais aumentaram 175,7%, indicando uma repressão cada vez mais aguda por parte do estado capitalista.

A população prisional também sofreu significativa elevação nesse período. De 548 mil para 832 mil, um aumento de mais de 50%. O país se encontra hoje entre os países com maior quantidade de presos e taxa de encarceramento do mundo. Novamente, é a população negra e pobre a mais encarcerada. Inclusive, o percentual da população negra nas prisões aumentou na última década, de 60% para 68%.

Outro índice de violência que ganhou destaque no relatório do Fórum foi a de gênero e contra crianças e adolescentes. Foram quase 75 mil vítimas de estupro em 2022, mais de 200 a cada dia, o maior número já registrado. Grande parte desses estupros ocorreu contra crianças, dentro da casa das vítimas, por pessoas conhecidas. Ocorreram também 245 mil casos registrados de violência doméstica. Segundo outro levantamento do Fórum, 29% das mulheres sofreram algum tipo de violência por parte de seus parceiros ano passado. A cada minuto, 14 mulheres foram agredidas fisicamente com chutes e socos.

 

Não há solução para tal barbárie nessa sociedade. Construir nas lutas o caminho revolucionário!

Juntamente com a intensa exploração e pobreza, o capitalismo no Brasil significa para as massas exploradas enorme violência e repressão. Ano após ano, a guerra do estado capitalista contra a população trabalhadora, pobre e negra mata e encarcera mais gente. A violência e a opressão contra mulheres e crianças se intensifica, em meio ao aumento da miséria.

Às classes dominantes, é útil tal patamar de opressão, pois apenas assim sua dominação e seus lucros ficam garantidos. Portanto, será apenas com nossa luta e organização que teremos condições de resistir a tal massacre. Sem ilusões com governos e “políticas” que só servem para nos enrolar, é preciso construir o caminho revolucionário capaz de pôr fim a esse regime capitalista de exploração e opressão!

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- 17/08/2023